Lendo o texto da jornalista Cássia Ferreira (transcrito ao final deste post) descobri que a embaixada estadunidense no Brasil teve a idéia de jerico de oferecer bugigangas pra quem melhor 'saudar Obama'.
Senti uma baita vergonha alheia do embaixador nonsense que pensa que o Brasil é quintal dos EUA e que aqui vive um povo ávido pelos 'espelhinhos e contas' tecnológicos dos EUA como os europeus pensavam no século XVI sobre o povos indígenas.
Se fosse à Cinelândia e tivesse a chance de conversar com o presidente dos EUA, além de perguntar a ele como anda a saúde de Bradley Manning ia sugerir ao Obama que fizesse uma limpa no seu corpo diplomático, pois além de fofoqueiros, mal informados, espiões, golpistas, eles agoram fazem o presidente de seu próprio país passar vexame em país alheio.
Os leitores podem conhecer aqui a idéia de jerico dos 'embaixadores estadunidenses' embaixadores bem entre aspas, já que eles não têm formação e recebem embaixadas em troca de favores políticos, fazem tudo, menos diplomacia.
Taí uma lição preciosa que Obama poderia aprender com o Brasil: criar nos EUA um Instituto Rio Branco e um Itamaraty estadunidense, quem sabe assim teria melhores homens para ajudá-lo nas relações exteriores, e que tornariam os EUA um país menos odiado no mundo? Quem sabe, finalmente, os EUA aprendessem o que é diplomacia e passasse a praticar o diálogo? Certamente gastariam menos recursos de seus contribuintes para manutenção de tantas guerras, espionagem e outras práticas imperialistas tão conhecidas.
Sei que os leitores do Maria Frô certamente gostariam de dar as boas vindas ao Obama e mandar um recado para os embaixadores estadunidenses. Tô lançando a idéia: gravem um vídeo com os elogios que esses senhores merecem ouvir e encaminhem para o blog.
Fiquem com a excelente análise do episódio pela lavra da Cássia:
Obama no Brasil: O Império contra ataca?Por: Cássia Ferreira Andrade no MobilizaçãoBR
O primeiro presidente negro eleito pelos Estados Unidos, Barak Obama estará no Rio de Janeiro no próximo domingo. Quando vi a informação em algum site de notícias, me chamou a atenção o fato do discurso, que acontecerá na Cinelândia, ser gratuito e aberto ao público. Fui tomada por uma sensação de incômodo que não soube explicar aos meus colegas. O incômodo não vem do fato da visita de Obama ao Brasil. Nem do discurso gratuito e aberto ao público. Longe disso.
Lá pelos idos de 2008, me lembro de me emocionar com a eleição do cara. Caminhando pelo Maracanã, bairro onde moro, vi um morador de rua gritando que, finalmente, tínhamos conseguido nossa liberdade (sic). Achei graça. Mas a sensação, talvez fosse essa mesmo. Para gente, que ainda tem uma gota de indignação, os anos de W.Bush não foram anos bons. Imagine para mim, natural de Governador Valadares?
Para quem não sabe ou não se lembra, a cidade é estigmatiza por exportar seus filhos - são mais de 30 mil dizem as pesquisas – para aquela terra em busca de oportunidade. Cresci vendo tios, tias, vizinhos, amigos deixando a calmaria da cidade em busca do “El Dorado”, em tempos que uma moeda fraca acabava fazendo com que essas pessoas melhorassem de vida, ocupando subempregos e vivendo a duras penas naquele país frio.
Este texto não tem a finalidade de expressar aquela postura de demonizar os norte-americanos. Isso é tão datado. Não significa que eu também não tenha ressalvas em relação à política daquele país. Aos muros erguidos nas fronteiras. Ao preconceito contra negros, contra homossexuais, contra latinos que ainda teimam direcionar as ações daquela nação. Às guerras sem propósitos. Ao boicote ao Wikileaks. Às sanções econômicas que há anos vem sufocando Cuba. As ressalvas são muitas.
Não sou tola e entendo a importância de um líder da expressão de Obama no Brasil. Mas eu, que vivi tempos de “batermos pinico” para oTio Sam, entendo que a nossa postura como brasileiros deva ser outra. É lindo Obama discursar na Cinelândia. Lá foi palco, como frisou Paulo Henrique Amorim, da vitória de Leonel Brizola e que também recebeu Lula e Dilma (eu estava nesse dia).
Os tempos são outros. Eu cresci, ganhei senso crítico. E o Brasil também. Cresceu e amadureceu como nação e hoje trata de igual para igual com TODAS AS NAÇÕES DO MUNDO. Os Estados Unidos estão entre elas.
Vi o Brasil dizer não à ALCA e a discutir questões pertinentes ao nosso comércio na Organização Mundial do Comércio. Vi o Brasil mediar conflitos e ampliar a relação com outros países, sobretudo, entendi a nossa postura enquanto liderança na América Latina. Méritos dos 8 anos de trabalho do nosso querido operário presidente Luís Inácio Lula da Silva, que mostrou que “yes, we can!!!”
Eu não estou indignada com a presença de Obama aqui. Porque o Brasil já se provou múltiplo nas suas relações. Fomos concebidos entre as diferenças e por isso, mesmo que não da melhor maneira possível, conseguimos entendê-las. Esse tom colonizador yankee que vai sortear camisas, livros e, pasmem, um Iphone e um Ipad aos brasileiros que melhorem saudarem o presidente norte-americano, é que me incomoda. Houve um tempo que os colonizadores nos davam espelhos de presente.
O Obama que vem aqui não é o homem que comoveu o morador de rua lá do Maracanã. Nem aquele que prometeu tirar as tropas do Iraque e universalizar o sistema de saúde daquele país. É um presidente cuja nação está maculada pela maior crise econômica da história e que vem perdendo espaço e prestígio, embora ainda seja a maior economia do mundo. E o Brasil também não é o mesmo. Sua presença tem sido noticiada com confetes e serpentinas que são de direito ao primeiro presidente negro dos Estados Unidos da América pelas nossas competentes corporações midiáticas.
Agora, por favor, um pouco mais de respeito com o meu povo. Vamos recebê-lo bem, porque assim reza a diplomacia e também porque receber bem é quase uma digital do brasileiro. Não precisamos de brindes, sovenir ou regalos
Nós estamos no controle. Então, por favor, nada de resquícios imperialistas. Mister Presidente, we can buy an Iphone and Ipad. Isso é reflexo de uma economia estabilizada, do crescimento do nosso poder aquisitivo. Nos trate com mais respeito. Há 8 anos deixamos de ser cidadãos de segunda classe. Nós temos autoestima e uma presidenta que nos representa. Entendemos nosso papel no mundo e estamos prontos para assumi-lo, começando com uma cadeira fixa no Conselho de Segurança da ONU.
*Cássia Ferreira Andrade é jornalista e valadarense.