Sarney, o grande irmão, recontando a história recente do país

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Do Professor Caio Navarro Toledo (UNICAMP), por e-mail

Para o cacique do Senado, José Sarney, o impeachment de Collor – resultado de um inédito movimento político no qual estiveram engajados amplos setores democráticos e populares – foi “apenas um acidente”. Não sendo um episódio “tão marcante” na história política brasileira, o oligarca do Maranhão impôs a retirada das fotos do impeachment de Collor do “túnel do tempo”, corredor do Senado, que resume a história do país (Império a nossos dias) em textos e imagens.

Diante de mais este gesto de escárnio e de deboche políticos, como se comportarão os partidos de esquerda no Congresso?

Visitando hoje as páginas dos dois maiores partidos de esquerda do Congresso, PT e PCdoB, verifica-se que nelas não são feitas quaisquer condenações da arbitrária decisão do presidente do Senado. (Um deles nem chega a noticiar o fato; o outro, sem qualquer comentário, reproduz a notícia de uma agência de informações.)

É aceitável que seja apagada de nossa história política um episódio no qual os setores democráticos e progressistas, momentaneamente que tenha sido, impuseram uma contundente derrota ao governo neoliberal e corrupto de Fernando Collor? Certamente o apagamento do impedimento político de um governante apenas os setores reacionários e antidemocráticos. Sabendo disso, Sarney – sob a conivência dos parlamentares progressistas – apagou o IMPEACHMENT de nossa história. (A 1a. vice-presidente do Senado é a senadora Marta Suplicy, do Diretórioa Nacional do PT).

Permanecendo calada, em nome da chamada governabilidade, a esquerda parlamentar brasileira parece protagonizar mais uma candente cena de “CRETINISMO PARLAMENTAR”.

Certamente, Sarney e seus colegas de Senado (e Câmara) não são historiadores. Infelizmente, a memória política instituída por órgãos tão poderosos quanto esses dois finda pesando muito junto à opinião pública e até junto a muitos historiadores de ofício.

Proponho que nossa entidade ANPUH proteste contra esses novos Assassinos da Memória (para usar o belo título de Pierre Vidal Naquet), cobrando deles um mínimo de compostura nessa área, que é de nossa responsabilidade profissional.

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