Por: Victor Farinelli 09/03/2011
No fim da tarde de terça-feira, Freddy Quiñones, um trabalhador equatoriano residente no Chile andava de bicicleta pelo centro de Santiago quando, ao passar em frente ao Palácio de La Moneda, comete um erro e atravessa no farol vermelho.
Uma infração que não causou maiores transtornos e que poderia ser punida com uma simples multa, mas os Carabineros de Chile (espécie de policia militar chilena) acharam que era prá muito mais. Quiñones é negro, foi detido e humilhado em plena rua, num dos pontos de maior movimento da cidade.
Uma cena medieval em pleno Século XXI. O equatoriano é algemado pelos pés e pelas mãos. É levado pro camburão (os do Chile também tem um pouco de navio negreiro) sob gritos indignados das pessoas, uns atacando absurdo e explícito racismo nos policiais, outros tentando alentar e aconselhar o injustiçado ciclista. As cenas foram divulgadas pelo semanário chileno de humor político The Clinic, que divulgou também uma nota os Carabineros de Chile, onde apenas dizia que a instituição "não discrimina as pessoas por sexo, raça, religião ou condição social".
Quem conhece a história de repressão dos Carabineros contra os povos originários mapuches no sul do Chile sabe que isso não é verdade. O racismo dos Carabineros contra os mapuches é prova contundente dos abusos cometidos pela instituição. Casos de crianças mapuches desaparecidas, líderes mapuches torturados e mortos, entre outros abusos, são coisa de toda semana. Ademais, tanto o atual governo neopinochetista quanto a anterior aliança de centro-esquerda volta e meia aplicam contra os mapuches a chamada Ley Antiterrotista: um instrumento deixado pela ditadura do Pinochet, mantido desde então, que permite ao Estado prender sem razão aparente e julgar os réus pela justiça militar, entre outros absurdos, e prá acionar isso basta alegar suspeita de terrorismo, justificada ou não, não importa.
A infração cometida não mereceria mais que uma multa em qualquer lugar do mundo, e no Chile, pela lei, não decveria ser diferente. Mas foi diferente, porque Quiñones não foi preso, algemado e humilhado por ter cruzado no sinal vermelho, o que seria ridículo. Quiñones foi preso, algemado e humilhado por ser negro, o que é imensamente mais ridículo.