Paraisópolis: Carta aberta ao Governador Alberto Goldman

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Gilson da Cruz Rodrigues, presidente da União dos Moradores e do Comércio de Paraisópolis, após notícias de que o Morumbi não será mais um dos estádios da Copa, escreve uma carta aberta ao governador de SP, explicando a situação dos moradores de Paraisópolis em relação ao transporte público.

A região do Morumbi tem mais de 300 mil habitantes e os moradores de Paraisópolis não contam com transporte público. Com a exclusão do Morumbi da Copa, o metrô anunciou que as estações previstas para 2013 estão adiadas por tempo indeterminado!

Com ou sem Morumbi na Copa 2014 os moradores de Paraisópolis exigem o direto de qualquer cidadão livre: poder ir e vir, ter garantido o direito ao transporte coletivo com alguma decência.

Carta aberta ao Governador Alberto Goldman

São Paulo 21 de Junho de 2010.

Ao Governo do Estado de São Paulo Governador Alberto Goldman

Senhor Governador,

Na última semana a cidade de São Paulo foi surpreendida por duas informações extremamente graves. A primeira de que o Estado de São Paulo está nesse momento fora da Copa do Mundo, pela exclusão do estádio do Morumbi, e a segunda, aparentemente por conseqüência da primeira, que a extensão da Linha Ouro do metrô para as estações do Morumbi e Paraisópolis será adiada para possibilitar a extensão da Linha Laranja que chegará a Pirituba, onde se pretende construir um novo estádio.

Apesar de estarmos ansiosos para torcer pelo heptacampeonato brasileiro em nossa cidade, consideramos que este problema, como já opinaram o prefeito Gilberto Kassab e o presidente Lula, será resolvido, por conta da enorme importância econômica e social que nosso estado tem para o país. O adiamento por prazo indefinido para a expansão do metrô na zona sul, no entanto é fato gravíssimo com conseqüências sociais grandes.

Durante muitas décadas o estado teve a equivocada avaliação de que a região do Morumbi não necessitava de transporte coletivo pelo seu caráter elitizado. Tapava os olhos para o fato de nossa região contar com quase 300 mil moradores, a maior parte deles vivendo em comunidades carentes como o Paraisópolis e Jardim Colombo. Na verdade, a política de fundo era as seguidas tentativas de remoção completa destas comunidades, tal qual as políticas higienistas e do apartheid em outros tempos e lugares. Essa visão foi abandonada a partir da urbanização de nossa comunidade e a construção de escolas, avenidas e conjuntos habitacionais. Falta ainda, a construção do Hospital Regional de Paraisópolis que também é prioridade para a comunidade.

O transporte coletivo, no entanto ainda não chegou até o Morumbi. Quem não tem carro se vira com lotações, bicicletas, motos, ônibus que demoram horas para sair e são obrigados a fazer itinerários circulares para chegar a todos os destinos que precisamos. A isso se juntam os carros dos imensos condomínios, e os engarrafamentos nos tomam horas todos os dias. Provavelmente não existe em nossa cidade região com o trânsito tão caótico, mal planejado e nocivo aos direitos dos cidadãos como o Morumbi.

A chegada do metrô começaria a desafogar esta realidade, e deveria ser acompanhada por corredores de ônibus e a multiplicação, pelo menos em dez vezes o número de linhas dedicadas a região. No entanto, com a exclusão do Morumbi da Copa, o metrô anunciou que as estações previstas para 2013 estão adiadas por tempo indeterminado! Nos unimos a uma lista de dezenas de novas estações previstas até 20 anos.

Portanto, em nome da comunidade de Paraisópolis, e em sintonia com todos nossos vizinhos do Morumbi e região, das mais diferentes classes sociais, afirmamos que está sendo cometido um crime contra 300 mil moradores. Não é possível sermos informados via imprensa, jogar no lixo todo o debate que envolveu governo, metrô, lideranças comerciais e sociais de nossa região, por mais de 30 anos, e avisar pela imprensa, que o compromisso assumido e assinado com a nossa comunidade não será cumprido. Nós já pagamos por décadas a ausência do estado nesta região, e embora seja importante trazer a Copa para São Paulo, exigimos que quem pague a conta para isso seja o governo, e não o povo do Morumbi.

Que os investimentos aumentem um pouco, e se expandem em paralelo a linha ouro e amarelo. Não abrimos mão do metrô em nossa região. Por isso, convocaremos ao lado dos mais de 20 deputados estaduais com trabalho em nossa região, com a participação de dezenas vereadores, deputados federais e senadores uma audiência pública na Assembléia Estadual e contamos com a presença dos representantes do metrô para discutir o assunto.

Atenciosamente,

Gilson da Cruz Rodrigues Presidente da União dos Moradores e do Comércio de Paraisópolis