Rio: Para professor da Uerj, prefeituras não fiscalizam a ocupação dos morros e encostas

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Ontem no R7 o presidente do CREA - Rio, Agostinho Guerreiro informava que já estava careca de alertar as prefeituras sobre o aumento da ocupação irregular nas encostas nos últimos dois anos. Segundo ele " planejamento urbanístico da ocupação do solo na região serrana é "próximo de zero" e afirma que prefeituras são despreparadas do ponto de vista técnico e permite tanto a ocupação de encostas pelos menos favorecidos como construções de grandes condomínios de luxo em nome do turismo.

Hoje especialista da UERJ reafirma com todas as letras: prefeituras não fiscalizam a ocupação dos morros e encostas.

Tragédia na região serrana é resultado da negligência dos governos, diz especialista

Para professor da Uerj, prefeituras não fiscalizam a ocupação dos morros e encostas Por Carlyle Jr., do R7 13/01/2011 às 05h58 Fábio Motta/AE
Professor de engenharia ambiental e meio ambiente da Uerj, Adacto Benedicto Ottoni diz que não adianta culpar a natureza pelas tragédias causadas pelas chuvas de verão
A tragédia que atingiu a região serrana do Rio de Janeiro na última quarta-feira (12) é resultado da falta de políticas públicas na área de habitação e saneamento básico, o que permite a ocupação desordenada nos morros e áreas de encostas. A avaliação é de Adacto Benedicto Ottoni, professor de engenharia ambiental e meio ambiente da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro). Segundo ele, o poder público ignora a existência de milhares de famílias que moram em lugares com risco de deslizamentos.
- As prefeituras não fiscalizam e permitem a ocupação irregular dos solos. Não adianta culpar a natureza pela negligência do governo.
Adacto aponta o desmatamento como a principal causa dos deslizamentos de terra na região serrana.
De acordo com o professor, a população ocupa de forma irregular a parte alta dos morros, eliminando a cobertura vegetal. Ele explica que são as raízes das árvores que seguram o solo. Sem vegetação, as encostas vêm abaixo, resume o engenheiro ambiental.
- As encostas devem ser reflorestadas para que o solo absorva a água das chuvas. É o que aconteceria se essas áreas não fossem desmatadas.
Além disso, o desmatamento aumenta o risco de enchentes, já que a cobertura vegetal absorve a água das chuvas. E essa proteção natural impede que água a escorra pela superfície, levando detritos para rios e córregos.
- O assoreamento é a principal motivo do transbordamento dos rios na época das chuvas. Sem vegetação, a água escorre sem barreiras naturais, levando detritos e sujeira para os rios e valões. Resultado disso: famílias sem casa e parentes mortos. O engenheiro ambiental também destaca que o saneamento básico precário colabora para os deslizamentos da encostas. Segundo ele, o esgoto infiltra no solo, tornando-o frágil diante de uma chuva forte. - A falta de serviços públicos nas áreas de habitação e saneamento básico anuncia esse tipo de tragédia. O lixo é outro problema. As prefeituras não fazem a coleta e o lixo ajuda a acumular água nos morros, que infiltram o solo. Adacto defende o monitoramento do uso e da ocupação do solo através de georreferenciamento, onde se pode identificar por satélite se as construções urbanas crescem irregularmente. Para ele, as prefeituras da região serrana devem remover as pessoas das áreas de risco nos períodos de estiagem para evitar que mais pessoas morram por causa das chuvas de verão. - Não há vontade política para resolver essa situação. Não adianta adotar medidas paliativas na tentativa de aliviar a dor daqueles que perderam casas e familiares. Enquanto não houver um planejamento urbano a curto, médio e longo prazo, mais pessoas vão morrer nos próximas tragédias.