Recebo uma denúncia, via mail, com a narrativa de um caso no mínimo curioso e mais três fotos retratando o ocorrido. A pessoa diz que fez trabalho voluntário na região e estava presente no dia. Não publicarei seu nome, nem os dos autores das fotos, para preservar minhas fontes.
A Denúncia
Anualmente a UNAS (União dos Núcleos e Associações Sociais do Heliópolis) organiza uma festa no dia das crianças e conta com ajuda de parceiros dos projetos como comerciantes da comunidade que doam brinquedos para serem distribuídos.
Em 2009, a comunidade recebeu do Fundo de Solidariedade e Desenvolvimento Social e Cultural do Estado de São Paulo, por meio da ex-primeira dama do estado de São Paulo, Mônica Serra, quase 18 mil brinquedos, que poderiam ser bonecas, bolas, jogos de montar ou brinquedos educativos etc. Mas, segundo o autor do e-mail, para a surpresa geral de todos ao abrirem as caixas o pessoal das Unas encontrou o "soldado brinquedo".
As imagens
[caption id="attachment_18317" align="aligncenter" width="240" caption="Granadas, fuzis e facões para as crianças de Heliópolis."][/caption]Segundo relata o denunciante por e-mail, o pessoal da Unas passou uma noite inteira desarmando os "soldados brinquedos" para poder dá-los às crianças.
[caption id="attachment_18381" align="aligncenter" width="240" caption="Boneco soldado ainda embalado. Heliópolis, outubro de 2009."][/caption] No dia seguinte o brinquedo soldado desarmado foi oferecido às crianças:
Aqui uma das crianças da comunidade de Heliópolis, com "soldado brinquedo" já desarmado, posa para foto com a ex-primeira dama do estado de São Paulo, Mônica Serra, e um policial militar.
No site do Fundo de Solidariedade e Desenvolvimento Social e Cultural do Estado de São Paulo tem uma matéria desse dia e curiosamente, uma das fotos que me foi encaminhada, a do boneco soldado já desarmado, é uma das que também ilustra a notícia oficial. Mas na descrição dos brinquedos dados às crianças nenhuma menção ao soldado brinquedo:
O secretário da Educação do Município de São Paulo, Alexandre Schneider, não quis comentar a denúncia. A assessora de imprensa da UNAS, Laís Fonseca, desconhece o episódio.
Questões desta blogueira
Se bonecos soldados armados com granadas, facões e fuzis foram dados às crianças de Heliópolis pelo Fundo de Solidariedade é uma ação no mínimo de mau gosto.
É fato de que os especialistas divergem sobre a questão das armas de brinquedo estimularem ou não a violência. Mas me pergunto: ampliar as referências da violência no universo lúdico infantil o que acrescenta à vida destas crianças? Mais cultura da violência? Quem foi o gênio responsável pela compra desses brinquedos dispensáveis? Em tempo
Na sexta-feira, por telefone Alexandre Schneider respondeu às minhas questões sobre outro episódio que ocupou a blogosfera e a imprensa na semana passada. Trata-se das crianças da escola municpal de Heliópolis que foram expostas em vídeo no youtube, estimuladas por um homem (que até o momento não foi identificado), para gritarem o nome Geraldo (Alckmin) e Serra.
O PT parece que foi demovido da idéia de entrar com processo contra a campanha tucana. O partido não estaria ao menos interessado em saber quem é o 'maestro' trapalhão que puxa o coro de "Geraldo Geraldo, Serra, Serra? Acompanhemos.
Na minha conversa com o secretário, quis saber o que ele achou do episódio. Alexandre ponderou o fato de que não se pode usar imagens de crianças sem a prévia autorização dos pais. Assim se o vídeo foi produzido para uso de campanha além de uma 'ação deplorável, é estúpida'. afirmou conhecer o diretor da escola, garantiu que é um excelente profissional, 'pessoa correta' e que 'confia na palavra do diretor' (o diretor nega ter autorizado as filmagens ou a saída das crianças para tal fim). E ressaltou o fato de a escola onde ocorreram as filmagens ser um espaço sem muros, integrado à comunidade.
Para o secretário isso foi um 'ato isolado' de algum cabo-eleitoral 'puxa-saco', querendo aparecer. Segundo Alexandre ao ver o vídeo a 'a impressão que dá é que as crianças estavam indo para o recreio e a professora, acertadamente, ao ver a aglomeração de adultos, segurou-as nas escadarias'. O diretor não será punido.
E você leitor/eleitor, leitora/eleitora, se seus filhos fossem estimulados no espaço escolar a gritar "Geraldo, Geraldo" por um desconhecido, o que você faria?
E o que você pensa sobre o Fundo de Solidariedade dar bonecos soldados com granadas, fuzis e facões para meninos das periferias de São Paulo?