Lula em Teerã: 'A diplomacia sai vencedora hoje'

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Enquanto o candidato Serra afirmou em 06/05/2010 na RBC que sequer receberia ou visitaria o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, Lula conseguiu a maior vitória diplomática dos últimos tempos: recebeu, visitou, negociou e firma cada vez mais a importância e valorização do Brasil na política mundial.

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Luciano Seixas: Presidente, o senhor teve, agora há pouco, uma reunião onde participaram o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, o primeiro-ministro da Turquia. Enfim, Brasil, Irã e Turquia, resolvendo um impasse na área nuclear. Como foi feita essa negociação, Presidente?

Presidente: Olha, Luciano, eu acho que foi extremamente importante a reunião aqui em Teerã. O Brasil teve um papel importante, sobretudo a afinidade existente entre o ministro Celso Amorim, o ministro da Turquia e o próprio ministro das Relações Exteriores do Irã, e foi uma coisa extraordinária. Eu acho que a diplomacia sai vencedora hoje. Eu acho que foi uma resposta de que é possível, com diálogo, a gente construir a paz, construir desenvolvimento. Mas eu acho que nós precisamos fazer justiça, e acho que até numa homenagem ao ministro Celso Amorim que está aqui do meu lado, porque ontem nós nos reunimos muitas vezes, mas ele ficou reunido até quase 1h da manhã, até concluir o acordo, e assinamos a declaração agora há pouco. Eu acho que é muito importante você fazer esta entrevista com o Celso Amorim. Ele vai falar com você das coisas importantes e, no final, eu me despeço de você, Luciano. Então, eu vou passar para o ministro Celso Amorim.

Luciano Seixas: Está certo, presidente Lula. Olá, Ministro, como foi essa negociação Brasil, Irã e Turquia, resolvendo esse impasse na área nuclear?

Ministro Celso Amorim: Bem, olha, veja bem, primeiro, foi uma negociação que tomou, na realidade, muitos meses, desde o momento em que o presidente Ahmadinejad foi ao Brasil e o presidente Lula, pela primeira vez, levantou a questão nuclear. Nós havíamos percebido que, em função de uma proposta que havia sido feita pela Agência Atômica, que reconhecia o direito iraniano de enriquecer urânio, havia uma possibilidade de acordo. Mas como você bem pode imaginar, são muitos os detalhes. Então, nós tivemos que trabalhar durante muito tempo, enfrentar o ceticismo de muitos países. Mas o que eu queria lhe salientar é que essa declaração entre Turquia, Brasil e Irã contém os elementos principais que são necessários... todos os elementos que são necessários para que haja o acordo de troca de urânio por elementos combustíveis. Naturalmente, esse acordo não vai resolver todas as questões que existem na questão nuclear. Mas ele é o passaporte para que possa haver discussões mais amplas que criem a confiança na comunidade internacional e, ao mesmo tempo, permita o Irã exercer o direito legítimo à energia nuclear para fins pacíficos, inclusive com enriquecimento.

Luciano Seixas: Ministro, esse acordo será suficiente para evitar sanções internacionais ao Irã?

Ministro Celso Amorim: Olha, na nossa opinião, deve ser suficiente porque... Deve ser suficiente, porque nós ouvimos todos, nós conversamos muito com os franceses, conversamos... – aliás, o Presidente acaba de falar, até, com o presidente Sarkozy, nós conversamos muito com os americanos, conversamos muito com os russos, com os chineses. Então, na realidade, temos plena confiança de quais são e quais eram os problemas. É claro que nós não estávamos negociando em nome deles. Nós negociamos com a consciência das questões e das preocupações que eles têm. Eu não vejo nenhuma razão, nem a Turquia que, aliás, é um país membro da Otan, portanto, é muito ligado, aliado, aliado militar, até, dos Estados Unidos, então, claro, cada um fará seu julgamento, mas nós não vemos nenhuma razão para que haja continuidade nesse movimento em favor de sanções. Vamos continuar, quer dizer, vamos continuar discutindo e vamos vem o que vem, o que vai acontecer. Sempre achamos que era necessário dar um crédito de confiança à paz e à negociação. Agora nós temos as condições materiais para que esse crédito de confiança exista.

Luciano Seixas: Muito obrigado, ministro Celso Amorim, por sua participação aqui no programa “Café com o Presidente”.

Presidente: Alô, Luciano.

Luciano Seixas: Pois não, Presidente. Como o senhor disse, aqueles que querem construir acordos de paz sempre vencerão. Seria essa a mensagem, Presidente?

Presidente: Olha, Luciano, eu penso que é exatamente isso. Há um milhão de razões para a gente ter argumento para construir a paz e não há nenhuma razão para a gente construir a guerra. O Brasil acreditou que era possível fazer o acordo. Mas o que é importante é que nós estabelecemos uma relação de confiança, e não é possível fazer política sem ter uma relação de confiança. Nós temos que acreditar nas pessoas, e eu penso que nós conseguimos um grande intento. Eu, ontem, fiquei muito feliz porque foi uma vitória da diplomacia. Quando os diplomatas se reúnem em torno de uma causa séria e têm o apoio dos seus presidentes, a coisa acontece. Então, meu caro, eu estou embarcando agora, neste momento, para Madrid, vou participar da Cúpula União Europeia-América Latina, depois vou participar da Cimeira Brasil-Portugal e, na quinta-feira de manhã estarei no Brasil.

Luciano Seixas: Muito obrigado, presidente Lula, e a gente volta a conversar no próximo “Café com o Presidente”. Até a semana que vem. Presidente: Até a semana que vem, com muito paz.

Luciano Seixas: Você pode acessar este programa em www.cafe.ebc.com.br. O “Café com o Presidente” volta na próxima segunda-feira. Até lá.

Fonte: Programa de rádio “Café com o Presidente”, com o Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva/ Rádio Nacional, 17 de maio de 2010