Você sabe o que é terrorista? Tem certeza?

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Reproduzo um videocast do crítico de cinema e editor do Cinema em Cena, Pablo Villaça que, a partir de reflexões e experiências vividas no movimento estudantil, retoma algumas representações da luta daqueles que combateram a Ditadura Militar.

Como eu e todos aqueles que têm algum conhecimento da história recente do país, Villaça também se assusta com aquilo que nós historiadores chamamos de 'revisionismo' histórico.

Grosso modo, no sentido pejorativo do termo, podemos definir 'revisionismo' como uma tentativa de reescrever a história não com base em pesquisas exaustivas e dialogando com a historiografia consagrada, mas por meio de uma narrativa que ignora, diminui, subverte ou até mesmo nega os fatos. Exemplo gritante de revisionismo recente, foi gerado pelo editorial da Folha de São Paulo de 17 de fevereiro de 2009, que afirmou que o Brasil não viveu uma Ditadura Militar, um regime de exceção, onde vigorou a censura e a tortura.

Segundo aquele editorial um período de duas décadas iniciado após os militares destituírem um presidente eleito por meio de um golpe militar, fecharem o Congresso, perseguirem líderes sindicais, estudantis e camponeses, políticos de esquerda, intelectuais, professores universitários, artistas, prenderem, torturarem e até mesmo matarem todos aqueles que se opuseram ao regime de exceção não foi uma ditadura e sim  'Ditabranda'.

Assim, o videocast me chamou a atenção, porque Pablo é bastante didático na sua explanação ao mostrar como o termo terrorista pode ser polissêmico, dependendo do contexto e do usuário.

Para o Pablo e para esta historiadora que vos escreve, terroristas foram os que estabeleceram um Estado de terror e com o uso da força bruta dominaram nosso país nos deixando uma herança terrível de intolerância, uma polícia militar e, por vezes, civil violentas que não respeitam os cidadãos e tratam a todos como suspeitos. Uma herança maldita de décadas de atraso promovido pelo medo das pessoas debaterem, questionarem o regime e ser presas, torturadas ou desaparecerem.

Vencemos a Ditadura e há 20 anos escolhemos nossos representantes em todas as instâncias dos poderes Executivo e Legislativo. Temos liberdade de expressão, de opinião que exerço com todo prazer neste blog.

Todos aqueles que têm na memória os Anos de Chumbo ou conhecimento sobre aquele período de horror lutaremos contra a ignorância e o oportunismo de grupos autoritários que buscam reescrever a história vangloriando aqueles que deveriam cuidar de nossa segurança e que só nos trouxeram a tortura e a morte.

PS. Não deixe também de ler a polissemia do termo 'terrorismo' nesse excelente artigo de  Glenn Greenwald: Hoje, cada um faz o que quer com a palavra “terrorismo” . Nele o autor discute no contexto da mídia e política estadunidenses como o termo é manipulado no léxico político contemporâneo até perder completamente o sentido.

PS2: Boa indicação de leitura da leitora Ananda, feita nos comentários deste post, de um texto de Anita Leocadia Prestes sobre o revisionismo: Uma estratégia da direita: acabar com os 'mitos' da esquerda

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