Brighton dá adeus aos policiais apaixonados de Banksy[1]
The Guardian, UK, Tradução: Vila Vudu
21/4/2011
Durante anos, o graffiti de Banksy lá ficou, como gesto de pouco caso contra o mundo da arte convencional, soco no nariz da homofobia e medalha de honra no peito do espírito não-conformista dos habitantes de Brighton. Agora, oito anos depois de serem pintados numa parede externa do pub Prince Albert, “os policiais apaixonados” de Banksy estão às vésperas de serem embalados, metidos num navio e postos à venda nos EUA.
Fonte da Imagem: Flickr de trailerfullofpix
O graffiti, que mostra dois policiais unidos em abraço e beijo apaixonados, converteu-se em lugar de peregrinação para os amantes do artista cuja identidade é desconhecida[2], e ponto de parada obrigatória dos turistas que visitam Brighton. Mas, depois de ter sido várias vezes atacado por vândalos, o proprietário do pub decidiu vender o original através de uma galeria de arte de New York por valor estimado entre 500 mil e um milhão de libras.
“Quando foi pintado na parede do pub, pertencia ao pub. E se foi vendido, o dinheiro é do pub” – disse o proprietário Chris Steward. “Anda difícil manter o pub. O dinheiro da venda será muito bem vindo”.
Como tantos dos grafittis de Banksy, todos pintados pelas ruas, os policiais apaixonados têm longa e interessante história. Um advogado de Banksy tentou obter autorização do pub, mas o proprietário ficou sem saber o que fazer. “Meu primeiro pensamento foi ‘ah, não, nada disso’, Steward admite. “Achei que só arranjaria confusão.” E Banksy pintou sem autorização. O grafitti lá ficou. Quando viu uma viatura parar em frente ao pub e vários policiais se aproximarem do graffiti, Steward conta que temeu o pior. “Não entendi o que estava acontecendo. Os policiais pararam, desceram a viatura e aproximaram-se. Mas era só para fotografar. Foi ótimo!” – conta.
Mas o grafitti também atraiu outro tipo de atenção. Duas semanas depois de feito, dois homens foram flagrados pelas câmeras da CCTV, cobrindo ografitti com tinta preta. Foram presos e condenados a pagar multa de 40 libras. Mas, pouco depois, o grafitti foi novamente vandalizado. Depois de vários ataques, Steward decidiu que, para ser preservado, o grafitti teria de sair dali.
Em 2008, uma empresa especialista em restauração de obras de arte usou produtos químicos e conseguiu copiar a imagem e transferi-la para uma tela. E o original foi substituído, na parede do pub, por uma cópia, protegida por material transparente. “Não acho que estejamos enganando o público”, disse Steward. “Talvez não seja 100% original, mais ainda é 80% um Banksy. É como se outra pessoa usasse os mesmos stencils.”
O Blog Brighton Argus anda cheio de vozes que protestam contra a venda do trabalho, que deve acontecer no próximo verão, na galeria Keszler em New York. Morador da cidade, alguém que assina “Morpheus” mostra-se preocupado com as repercussões: “Se isso continuar, a prefeitura ainda vende a bandeira da cidade, para arranjar algum dinheiro” – escreveu ele. Outros estão ainda mais indignados: “É vandalismo arrancar uma obra de arte da parede” – escreveu Sean Jenkins.
Para Lindsay Alkin, diretora da galeria Art Republic em Brighton, das primeiras a vender outros trabalhos de Banksy, a venda é um golpe contra o patrimônio cultural de Brighton. “O que Banksy faz na rua deve permanecer na rua” – disse ela. “É parte da cultura local, como se estivesse numa galeria aberta, pública. E agora, o perdemos.”
Steward conta que várias vezes tentou entrar em contato com o artista, sem conseguir. Mas acha que, se consultado sobre a venda, Banksy pouco se importaria. “Acho que ele diria ‘é, essas coisas são assim mesmo’.”
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[1] Para saber quem é Banksy ver “Num mundo sem regras, o artista que quebra todas as regras”, filme autobiográfico.
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