Miguel do Rosário, enquanto este telegrama estava sendo traduzido, publicou no Gonzum: Marina era a grande aposta de Serra, uma análise do mesmo documento. Farei, portanto, breves comentários.
Os leitores que se derem ao trabalho de ler este telegrama identificado com o número 24, disponível aqui, possivelmente chegarão às seguintes conclusões:
1) Serra e sua vaidade sem limites fez o maior estrago ao seu partido. Aécio também.
2) O PSDB é um partido de surdos. É impressionante como seus políticos permitiram que o 'desejo' falasse mais alto que a política nua e crua. E mesmo com Aécio dizendo com todas as letras que não aceitaria ser vice de Serra, eles persistiram na idéia.
3) Chamar Merval e Mainardi de jornalistas é afronta a qualquer jornalista. O nível de submissão desses dois não tem exemplo até o momento, a não ser que encontremos um cablegate que narre reunião entre tio Reio ou Noblablá com Serra e sua trupe, ai a gente mede o nível de fidelidade canina desses 'colonistas' da Veja e de O Globo.
4) A promiscuidade existente entre estes 'colonistas' e o PSDB é gritante. Mainardi escrevia suas colunas ditadas por Serra!
5) Como no telegrama anterior a subserviência dos 'colonistas' da mídia velha à política dos EUA também não tem limites. Pergunto: qual o interesse de Mainardi e Merval encontrarem-se com representantes do governo dos EUA? Volto a insistir: Obama, assine Caras, você economizará um bom dindim e ficará melhor informado.
6) A quem Marina Silva serviu nesta eleição. As análises da militância petista estavam corretas.
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WikiLeaks 24) CABLEGATE DE HEARNE 246840/ 2/2/2010 19:13/ 10RIODEJANEIRO32/ Consulate Rio De Janeiro/ NCLASSIFIED//FOR OFFICIAL USE ONLY Excertos dos itens “não classificados/para uso exclusivamente oficial” do telegrama 10RIODEJANEIRO32.
A íntegra do telegrama não está disponível.
ASSUNTO: Ideias sobre possíveis candidatos a vice-presidente para José Serra
RESUMO. 1. (SBU) Observadores políticos e atores do PSDB no país entendem que há possibilidade de candidato do PSDB à presidência (na dianteira, nas pesquisas de intenção de voto) convidar a candidata Marina Silva, do Partido Verde, para sua chapa, como vice-presidente. Embora pareça pouco provável, nesse ponto, que Marina Silva aceite esse papel, muitos creem que, pelo menos, ela apoiará Serra num eventual segundo turno contra a candidata do PT Dilma Rousseff. Apesar de a hipótese Marina não estar descartada, analistas do PSDB veem, como cenário mais provável, que o governador de Minas Gerais, Aecio Neves (PSDB) venha a completar a chapa com Serra, como candidato à vice-presidência, apesar de Neves já ter declarado publicamente que concorrerá ao Senado. Mas, com a vantagem de Serra encolhendo nas pesquisas recentes, ressurge a especulação de que Serra possa renunciar a favor de Neves como candidato do PSDB. Até aqui, Serra é o candidato mais provável, e muitos dos nossos interlocutores declararam que uma chapa Serra-Neves seria o melhor caminho para Serra enfrentar com chances de sucesso os esforços do presidente para traduzir sua popularidade pessoal em votos para Dilma Rousseff, na sucessão. FIM DO RESUMO.
NO RIO, ANALISTAS DISCUTEM ALTERNATIVAS PARA A VICE-PRESIDÊNCIA
2. (SBU) Em almoço privado dia 12 de janeiro, o importante colunista político da revista Veja Diogo Mainardi disse ao cônsul dos EUA no Rio de Janeiro que a recente coluna [de Mainardi] na qual propõe o nome de Marina Silva como vice-presidente na chapa de Serra foi baseada em conversa entre Serra e Mainardi, na qual Serra dissera que Marina Silva seria a “companheira de chapa de seus sonhos”.
Naquela conversa com Mainardi, Serra expôs as mesmas vantagens que, depois, Mainardi listou em sua coluna: a história de vida de Marina e as impecáveis credenciais de militante da esquerda, que contrabalançariam a atração pessoal que Lula exerce sobre os pobres no Brasil, e poriam Dilma Rouseff (PT) em desvanagem na esquerda, ao mesmo tempo em que ajudariam Serra a superar o peso da associação com o governo de Fernando Henrique Cardoso que Dilma espera usar como ponto de lança de ataque em sua campanha. Apesar disso, Mainardi não acredita que Marina associe-se a Serra, porque está interessada em fixar sua própria credibilidade, concorrendo, ela mesma, à presidência. Mas Mainardi disse que crê – como também Serra – que Marina Silva pode bem vir a apoiar Serra num eventual segundo turno contra Dilma.
3. (SBU) Em plano mais realista, Mainardi disse ao cônsul que o governador de Minas Gerais Aecio Neves dissera a Mainardi, no início desse mês, que Neves permanecia “completamente aberto” à possibilidade de concorrer como candidato a vice, na chapa de José Serra. (Nota: Dia 17/12/2009, Neves declarou oficialmente encerrada a discussão sobre sua pré-candidatura à presidência e mostrou interessem em concorrer como vice-presidente [referido em outro telegrama. FIM DA NOTA).
