Chile elimina o termo 'ditadura' dos livros didáticos: “É uma estupidez”, diz o historiador Gabriel Salazar

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Escândalo no Chile pela eliminação do termo “ditadura” dos livros escolares

La Nacion  Tradução: Victor Farinelli

o5/01/2012

“É uma estupidez”, disse o historiador Gabriel Salazar; “é um convite ao debate”, retrucou o ministro de Educação, Harald Beyer

SANTIAGO DO CHILE.- A política e a sociedade chilena foram sacudidas pela decisão do governo de Sebastián Piñera de eliminar a palavra “ditadura” dos textos escolares, em referência ao governo de Augusto Pinochet.

“É uma estupidez”, disse o historiador Gabriel Salazar, Prêmio Nacional de História de 2006 e um dos mais conceituados do país, que aliás foi preso e torturado junto com outros 30 mil chilenos durante o período, segundo um informe oficial entregue em 2011 ao presidente Piñera.

Para o ministro de Educação Harald Beyer “isso é um convite ao debate, os professores em sala de aula podem continuar a usar a palavra ditadura”.

As críticas à mudança surgiram tanto da oposição quanto de alguns parlamentares ligados ao governo, embora tenham sido rebatidas por ex colaboradores de Pinochet, como o deputado Alberto Cardemil, do partido Renovación Nacional, o mesmo do presidente.

“Os países têm que ir revisando com o passar do tempo a sua história, para dar uma versão equilibrada dos fatos”, sustentou Cardemil.

Por sua parte, o deputado comunista Hugo Gutiérrez, conhecido advogado de direitos humanos, denunciou que uma das pessoas que aprovaram a mudança era um ex agente da repressão, o general em retiro Alfredo Ewing Pinochet.

Este ex general, que não tem laços sanguineos diretos com o falecido ditador e nem está processado por crimes contra os direitos humanos, é membro do Conselho Nacional de Educação, entidade que elaborou e legitimou a modificação.

Frente a isso, o ex presidente Democrata Cristão Eduardo Frei Ruiz-Tagle (1994-2000) rejeitou o fato de que os textos escolares utilizem agora a expressão "regime militar", em lugar de "ditadura".

“Na próxima semana, vamos a recordar os 30 anos da morte do meu pai (o também ex presidente Eduardo Frei Montalva), que foi assassinado por organismos do Estado. Isso só acontece em ditaduras”, afirmou.

“O grave não é tentar somente mudar a história, no imaginário coletivo, senão também a realidade doe Chile e a realidade internacional, o Chile viveu uma ditadura brutal”, insistiu o ex presidente.

Entre os político da direita, também houveram objeções à modificação, cujo pedido de veto já reúne diversos setores.

“Não acho que por decreto se deva corrigir os livros de história. Se era usado o termo "ditadura" e agora passam a denominar "governo militar" devido a que alguns técnicos dentro de um escritório decidiram assim, não vai alterar o curso da história” disse o deputado Cristián Monckeberg, também do partido Renovación Nacional.

No Chile, durante a ditadura militar mais de 3 mil pessoas foram assassinadas e desaparecidas, segundo informes oficiais emitidos após o retorno da democracia.

Atualmente, há 700 ex militares processados, em mais de mil casos, que tramitam na Justiça chilena, 22 anos após o fim da ditadura militar. Entre eles, cerca de 250 foram condenados, mas somente 50 cumprem pena de prisão.

Durante sua campanha, Piñera manteve uma reunião com um grupo de centenas de ex-militares processados por crimes contra a humanidade, que pediram ao então candidato que encerrasse os casos.

Agência DPA .

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