Muita coisa me chamou a atenção no debate de ontem entre os candidatos Serra e Haddad.
A Primeira questão sobre segurança pública e as respostas dadas pelos candidatos para mim é exemplar de como Serra e Haddad representa dois projetos políticos.
Serra respondeu na linha do aumenta o efetivo do bate e arrebenta, ou seja propõe dobrar o número de policiais armados (que devem trabalhar em seus horários de folga, imagine o stress do sujeito!); mais efetivo da Guarda Metropolitana,mais câmeras de vigilância etc. Serra pensa a Segurança Pública como ações de Vigiar e Punir, nunca como prevenção e Serra sonega uma informação importante aos eleitores: Polícia Militar está sob ordens do governo do Estado, um prefeito não tem como aumentar ou diminuir efetivos, armá-los ou desarmá-los etc.
Haddad começa mostrando que legalmente Segurança Pública em sua atribuição restrita é função do governo estadual, mas que os prefeitos podem contribuir pra ampliá-la agindo na prevenção. Além de pensar em qualificação da Guarda Metropolitana e de um trabalho conjunto entre CET, GCM, PM, o candidato não reduz a função policial à repressão, por exemplo: a operação delegada não deve servir pra reprimir camelô; Haddad propõe a integração das três instâncias governamentais pra lidar com a questão do crack (a começar tratando-os como dependentes e não como bandidos como faz a atual administração). O candidato do PT propõe ainda a criação de um comitê gestor que possa fomentar a participação comunitária e a governança corporativa nos bairros e, finalmente, em sua fala e propostas a Segurança Pública é entendida também como prevenção: é preciso políticas públicas para os jovens, maior participação da sociedade civil nos mecanismos de controle da violência institucional etc.
Eu brincava ontem no twitter que Haddad estava lendo a minha TL, porque quando Serra fazia uma pergunta simplória, as respostas de Haddad carregadas de ironia tornavam para os eleitores ainda mais visíveis a mesmice de José Serra, a repetição de idéias gastas que a população rejeita ou um discurso completamente distante da realidade: uma cidade da propaganda eleitoral.
Em vários outros momentos do debate a comparação foi possível e a diferença entre ambos os projetos políticos ficou bastante nítida. Em educação Haddad deu um show, havia momentos que cheguei a sentir constrangimento por Serra.
Nas várias críticas que teceu ao governo Marta, o candidato José Serra faltou com a verdade, assim como quando atribuiu problemas no programa de Haddad que não existem. Mas o momento mais impressionante do caminho trilhado por Serra foi afirmar que o "PT é bom de conversa e ruim de administração".
Pensei na popularidade do presidente Lula quando deixou o governo: mais de 80% e cujo trabalho conseguiu eleger sua sucessora. Dilma que ainda não completou metade do mandato também conta com grande aprovação. Pensei na popularidade de Marta que até hoje me causa espanto ao vê-la abraçada acarinhada, ovacionada nas periferias paulistanas. Quando Marta aparece nos comícios as pessoas gritam seu nome como se fosse pop star. Pensei como temos uma mídia perversa que ajudou a cunhar em Marta um apelido que não tem fundo de verdade fora da classe média do centro expandido que vota em Serra: "Martaxa". Tal apelido, cunhado na eleição em que disputava com Kassab - o pupilo de Serra -, foi por causa da taxa do lixo (eu e a imensa maioria dos paulistanos pagávamos 6 reais mensais) ou seja, quem produzia pouco lixo pagava pouco, quem produzia mais pagava mais para que se desenvolvesse uma política de descarte e reciclagem.
O lixo ainda é um problema gravíssimo em São Paulo, sua coleta, descarte e reciclagem na administração de Kassab virou um verdadeiro horror: os catadores perdem seus galpões (na política de expulsa o pobre das áreas valorizadas pra dar lugar à especulação imobiliária) e a cidade é um grande depósito de lixo a céu aberto.
Nas periferias de São Paulo, Marta é lembrada pelo bilhete único, pelos CEUs, pelos corredores de ônibus que reduziu tempo de viagem. Ninguém em São Mateus, Guaianazes, São Miguel, Cidade Tiradentes chama Marta de 'Martaxa'. Quem só lia os jornalões aprendeu a odiar Marta e achar que seu ódio era unânime na cidade.
No debate de ontem Serra traz todo este preconceito contra as administrações petistas, mantras repetidos milhões de vezes pela direita mais reacionária do país. Eu gostaria de ver Serra fazer uma visita acompanhado de Kassab nas periferias d extremo sul e extremo leste, por exemplo. Se ele tivesse coragem (a que faltou pra enfrentar o povo do Jardim Romano que ficou mais de dois meses com suas casas embaixo d'agua e ele simplesmente sobrevoou a área), poderíamos comparar com a recepção de Marta e Haddad nos mesmos bairros.
É uma pena que Serra não tenha aceitado o convite de Haddad para discutir propostas sem baixarias. Mas Serra insistia, por exemplo, em associar José Dirceu a Haddad. Mas há como você comparar as propostas dos dois candidatos, lado a lado. Mas não esqueça de rolar a barra na coluna do Haddad porque ele tem muitas propostas para todos temas arrolados, a ponto de dois blogueiros fazerem uma brincadeira com seu adversário: "Serra, o homem sem scroll"
Para finalizar, deixo aqui um vídeo de meu amigo Enio Barroso Filho que sofre muito para se locomover nesta cidade. Ênio que tem uma cadeira motorizada (boa parte dos cadeirante não têm) mostra o quanto é falacioso o discurso da cidade fictícia das propagandas tucanas (assim como do discurso de Serra ontem no debate em relação à mobilidade e propostas para os de deficientes da cidade). Vale a pena assistir, se indignar e tomar providências, articulando-se para exigir que esta cidade tão desumana para todos, mas especialmente pouco amigável pra crianças, velhos e deficientes físicos, se transforme em algo um pouco mais acessível:
Aqui os recortes que a campanha do Haddad fez do debate na Band: ____________ Publicidade // //