Apesar das declarações públicas de que concorrerá ao Senado, Mainardi disse que Neves planeja esperar um cenário no qual o PSDB, talvez à altura do mês de março, convide Neves para compor a chapa, com vistas a aumentar a chance do partido contra Dilma. As ambições pessoais de Neves e seu desejo, intimamente ligado àquelas ambições, de não atrapalhar o PSDB nas próximas eleições, levariam Neves a compor a chapa, ao lado de Serra – na opinião de Mainardi.
É a mesma opinião de Merval Pereira, colunista do jornal O Globo, o maior do Rio de Janeiro, que se reuniu com o Cônsul dia 21/1. Pereira disse ao cônsul que tivera uma conversa com Neves na véspera, na qual Neves dissera estar “firmemente comprometido” a ajudar Serra fosse como fosse, inclusive como vice-presidente, na mesma chapa.
Na opinião de Merval Pereira, uma chapa Serra-Neves venceria. Pereira disse também acreditar que não só Neves aceitará a vice-presidente de Serra, mas, também, que Marina Silva também apoiaria Serra num eventual segundo turno. (...)
Visões de São Paulo
6. (SBU) [Nem precisa traduzir tudo: todo o PSDB de São Paulo, incluindo o Verde mais tucano – “o secretário de esportes de São Paulo, Walter Feldman” (...) “PSDB Sao Paulo State PSDB President and Federal Deputy Antonio Carlos Mendes Thame” e “Sao Paulo Municipal Secretary of Government and local PSDB insider Clovis Carvalho” –, todos, “disseram ao Cônsul que Neves é a escolha preferencial dos líderes do Partido para a vice-presidência, com Serra”. E todos , “manifestaram confiar que Neves aceitaria a convocação do Partido”. Todos “enfatizaram que o PSDB tem de vencer nos estados de Minas Gerais e São Paulo, para chegar à presidência e que o melhor meio para conseguir isso é unir Serra e Neves numa mesma chapa”].
Em separado, Bolivar Lamounier, co-fundador do IDESP, Sao Paulo Institute for Economic and Political Studies (IDESP), e Ricardo Sennes, Director de assuntos internacionais da empresa Prospectiva Consultoria Brasileira disseram ao Cônsul que acreditam que Marina Silva manterá sua própria candidatura, mas, num segundo turno, apoiará Serra, depois de ter “queimado as pontes” ao deixar o PT.
VISÕES DO PSDB EM BRASÍLIA
7. (SBU) [Também nem precisa traduzir tudo: Todo o PSDB em Brasília preferem “chapa pura”: “os senadores Eduardo Azeredo (Minas Gerais) e Alvaro Dias (Parana) disseram ao embaixador em Brasília que preferem ter o PSDB com chapa pura e disseram que há alta possibilidade de que aconteça.” (...) “o Deputado Federal de Pernambuco e vice-líder do PSDB na Câmara de Deputados Bruno Araujo disse que é pouco provável que Serra aceite candidato do DEM, sugerindo que a sempre decrescente popularidade do DEM oferece pouco a ganhar, a Serra, numa chapa ‘mista’, mesmo no nordeste, onde o DEM tem a maioria dos seus votos. Em conversa com o embaixador, essa semana, dois altos membros do PSDB reconheceram que Serra tem muito interesse em ter Marina Silva na chapa. Mas disseram que Marina Silva seria a última opção para minoria significativa no Partido, sobretudo no Rio e em São Paulo. Nenhum dos dois acredita que Marina Silva aceite o convite, mas mostraram-se otimistas quanto a obter o apoio dela no segundo turno.
(...) COMENTÁRIO
10. (SBU) Dados a recente subida de Dilma nas pesquisas, a inabalável popularidade de Lula e o tempo que ainda falta até a convenção do PSDB em junho, os fatos que determinam quem Serra terá como vice ainda são fluidos, e nem Serra pode saber com certeza quem será o melhor candidato. As últimas pesquisas mostram diferença de um dígito entre Serra e Dilma, e já há boatos, outra vez, de que Serra pode desistir em favor de Neves, se achar que a disputa estará apertada demais no final de março. Ainda assim, Serra é o candidato mais provável e segue a procura pelo melhor vice. Uma vez que a possibilidade de uma chapa Serra-Marina é pequena, e que é pouco provável uma coalizão PSDB-DEM, os indicadores, hoje, sugerem que haverá chapa “pura”, do PSDB. A ambição de Neves, seu “star power” e sua lealdade ao partido tornam altamente provável uma chapa Serra-Neves, apesar de Neves, publicamente, dizer o contrário.
A popularidade de Aécio Neves no Nordeste (base de poder de Lula) e os votos que Neves traria para Serra em Minas Gerais, segundo colégio eleitoral do país, imporiam pesado desafio contra os esforços de Lula para coroar Dilma como sua sucessora. FIM DO COMENTÁRIO. HEARNE