Dilma e a ‘Operação doçura’ na mídia velha
Por Conceição Oliveira do Blog Maria Frô, twitter: @maria_fro, no Blog da Mulher
Nas últimas semanas é de fato impressionante a ‘operação transformação‘ ocorrida na mídia velha em relação ao tratamento dado à imagem e à história de Dilma Rousseff. Para avaliar o tamanho da mudança, recordemos alguns breves episódios:
Folha e as ‘acusações de futuro’
A gama de adjetivos detratores que a então ex-ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, recebeu quando a velha mídia entendeu que ela seria a candidata à sucessão de Lula foi imensa. Desde 2009 pelo menos os ataques foram constantes: ‘terrorista’ com direito até a publicação em primeira página de spam produzido em blog de extrema-direita pela Folha de São Paulo; ‘princesinha nórdica‘ como gostava de repetir o ex-presidente FHC, ‘poste’, ‘imunda‘, ‘abortista‘, ‘assassina de criancinhas’, ‘lésbica’ (como se isso fosse um defeito grave) e ainda por cima ‘infiel’ e outros termos, somados a calúnias e factóides repetidos exaustivamente por políticos demotucanos, reverberados na mídia velha e retro-alimentados pela TFP, passando pelo Pró-vida, por Mônica Serra, mulher do candidato José Serra…
Tais calúnias e preconceitos de toda ordem inundaram a Internet nos blogs de extrema-direita oficiais e oficiosos, redes sociais, e-mail e foram materializados em panfletos colados em porta de igrejas, supermercados, postes nas ruas…
Durante a campanha, o jornal Folha de São Paulo fez até ‘acusação de futuro’ contra a candidata Dilma Rousseff. Ela respondeu as acusações denominando o jornal e a matéria de: “parciais, enviesados, escandalosos e de má-fé”:
Nem após a vitória de Dilma Rousseff sobre José Serra o jornal Folha de São Paulo, a revista Veja e afins lhe deram folga: dia 1 de novembro várias manchetes estampavam a ‘denúncia’, bem ao estilo do velho PIG, de que a presidenta não havia ido à festa da vitória celebrar com os militantes em Brasília. A intenção era, como sempre, a de reforçar a imagem de Dilma como ‘antipática’ e ‘anti-popular’.
PIG pedindo arrego e o tal ‘tapa com luvas de pelica’
Oito anos de ataques sistemáticos ao presidente Lula e a entrada com todas as fichas na campanha pró-Serra e contra Dilma Rousseff sangraram um pouco os recursos do PIG. Franklin Martins no comando da SECOM descentralizou a política de publicidade, fazendo com que pequenos jornais, rádios e tvs locais conseguissem uma fatia de publicidade governamental que até então era gasta em bloco para alimentar os grandes jornais do Rio de Janeiro e São Paulo e Tv Globo.
Na esperança de convencer a presidenta a esquecer as mágoas e com seu cargo e importância prestigiar a festa da Ditabranda, os irmãos Frias foram bater na porta do Planalto com o pires nas mãos. Foram atendidos: Dilma compareceu e fez um discurso lamentável, confundindo liberdade de imprensa com liberdade de expressão, chancelando o jornalismo da Folha.
Parecela da blogosfera lamentou o discurso da presidenta para a qual esta mesma blogofera entrou de cabeça na campanha afins de elegê-la contra uma candidatura que ameaçava não apenas os ganhos sociais do governo Lula, mas a manutenção dos parcos direitos civis que temos garantidos no país. Entre esta blogosfera que repudiou/lamentou o prestígio que a presidenta conferiu ao jornalismo ditabranda está esta blogueira, Maurício Caleiro, Eugênio Neves, Leandro Fortes, Eduardo Guimarães, Luiz Carlos Azenha. E mais uma vez a polêmica se instaurou entre a blogosfera à esquerda e/ou progressista, com blogueiros governistas acusando os críticos ao discurso laudatório aos 90 anos da Folha de ‘traíras’, ‘portadores de problemas psicológicos’ e outros termos detratores. Foi também bastante curiosa a operação que se deu na imagem dessa parcela da blogosfera de esquerda e/ou progressista: de blogueiros ‘chapa branca’ nos tornamos quase uma espécie de Soninha Francine, aliás alguns me disseram isso com todas as letras e me denominaram de ‘Miss Sabotagem’.
A presidenta em programas femininos de mulheres do século XX
Depois de uma semana bradando no twitter contra o discurso feito por Dilma Rousseff na festa da Folha Ditabranda, ontem pela manhã liguei a tevê na Globo (emissora que há anos não assisto e só acompanhei em dias de debate ou de ida de Dilma Rousseff durante a campanha). Não foi a toa que o programa em queda livre de audiência recuperou ibope: nunca dantes na história deste país esta blogueira feminista tinha assistido o Mais Você.
No dia anterior à exibição da entrevista fui intensamente provocada no twitter e respondia, mesmo sem saber como seria o programa, que não achava ruim a ida de Dilma ao Mais Você. Alguns ficaram confusos, porque para eles a ida de Dilma Rousseff no programa da Ana Maria Braga é da mesma categoria da ida à festa da Folha. Não é, e vou explicar os porquês.
O programa foi gravado, certamente com acompanhamento e anuência da equipe da presidenta; Dilma não precisou fazer discurso laudatório do casal 20; durante o enfrentamento do linfoma Dilma recebeu a solidariedade de Ana Maria Braga, que também teve câncer e não fez uso de seu gesto para se promover (fato revelado pela presidenta assim que começou o bate papo com a apresentadora); o programa tem como público alvo mulheres da classe C e D, mas Dilma falou, inclusive, para senhoras de sua idade que tiveram educação de classe média: leitoras da ‘Coleção das Moças’.
Foi uma chance ímpar de Dilma Rousseff passar mais de duas horas reconstruindo sua imagem para um público importantíssimo e de algum modo se aproximar dele. Em vários momentos a presidenta se dirigia para a câmera como se falasse a cada uma das telespectadoras. Algumas matérias na velha mídia chegaram a afirmar que isso era ‘vício de campanha’, equivocassem, isso é aprendizado de campanha. A presidenta, até mais que durante o período eleitoral, discorreu sobre uma série de programas voltados para as mulheres, problematizou a questão da desigualdade de gênero e não perdeu uma única chance de reforçar um discurso feminista e de auto-estima das mulheres.
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