Elói Pietá sobre Fusão e BNDES: Deixemos que os altos dirigentes do capital privado, que crescem e enriquecem, se virem

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Este é o PT que eu conheço e em qual votei e pelo qual vou lutar para se manter dentro de seus princípios.

O que temos a ver com a fusão Pão de Açúcar e Carrefour?

Por: Elói Pietá*), no Portal do PT

7/07/2011

A marcha do sistema mundial está levando a uma concentração do capital. Aumenta a escala, pode baratear preços; mas diminui a concorrência, desbanca pequenas e médias empresas (que são as que mais empregam), revertendo depois em controle privado de preços, para chegar a um crescimento exponencial dos lucros de poucas corporações.

O presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea, Márcio Pochmann, ao comentar que quase 50% do PIB mundial é controlado por 500 megaempresas, tem dito que antes eram países que possuíam empresas, agora são empresas que tem países. Se elas quebrarem, quebram a economia de nações.

Nestes dias, assistimos por aqui a um duelo de grandes: o grupo Pão de Açúcar, de um lado, e seu sócio, o grupo francês Casino, de outro. Diz Abílio Diniz: “O Pão de Açúcar precisa crescer. Tivemos que fazer engenharia financeira extraordinária para viabilizar o crescimento dos últimos anos”. Hoje seu grupo controla gigantes do varejo: Pão de Açúcar, Extra, CompreBem, Sendas, Ponto Frio, tem participação nas Casas Bahia, e quer se fundir com outro, o Carrefour (na França, Casino e Carrefour são rivais).

Há divergências estratégicas entre os sócios. Diniz, líder do Pão de Açúcar, acha que multiplicar hipermercados é bom. Naouri, presidente do grupo Casino, julga melhor investir em pontos de venda menores. Um quer abrir para si caminhos na Europa, que estaria barata para novas aquisições; outro, que vem de lá, quer investir nos emergentes, pois acha a Europa parada. Seguem-se divergências táticas e acumulam-se disputas pelo controle dos negócios, acusações de desrespeito ao contrato, de traição, de mentiras. Há uma crise na sociedade (deles).

O BNDES ensaiou ajudar a fusão com quase 4 bilhões de reais através do BNDESPar, sua gestora de participações no capital de empresas. João Carlos Ferraz, vice-presidente do BNDES, defendeu a participação do público no negócio.

Eis a questão: o que o dinheiro público tem a ver com isso?

A única explicação para uma posição favorável seria ajudar a internacionalização de um grande grupo brasileiro. Na verdade, trata-se de um grupo franco-brasileiro. Nada contra, de nossa parte, desde que não se coloque dinheiro público de nosso país, que precisa intensamente de investimentos aqui. O BGT Pactual, um dos maiores bancos privados de investimentos no Brasil, que participa do negócio com Abílio Diniz, pode levantar na finança privada, daqui e do exterior, estes 4 bilhões que Diniz pede ao BNDES. Se for como relatam os conselheiros do negócio, de que, com os resultados estruturais e comerciais da fusão, ao final o Pão de Açúcar ganharia 6 bilhões de reais e o Carrefour mais de 2 bilhões, não faltarão financiadores privados.

A outra possibilidade aventada, de levar para fora produtos nacionais, não convence. Ela, se for vantajosa no segmento, pode ser feita pelos atores franceses Casino e Carrefour, já instalados no Brasil.

Não se divisa acréscimo de investimento novo que movimente nossa economia atendendo ao objetivo de desenvolvimento econômico do BNDES. Não se vê nesta competição interesse do consumidor brasileiro. Para ele, a concorrência permite escolher preço menor e qualidade melhor. Não nos parece saudável que esta nova companhia resultado da fusão abocanhe um terço do mercado varejista de alimentos do Brasil. Não vemos avanços para nós em inovação, desenvolvimento tecnológico e científico, que permita ao Brasil concorrer melhor na disputa entre as economias mundiais, necessidade dramática no mundo atual.

A fusão pretendida, com certeza, não vai gerar emprego. O fechamento de lojas contíguas, a integração de sistemas de logística e tecnologia, não resultará em mais vagas. A intenção de investir capital na Europa, não vai trazer empregos aqui. Além de que, a progressiva inviabilização de pequenas e médias empresas do ramo com a violenta concentração no setor, vai deixar muito trabalhador na rua.

Deixemos que os altos dirigentes do capital privado, que souberam crescer e enriquecer tanto, resolvam esta parada. Podemos até ficar na torcida. Mas vamos deixar o BNDES fora dessa, lembrando que o seu S final significa desenvolvimento econômico e Social. Não significa Societário, pois a participação societária do BNDESPar subordina-se ao Social.

(*Elói Pietá - secretário geral do PT)

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