Educação no Chile em debate (II)

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Por: Victor Farinelli, de Santiago do Chile para o Maria Frô

Comentei um artigo de Elaqua aqui.

Elaqua é um intelectual da Concertación num contexto histórico, entretanto uma das causas da derrota da Concertación en 2009 foi alguns concertacionistas históricos fazerem campanha para Piñera, entre eles um dos últimos sobreviventes entre os que acompanharam o Allende no dia do golpe contra La Moneda, e outros que participaram dos think tanks da direita.

Acompanho Elaqua desde que ele apareceu numa comissão criada pela Bachelet para discutir uma reforma da educação (uma comissão politicamente transversal, da qual fazia parte inclusive o atual ministro de educação da direita e gente ligada ao Ministéio de Educação do Pinochet) e depois disso ele figurou nesses think tanks organizados pela direita chilena, como os grupos Tantauco e os grupos de wrokshops em Termas de Cauquenes.

Suas ações estão ligadas a grupos de direita, embora não seja um político profissional. Se é concertacionista, suponho que seja ligado ao partido Democrata Cristão, que muitas vezes funciona como porta-voz da Igreja Católica, e nesse casso defende uma reforma da educação que não passe por restabelecer o ensino gratuito, pois como disse no texto já publicado aqui, a Igreja ganha muito dinheiro com o atual sistema, não só com os colégios católicos mas também participando em sociedade ou indiretamente ligada a colégios subvencionados. Algumas instituições ligadas à Igreja são donas ou sócias de colégios subvencionados, outros colégios são gerenciados por diretores de colégios católicos que criaram um pool prá poder ter direito a ganhar uma 'subvención', entre outras modalidades, agora não lembro de todas.

Seja como for, Elaqua é do grupo que acha que os problemas da educação chilena se resolvem somente melhorando o acesso dos pais dos estudantes a melhores créditos, sem uma reforma mais profunda, e esse grupo está lutando contra a maré, contra uma cidadania que está reunida entre Federação de estudantes (a que é presidida pela Camilla Vallejo), Sindicato dos Professores (a quem o Estado se nega a aceitar uma histórica dívida previdenciária de bilhões de pesos (milhões de reais), e as recém criadas organizações de pais de alunos.

O que o governo oferece é "educação de qualidade e melhor acesso a créditos estudantis com melhores juros", e isso, para um país onde há milhares de pais endividados para o resto da vida e com filhos sem diploma soa como uma piada. O que os estudantes pedem é "educação gratuita e de qualidade". Estão muito bem amparados por argumentos a respeito do lucro exorbitante que as escolas privadas e alguns dos estabelecimentos subvencionados obtêm anualmente. Recentemente incluíram uma petição nova, a da renacionalização do cobre (principal matéria prima do país, e motor do PIB chileno desde os tempos de Allende) para que essa verba financie a educação pública. Não sei que efeito vai ter isso no debate, porque é uma jogada mais ousada, espero que não termine por levar o movimento a querer dar saltos maiores que os das próprias pernas.

Abaixo um vídeo feito por estudantes da USACH (Universidad de Santiago) que compara a educação chilena com a de outros países por meio de relatos de estudantes latino-americanos, incluindo uma brasileira:

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