Nota do coletivo Universidade em Movimento sobre a expulsão dos 6 estudantes da USP

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Nota do coletivo Universidade em Movimento sobre a expulsão dos 6 estudantes da USP

Não é de hoje que ocupações têm sido utilizadas como método de luta, e principalmente, no que diz respeito ao CRUSP e o projeto de permanência estudantil da USP.

Criados para servirem aos jogos pan-americanos (e não aos estudantes), os prédios da moradia estudantil passaram por diversas ocupações: parte em 1963, parte 1967 e 1968, seguidos pela desocupação no período militar em dezembro 1968, que contou a polícia, exército e marinha. Tivemos, então, a retomada das ocupações, em1979 a1983, e uma ultima, realizada em 2010.

Tais ocupações se justificam pela insuficiência de vagas e bolsas. A atual política de permanência estudantil da USP é praticamente insignificante: apenas 3% do orçamento geral da Universidade é direcionado às políticas de permanência, o que acarreta em pouquíssimas vagas na moradia. Além disso, há um processo de seleção extremamente duvidoso, com critérios suspeitos, não divulgados e que, muitas vezes, não atendem às demandas dos estudantes (que moram longe e têm dificuldades econômicas, que têm filhos e precisam de um espaço diferente etc).

A COSEAS –  Coordenadoria de Assistência Social - é o órgão responsável pela seleção dos estudantes para a moradia. Mas, para além de fazer um trabalho completamente insuficiente, como já dissemos, a Coseas – hoje  sob a batuta de  Waldyr Antonio Jorge, nada menos que ex-tenente do exército -  tem um papel peculiar: é parte da administração que está empenhada em monitorar atividades políticas dos estudantes, chegando a ter infiltrados nas assembléias, e até a documentar parte da vida pessoal daqueles que militam, para além de suas ações políticas. Tudo isso você pode ver nos documentos que foram encontrados na Coseas, em 2010, quando de sua ocupação por parte dos estudantes (aqui: arquivo 1, arquivo 2, arquivo 3, arquivo 4).

Hoje, temos 6 alunos que foram expulsos da Universidade de São Paulo. Foram expulsos justamente por defenderem uma melhor política de permanência estudantil: os estudantes que ocuparam a COSEAS em 2010, na luta por mais vagas na moradia, hoje pagam por terem lutado por seus direitos mais básicos: o direito a ter onde morar, para, assim, garantirem sua permanência na Universidade e, então, a continuidade de seus estudos.

Ou seja, atualmente, a lógica que da reitoria da Universidade de São Paulo é: não nos oferecem os direitos mais básicos, não nos escutam quando pedimos para que eles sejam garantidos, e nos punem quando tomamos atitudes visando a concretização desses direitos.  Punem aqueles que ousam levantar a voz contra uma administração burocrática, extremamente autoritária, que não nos garante nem ao menos condições para que continuemos nossa formação.

O que existe, hoje, na Universidade, pode ser claramente classificado como perseguição política: não expulsam aqueles que estupram suas companheiras na moradia estudantil – ao contrário, protegem-nos -, mas sim aqueles que têm posicionamentos políticos divergentes daquele que é o da reitoria.

Para além da luta pela permanência estudantil em si, esta é uma luta pelo direito de lutar. a abertura de processos contra @s estudantes da última ocupação, se deve ao seu engajamento e participação política, e visa justamente criar um estado de terror entre aqueles que ainda ousam lutar dentro da universidade. A lição é clara: manifeste-se, e será punido de acordo com a gravidade de sua ação. Não coincidentemente, a punição a esses estudantes – e a outros processados – é baseada em um decreto de 1972, feito em plena ditadura (e nós que éramos os saudosistas?), que condena toda e qualquer “manifestação ou propaganda de caráter político-partidário, racial ou religioso” e incitação a “ausências coletivas aos trabalhos escolares”  - em outras palavras, greve.

A luta por mudanças em nossa sociedade não é  crime, ainda mais quando estão em jogo os direitos mais básicos de um cidadão, como os direitos à moradia e à educação. Nos posicionamos veementemente contra a ação do Reitor João Grandino Rodas, e exigiremos, junto ao restante do movimento, a reincorporação desses estudantes ao corpo discente da Universidade de São Paulo.

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