A primeira vez que vi menção ao vídeo do Vacarezza foi num dos comentários de um post meu no blog da mulher no Viomundo.
Prestem atenção na sacaneada da manchete do R7 : Cândido Vaccareza diz que dinheiro do Bolsa Família vai ser usado em bebida alcoólica. Trocar a expressão 'pode até ser usado' (efetivamente dita por Vacarezza e repetida por Celso Freitas no Jornal da Record) por "vai ser usado" já é em si uma forma de escandalizar a fala do líder do governo na Câmara e desmoralizá-lo diante do governo, do seu partido, da militância, do público em geral além de reforçar os preconceitos contra o programa Bolsa Família.
A fala exibida no vídeo não foi editada, ele de fato usa o exemplo infeliz da compra de cachaça como um motor da economia, entretanto quem viu o Jornal da Record ou o vídeo no R7 não fica sabendo o contexto em que tal frase foi dita, porque ela foi dita.
Duas matérias explicam o contexto da fala: aqui e na que reproduzo abaixo (os grifos são meus).
Prestem atenção na foto escolhida pelo O Globo para identificar o deputado. Ao fundo o símbolo do PSDB. Nada é gratuito em uma matéria. Assim, mesmo esclarecendo o contexto da fala de Vacarezza, O Globo encontrou uma forma de associá-lo aos tucanos.
Vaccarezza diz que Bolsa Família é bom até para quem compra cachaça
Por: Cristiane Jungblut, em O Globo
01/03/2011 às 19h46BRASÍLIA - O líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), criticou nesta terça-feira a oposição por nunca ter "entendido" a intenção do programa Bolsa Família. E, ao falar que a oposição criticava o programa alegando que as pessoas gastavam os recursos até em cachaça, Vaccarezza acabou dizendo que o programa é bom para a pessoa ter acesso até mesmo à cachaça. ( Leia também: Bolsa família terá reajuste médio de 19,4% ).
- Esse dinheiro não tem nenhuma intermediação política. O cidadão compra pão para sua família, os gêneros de primeira necessidade. Eles (oposição) brincavam, inclusive, que o cara ia lá e comprava cachaça, que o chefe de família comprava cachaça. Não vamos incentivar isso. Mas mesmo que uma família dessas compre uma garrafa de cachaça por mês são 11 milhões, ou 12 milhões de garrafas de cachaça. Isso ajuda toda a economia. E como se cada uma comprar uma garrafa de água: são 12 milhões de garrafas d´água. Então, infelizmente a oposição não entendeu o Bolsa Família e continua a não entender - disse Vaccarezza.
Na verdade, durante a discussão do salário mínimo, foi o presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), que criticava o fato de o governo não dar aumento real e que o "arredondamento" de R$ 5 - de R$ 540 para R$ 545 - não dava nem para "comprar duas cachaças".
Já a oposição disse que o anúncio do aumento do benefício foi uma forma de anular a repercussão negativa dos cortes em áreas sociais e no programa habitacional "Minha Casa, Minha Vida" e do fato de o salário mínimo ter ficado sem aumento real (acima da inflação).
- A presidente quis arrumar uma boa notícia para tentar neutralizar a repercussão da gastança herdada do governo petista anterior-, disse o líder do PSDB na Câmara, deputado Duarte Nogueira (SP), segundo a assessoria.
Podemos ter muitas críticas ao líder do governo na Câmera, sua defesa ao novo Código Florestal é uma delas, mas não dá para se aproveitar de falas retiradas do contexto para literalmente sacaneá-lo. Isso não é jornalismo.
Ao Vacarezza fica uma lição: ter mais cuidado nas imagens que usa para defender as políticas do governo. Poderia ter dito, por exemplo, que, na maioria dos programas sociais criados no governo Lula, a pessoa titular é a mulher. No caso do Bolsa-Família são as mães que administram a conta da família beneficiária e que dificilmente irão usar o dinheiro de sua família pra comprar cachaça. Há pesquisas que mostram que o empoderamento feminino por meio do Bolsa Família tem, inclusive, diminuído a violência doméstica. A professora Marilena Chauí, no vídeo abaixo, chama atenção para isso. A própria presidenta deixa bem clara esta relação do programa Bolsa Família e as mulheres, aqui. Portanto, Vacarezza, todo cuidado é pouco quando temos um jornalismo adepto da escandalização.