Os cinco principais mitos que se repetem, na cobertura dos protestos no Oriente Médio
Por: Juan Cole, no Informed Comment 20/2/2011
5. O mito da mulher humilhada nos países muçulmanos
Carlos Latuff #Cartoon - ??????? ??????? ????????: ????? ???? ???? ?????? ?????? #SaudiArabia #Jan25
Cara blogosfera de direita e caro Bill Maher:
Párem de generalizar, quando falarem da posição da mulher nos países muçulmanos, considerando só o terrível assalto que a repórter Lara Logan da CBS [matéria aqui] sofreu, atacada por uma gangue de bandidos. Comentar em geral sobre todo um grupo, a partir de um único incidente, chama-se “fanatismo”. Também é falácia (se duas palavras que, juntas, somam mais de seis sílabas, e uma é proparoxítona, forem demais para os destinatários desse postado, as duas palavras podem ser traduzidas por “o cérebro de vocês deu chabu”), conhecida como “generalização falsa” [sobre “falácia”, ver aqui]. Ninguém dá sinal de perceber que as tais indefesas mulheres egípcias salvaram Logan. Ninguém lembra que Anderson Cooper também foi agredido.
Há muitos casos de repórteres e celebridades atacadas por multidões, aqui e lá. Os idiotas-da-direita, Bill Maher e outros, jamais generalizam quando os atacantes são ocidentais; e sempre generalizam quando são árabes.
Atenção Bill Mahrer, racista, odiador de muçulmanos:
Acorde. Não é verdade que as mulheres não votam em 20 países muçulmanos [ver aqui], e pare de generalizar para 1,5 bilhão de muçulmanos, considerando só os 22 milhões que vivem na Arábia Saudita wahhabista – único país em que as mulheres são proibidas de dirigir automóveis, e homens votam (em eleições municipais e só) mas as mulheres, não. Seria como generalizar, a partir só dos amish da Pennsylvania, para todos os cristãos dos EUA e pretender que todos os cristãos dos EUA são obcecados com carroças e inimigos da energia elétrica.
4. O mito da influência do Irã no Bahrain É falso que as manifestações no Bahrain tenham sido influenciadas pelo Irã. É processo nascido no próprio Bahrain, dos árabes xiitas que são tratados como cidadãos de segunda classe em sua própria terra.
No sábado à noite, [matéria aqui], “os manifestantes acamparam na Rotatória da Pérola [‘praça’ Pérola, como também se diz no Brasil, mas é mais “rotatória” (para carros) do que “praça” (para pessoas)], no centro da capital, enquanto seus representantes reuniam-se, preparando-se para as conversações com o governo.
E telegramas publicados por Wikileaks mostram que o governo dos EUA repetidas vezes desmentiu qualquer interferência que o Irã teria sobre a monarquia sunita do Bahrain” [ver, sobre isso, o telegrama “S E C R E T SECTION 01 OF 03 MANAMA 000528”, de 5/8/2008, aqui].
3. É mito que todos os clérigos muçulmanos sejam aiatolás khomeinis
Yusuf Qaradawi, pregador muçulmano de 84 anos, tem raízes na Fraternidade Muçulmana de antes de a Fraternidade ter optado pela via parlamentar e desistir da resistência armada, mas, nem por isso, é um aiatolá Khomeini. Qaradawi falou a milhares de pessoas na praça Tahrir na 6ª-feira. Em 2001, Qaradawi conclamou os muçulmanos a lutarem contra os Talibã e a al-Qaeda ao lado dos EUA. Na 6ª-feira, falou do papel dos cristãos coptas na revolução egípcia e disse que se acabaram os tempos das disputas sectárias. Qaradawi é reacionário em vários assuntos, mas não é radical. Além disso, nada leva a crer que os movimentos de jovens e de sindicatos que arrancaram Hosni Mubarak estejam interessados em seguir cegamente as opiniões de Qaradawi.
2. É mito que os partidos muçulmanos radicais controlarão todos os novos governos que surjam na Região 2. Considerando o futuro da Túnisia e o futuro do Egito, é falso – como repetem os propagandistas de Israel e odiadores de muçulmanos como Barry Rubin – que os partidos muçulmanos fundamentalistas sempre vencem eleições livres nos países de maioria muçulmana. É ideia, perdoem a franqueza, estúpida, já desmentida por exemplo nas eleições no Paquistão em 2008, na Albânia em 2009, no Curdistão no Iraque pós-2003 e em todas as eleições na Indonésia.
1. É mito que Facebook e Twitter tenham sido as principais forças de mobilização: os sindicatos foram muito mais importantes, nos levantes populares no mundo árabe Apesar da importância de Facebook e Twitter como ferramentas de comunicação e mobilização, os sindicatos e as organizações de fábricas foram mais importantes nos levantes no Oriente Médio, que a mídia social. Na Líbia, o ataque do regime contra os serviços de internet não impediu um grande levante em Benghazi, que o regime reprimiu com extrema violência.