Em geral, o desempenho dos alunos é influenciado pela proporção de brancos e negros no ambiente escolar? A partir desta pergunta, uma pesquisa realizada na Faculdade de Administração, Economia e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA - RP) da USP analisou a questão da segregação racial nas escolas de ensino fundamental.
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Por Lucas Rodrigues USP Online lucas.mariano.rodrigues@usp.br
04/10/2011
A pesquisa, que em breve deve ser publicada em um periódico da área, mostrou que sim, a segregação tem peso no rendimento escolar dos alunos negros, em particular no caso de escolas em que são a minoria na sala de aula.
O estudo, coordenado pelo professor Luiz Scorzafave, foi iniciado em 2009 pelo então pós-graduando Roberto Manolio Valladão, em trabalho para um projeto da FEARP chamado "Observatório da Educação", e procurou em exemplos internacionais uma maneira de desenvolver sua metodologia de investigação.
Censo escolar e Prova Brasil Para fazer a análise dessa situação, foram consultadas informações do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), um órgão oficial do Ministério da Educação. “Houve um trabalho intenso com a base de dados do Inep”, afirma Scorzafave.
Dessa fonte, foram considerados os números do censo escolar, para identificar a quantidade de alunos brancos e negros em cada escola, e da Prova Brasil, para estabelecer o desempenho dos estudantes nos diferentes municípios. A partir daí, avaliou-se a relação entre essas informações. “Fizemos um cruzamento de dados”, diz o professor.
Além disso, foram analisados casos isolados. Nesse sentido, foram escolhidos alunos brancos e negros que possuíam características socioeconômicas semelhantes, como a escolaridade dos pais, condições de habitação e financeira, entre outros. No final de todo o processo, foi criado um índice de segregação para facilitar a classificação de cada escola. Quanto maior o número, maior é a presença de segregação no ambiente escolar.
Gráfico mostra que a diferença entre notas de brancos e negros é mais acentuada onde a desproporção númerica de alunos negros e brancos é maior
Segregação De acordo com o professor, a ideia de realizar um estudo sobre o assunto surgiu da necessidade de descobrir se o desempenho dos alunos é afetado em um ambiente segregado. A teoria era a de que fatores como preconceito e sentimento de deslocamento influenciavam nas notas dos alunos. Além disso, ele acrescenta que não existiam muitos trabalhos que abordassem esse tema. “Havia muito pouco critério de descriminação no ambiente brasileiro”.
Segundo ele, os resultados da pesquisa demonstram que, em escolas onde a grande maioria dos estudantes é formada por brancos ou negros, em relação a colégios em que a quantidade de alunos dos dois grupos é mais homogênea, a diferença entre as notas é maior. Os dados analisados são de 2005 e englobam as instituições de ensino fundamental de todas as cidades do estado de São Paulo.
Para o professor, a função do estudo não é chegar a uma conclusão, mas sim “levantar uma discussão sobre a importância desse problema social”, que ele acredita estar sendo deixado em segundo plano. Da mesma forma, atenta para o fato de que a pesquisa pode dar início a uma investigação mais profunda a respeito das causas que levam a esse resultado e de políticas públicas que o governo possa adotar para diminuir essa disparidade.