Todo ano eleitoral a estratégia sionista vem se repetindo: Israel provoca o Hamas para que tenha uma forma de mobilizar o medo e o ódio contra os palestinos e justificar um governo que ocupa território de modo ilegal, cerceia os direitos humanos de todo um povo e os trata de modo humilhante e degradante.
Centenas de israelenses saíram às ruas de Tel Aviv na noite deste sábado para exigir um cessar-fogo imediato na faixa de Gaza , quatro dias após o inicio da chamada Operação Coluna de Nuvem. As tensões entre palestinos e israelenses se recrudesceram nesta semana e, apenas na última madrugada, Israel bombardeou 200 alvos em Gaza e foi atingido por cerca de 60 foguetes palestinos.
Mulher palestina é carregada por soldados israelenses durante protesto na cidade fronteiriça de Nablus
_____________ PublicidadeAgora, a mobilização de reservistas do Exército israelense levanta temores de uma ação terrestre em Gaza e de uma guerra bilateral, semelhante à ocorrida entre 2008 e 2009.
Os manifestantes, que se reuniram em frente ao teatro Habima, no centro de Tel Aviv, gritavam palavras de ordem como "Somos contra a guerra eleitoreira", "Judeus e árabes se negam a ser inimigos", "Cessar-fogo já" e "Em Gaza e Sderot as crianças querem viver".
A professora de arte Dina Goldstein, de 33 anos, levantava um cartaz com os dizeres "olho por olho fará com que o mundo inteiro fique cego". "Estou aqui porque a violência não vai resolver problema algum, só vai gerar mais violência", disse Goldstein à BBC Brasil.
"É um absurdo pôr em risco a vida das pessoas, tanto israelenses como palestinos, só para ganhar mais votos nas eleições", afirmou, em referência às eleições previstas em Israel para o dia 22 de janeiro.
'Falar com o Hamas'
Para a professora de ciências politicas da Universidade Hebraica de Jerusalém, Galia Golan, em vez de bombardear a faixa de Gaza, Israel deve "falar com o Hamas". "Sabemos muito bem que, enquanto houver ocupação (de territórios palestinos), haverá violência. O caminho é, antes de tudo, terminar com a ocupação", disse Golan durante a manifestação.
"Não se pode parar os foguetes de Gaza com mais violência; essa guerra é totalmente inútil, a única maneira de resolver o problema é pela negociação", completou.
O professor de língua árabe Imad Azbarda veio da cidade de Lod para participar da manifestação e disse que "é possivel negociar, o caminho não é bombardear". O professor também vê viés eleitoral nos atuais confrontos. "Isso acontece antes de quase todas as eleições, colocando em risco a vida de inocentes para ganhar mais votos."
Ao mesmo tempo, as ruas da principal cidade de Israel estavam quase vazias, já que a maior parte da população preferiu ficar em casa, em clima de apreensão depois que grupos palestinos lançaram foguetes contra Tel Aviv pela terceira vez.
Conflito
De acordo com o governo israelense, o objetivo da operação militar em Gaza é "restaurar a tranquilidade ao sul de Israel (alvo de centenas de foguetes disparados na faixa de Gaza) e recuperar o poder de dissuasão frente ao Hamas".
O comandante da região sul do Exército, general Tal Russo, declarou neste sábado que a operação "vai continuar". O general pediu "paciência" ao público e disse que "destruir o enorme arsenal do Hamas leva tempo".
Segundo o general, uma invasão terrestre "poderá ser necessária".
Desde o inicio da ofensiva as tropas israelenses já bombardearam mais de 900 alvos na faixa de Gaza, com a participação da Força Aérea, a Marinha e a Infantaria. Os grupos palestinos - Hamas, Jihad Islâmico, Comitês de Resistência Popular e facções salafistas - já lançaram mais de 650 foguetes contra o território israelense.
A grande maioria deles foi disparada contra cidades no sul do país, mas alguns alvejaram Tel Aviv e Jerusalém. Neste sábado, o Exército israelense disse ter conseguido interceptar um míssil palestino que atingiria Tel Aviv. Os recentes confrontos já deixaram ao menos 40 mortos do lado palestino e 3 mortos do lado israelense.