Ramón Lobo: A foxificação da realidade. Qualquer semelhança com o PIG não é mera coincidência

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A foxificação da realidade

Por: Ramón Lobo, no blog Águas Internacionales no El Pais, Traduzido para o Maria Frô por: Victor Farinelli

Existem artistas que criam a serviço de quem manda;  inclusive quando ninguém lhes manda, eles obedecem. Há outros que viajam na contracorrente; não por provocar, mas porque sua viagem é assim: livre.

Os jornalistas não são artistas, mas necessitam ser livres para que sejam úteis à sociedade. Murdoch, o imperador do jornalismo lixo, do vale tudo, o que diz "a lei sou eu", o do "ponho e tiro presidentes e  primeiros ministros", o que parecia intocável, está em sérias dificuldades. Após anos de desordem, alguém lhe disse: 'Está nu".

O semanário britânico 'The Economist', exemplo de excelência, publica um texto sobre a foxificação das notícias. Se refere ao canal estadunidense Fox News, controlado pela extrema direita americana e cujo proprietário é Rupert Murdoch. Sua função não é informar, e sim opinar; ou pior: é insultar, ladrar contra os fatos para que não pareçam ser o que são. Suas campanhas contra Obama têm um tom racista que se conecta com o racismo ambiental de seus fiéis, porque a Fox News não é um canal, é uma seita.

Nos EUA, o jornalismo lixo da Fox News não gasta dinheiro em reportagens, só necessita insultadores. É uma tentação perigosa em tempos de crise e corte de verbas. A audiência demonstra que existe uma parte da população que não exige notícias contrastadas, reais, somente desculpas para confirmar seus preconceitos, cada vez maiores.

Este tipo de meio cria borbulhas através da simulação da realidade, e a partir disso alguns líderes tomam suas decisões, invadem países.

No Reino Unido, diários do mesmo dono violam a lei, escutam, roubam a vida privada; não é só o negócio, é a notícia sensacional, a manchete desconcertante. As investigações, a policial e a parlamentar, determinarão o alcance e se esta prática incluía a chantagem para obter vantagens.

A bola de neve avança, cresce dia após dia. Caiu o diário da infâmia, demite Rebekah Brooks... Será a última porta antichamas? E nos EUA onde o FBI investiga possíveis escutas feitas à vítimas do 11 de setembro?

O diário rival, The Guardian, exemplo de bom jornalismo, é hoje esse artista que viaja na contracorrente, não por provocar, nem para vingar velhos rancores, senão porque ele é assim, é livre. O mesmo acontece com o 'The Daily Telegrah', o primeiro do gênero a estrear, e que é conservador como Murdoch, mas sem deixar de ser um jornal de verdade.

O magnata da imprensa lixo cede: se apresentará, na próxima semana, à comissão parlamentar, para dar explicações; por outro lado, contra ataca com uma entrevista no 'The Wall Street Journal', o principal diário econômico dos EUA, também de sua propiedade, um detalhe que não determina a informação. Nela, Murdoch atribui o ocorrido a "pequenos erros".

 

Ocorre com Murdoch o que sucedeu com os ditadores da Tunísia, do Egito e nas demais primaveras árabes: reverenciado em tempos de êxito, temido e odiado; mas atacado quando vem a desgraça, que é quando surgem os 'outros' adjetivos e os rasgos dos vestidos, o escândalo, o 'como é que isso foi acontecer?'.

Na Síria, onde o Bashar el Asad era chamado de presidente há até pouco tempo, e agora é classificado como ditador, também há problemas com as palavras. E com as idéias: Hillary Clinton declarou ilegítimo o regime sírio, por permitir um ataque contra sua embaixada, não por pisotear os cidadãos ou por matar civis...

Sucederá algum dia com as mãos que balançam o berço da crise econômica; hoje são chamadas de agências de rating, amanhã talvez conheçam outro qualitativo mais adequado, ou mais ajustado à realidade.

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