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214615 |
6/30/2009 14:45 |
09SAOPAULO372 |
Consulate Sao Paulo |
Excertos dos itens “sensíveis, mas não secretos” do telegrama 09SAOPAULO372. A íntegra do telegrama não está disponível ASSUNTO: Pragmatismo, Incerteza Moderada, em conclave de esquerdistas brasileiros[1]
REF: A. Sao Paulo 0367 SENSITIVE BUT UNCLASSIFIED PLEASE PROTECT ACCORDINGLY
1. (U) RESUMO: A atual crise financeira está focada nos países centrais da economia mundial e assim abre oportunidades para o Brasil e outros países sul-americanos para que se autoafirmem, segundo participantes de um encontro internacional, dias 20-21 de junho[2009], de organizações de esquerda em São Paulo. O assessor para assuntos internacionais do governo do Brasil Marco Aurelio Garcia elogiou políticas da esquerda que estimularam demandas locais, como um amortecedor contra a crise econômica. Aurelio Garcia pregou a unidade latino-americana e alertou contra ceder a pressões protecionistas. O secretário para a política econômica do ministério das Finanças, Nelson Barbosa, respondeu a críticas a políticas do governo brasileiro, lembrando os presentes que liderança responsável não é simples criticismo. Disse aos ativistas presentes ao encontro que o governo do Brasil deve apoiar o FMI, que o dólar norte-americano continuará a ser a moeda-reserva mundial e que a ajuda do governo a empresas brasileiras foi necessário para preservar empregos. Para encontro abertamente de esquerda, o tom da discussão refletiu certo do pragmatismo, devido a o Partido dos Trabalhadores (PT) ser força governante. FIM DO RESUMO.
2. (U) Várias organizações (...)
A crise no centro cria oportunidades [na periferia] (...)
4. Marco Aurélio Garcia: “Nós, a esquerda, conseguimos impedir que o governo anterior (Fernando Henrique Cardoso) privatizasse o Banco do Brasil, a Caixa Econômica, a Petrobrás e o BNDES”. E continuou: “A esquerda brasileira tem muito do que se orgulhar, porque essas instituições provaram ser fundamentais para o governo, quando teve de enfrentar a crise financeira. Se tivessem sido privatizadas, o Brasil estaria hoje em situação muito mais difícil.”
5. (U) Aurelio Garcia insistiu em que líderes como Hugo Chavez e Evo Morales trazem estabilidade à América Latina, porque promovem inclusão social. Insistiu em que o Brasil aprofunde laços econômicos, culturais e políticos no continente, de modo que a América Latina venha a ser uma voz regional unificada num mundo cada vez mais multipolar. Quanto a isso, disse que as relações com os EUA não devem ter prioridade, diferente do que andam dizendo, “alguns diplomatas aposentados”. [Nota: o comentário final é referência bem pouco velada a comentários de três diplomatas brasileiros aposentados – Ricardo Abdenur, Rubens Barbosa, e Sergio Amaral – que insistem que o ministério das Relações Exteriores do Brasil dá pouca atenção aos EUA. FIM DA NOTA.)
6. (U) Aurelio Garcia concluiu sua intervenção em tom moderado. Disse que os países da região devem evitar o protecionismo, porque poderia “nos destruir”. 7. Nelson Barbosa: Lições de Pragmatismo [outro telegrama SAO PAULO 00000372 002 OF 002 7, não publicado]. (...)
8. (U) Barbosa observou que ainda não há substituto para o FMI. Assim, faz sentido que o Brasil contribua para a organização e modele suas políticas. Assim também, ainda não há substituto para o dólar. Ninguém ainda criou mecanismo que estabelece a taxa de câmbio entre o dólar e alguma nova moeda global. Barbosa disse também que não ajudar empresa local, como a Embraer, só custaria mais empregos.
Há incerteza à frente
9. (U) Apesar de os participantes do encontro terem manifestado em geral otimismo quanto às perspectivas de avanço para a esquerda – citaram vários governos de esquerda que tomaram o poder [no original “a number of left-wing governments that have recently taken power”] na América Latina, dentre os quais Venezuela, Chile, Argentina, Uruguay, Bolivia, Paraguay e Equador – houve também sinais de ansiedade. Alguns participantes alertaram que a crise econômica pode tanto empurrar a política para a direita, quanto para a esquerda, citando tendências na Europa. O Professor Luis Fernandez da Universidade Católica do Rio de Janeiro manifestou preocupações de que “o declínio da liderança” (hegemonia) dos EUA pode abrir espaços para a instabilidade.
10. (SBU) COMENTÁRIO: O que mais chamou a atenção no encontro foi o tom contido, pragmático das discussões. Apesar da crise econômica, membros importantes do governo do Brasil defenderam a contribuição do Brasil ao FMI, o dólar dos EUA, a ajuda do Estado para criar empregos, empresas orientadas para o mercado externo e pregaram resistência contra o protecionismo. O tempo que o PT já passou no poder moderou, pelo menos, alguns elementos do partido, curvando-os sob a responsabilidade de governar. Mais do que tudo, a prosperidade do Brasil e o desejo de converter-se em ator global tornou ainda mais difícil para os apoiadores do PT adotar abordagens simplistas, ‘do contra’, nas questões de economia ianternacional. Os ataques ao governo de Cardoso devem ser vistos no contexto das eleições presidenciais de 2010, nas quais o PT aparece, nas pesquisas, abaixo do candidato do partido de Cardoso, o governador de São Paulo, Jose Serra. FIM DO COMENTÁRIO.
[1] Toda a programação do Encontro Internacional 2009 está aqui [NT]