Este final de semana, em Manaus, participei do Primeiro Encontro de ativistas digitais do Amazonas. Cerca de 130 participantes, majoritamente jovens universitários, estiveram presentes no sábado, durante todo o dia, para debater a democratização da comunicação e a luta pela banda larga de qualidade, rápida e acessível a todos.
Detalhe do Auditório da Uninorte no início da manhã do 1º Encontro de Ativistas Digitais do Amazonas.
Em nenhuma região do Brasil faz tanto sentido a bandeira Banda Larga é um direito seu: Manaus é a capital do estado que é o 4º PIB da economia brasileira e os serviços de internet e telefonia são sofríveis. Eu passei o final de semana em Manaus e mal consegui abrir o mail na conexão oferecida pelo hotel.
Conversando com engenheiros, empresários paulistas, paranaenses, que disputam espaço com os chineses - cada vez mais presentes no estado atrás das isenções fiscais oferecidas pelo governo no território amazonense - (vocês sabiam que em Manaus está sediada a maior fábrica de monitores do mundo e ela é de origem chinesa?) percebemos que as teles no Amazonas são incapazes até mesmo de atender ao interesse do Capital, quem dirá ao direito de comunicação dos cidadãos.
Daniel Dias (@Daniel_manauara) paga 120 reais mensais por um 3G cuja conexão não lhe permite sequer ver o gmail com todos os recursos (só html básico), quem dirá ver vídeos ou produzi-los.
Blogar, vlogar em Manaus (imaginem em cidades afastadas da capital que até bem pouco, sem o "Luz para Todos", deixava grande parte da população sem acesso à energia elétrica) é um desafio diário. É o que heroicamente faz o Weverton (@wevertongn5), o garoto que fez uma onda na rede em protesto ao Restart a ponto da banda desistir do show em Manaus. Aqui o comentário da banda que gerou o protesto dos amazonenses, o Weverton e o grupo Game Over Ignorância iniciaram uma campanha que pautou a grande mídia (embora a pauta inclinou-se muito mais a limpar a barra da banda e não ouviu o grupo Game Over Ignorância). Mesmo assim a polêmica prosseguiu na rede, obrigando a banda Restart a pedir desculpas aos amazonenses. Não adiantou, como vocês podem ver na comemoração do Weverton ao comunicar o cancelamento do show do Restart em Manaus.
Durante o encontro conheci Pe. Anselmo Dias, representante da Pastoral de Comunicação (Pascom). Pe. Anselmo pôs os pingos nos is e argumentou sobre a necessidade de nos mobilizarmos pra que efetivamente o Plano Nacional de Banda Larga seja de qualidade e universal.
À tarde grupos de trabalho discutiram estratégias de luta para a democratização da comunicação no Brasil e aprovaram em plenária um documento que insere o Amazonas na luta pela inserção do estado no PNBL.
Eu havia estado em Manaus em 1989, alguns dos meninos e meninas com quem conversei nem tinham nascido ou eram bem pequenos como o Anderson Bahia, um dos organizadores do evento. Voltar a Manaus, nesta semana de tantas derrotas, serviu-me para receber uma carga de ânimo ao ver tantos jovens interessados, comprometidos e mobilizados para lutar por um direito de todos.
O Amazonas é tão rico culturalmente, num breve passeio pelo centro de sua capital, no final da tarde de sábado e na manhã de domingo, além da beleza arquitetônica de seu patrimônio neoclássico - herança da riqueza da borracha - muitos dos quais restaurados, pude ver um espetáculo a céu aberto na área externa do Teatro Amazonas, o projeto Circo na Praça no parque do estado, uma pré-virada cultural em outra praça do centro histórico da cidade e um ensaio do Caprichoso para o festival de Parintins, obrigada @AnaluVieiraC, @Angelicakarlla, @andersonsouzaam, @CleberOFerreira pelo convite, pela carona, por todas informações sobre a festa e pela adorável companhia :). Teatro Amazonas, foto de Anderson Bahia.
Chegamos um pouco depois da 17H no Teatro Amazonas que já estava fechado pra visitação, lamentei em voz alta: "segunda vez, em 22 anos que não consigo conhecer as dependências do Teatro!" O funcionário ouviu, me chamou e me deixou fazer uma visita relâmpago.
Depois andando pelo calçadão do entorno do Teatro Amazonas diante de um belíssimo espetáculo a céu aberto e um público de 'gente diferenciada' sentado nas calçadas com direito até de um mendigo curtindo o espetáculo bem tranquilamente, senti inveja do privilégio de se viver em uma cidade com menos de 2 milhões de habitantes, de poder andar tranquila sem medo de assalto, de respirar história em tudo que e canto. Percebi que o Restart e seu preconceito contra os amazonenses (como todo preconceito) é fruto de imensa ignorância. Mas é difícil deixar o restante do Brasil menos ignorante em relação ao Amazonas e outros estados da região Norte se o Brasil de Brasília, do Sul/Sudeste isola a região Norte ao não exigir das teles um serviço de qualidade na telefonia e acesso à Internet.
Os brasileiros de Manaus e do restante da região Norte estão apartados do direito ao acesso a uma banda larga de qualidade e nós, brasileiros do restante do Brasil, também perdemos. Deixamos de conhecer a maior região brasileira, sua cultura, sua história, sua diversidade e tanta beleza que ela tem para nos oferecer, deixamos de nos comunicar, trocar, partilhar conhecimento, vivemos em vários bolsões brasileiros sem nos conhecer e aprender uns com os outros.
Para ver um pouquinho da beleza que nós aqui do Sudeste estamos apartados, visite os álbuns no Facebook: aqui, aqui e aqui
Para ver os vídeos aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
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