Depois que Jabor disse explicitamente em uma reunião do Instituto Millenium que era preciso acabar até mesmo com o pensamento de esquerda no Brasil, ou seja, era preciso pôr fim ao direito de expressão das pessoas que fazem oposição ao pensamento conservador dos grandes grupos de comunicação e mídia representados por Jabor, Azevedo, Magnoli e correlatos, o Grupo Abril decidiu seguir bem à risca a cartilha que ajudou a traçar.
Para o Grupo Abril, seus empregados devem rezar a cartilha neocon, não basta desenvolverem as atividades para as quais foram contratados, eles têm de pessoalmente e em todos os espaços sociais defender o conservadorismo excludente e preconceituoso que a Veja, principal revista deste Grupo, prega semanalmente. Seus funcionários não podem jamais expressar o que pensam, especialmente se o que pensam não legitima a cruzada detratora que a Revista Veja defende contra qualquer pensamento de fato democrata. Se isso ocorrer o caminho é a demissão.
Veja e Folha se dão ao direito de colocar na boca de seus entrevistados aquilo que bem entendem. Enquanto a Folha entrevista e deturpa o que os seus entrevistados dizem, a Veja não se dá nem ao trabalho de entrevistar as pessoas que escolhem como alvo para desqualificar, pois como um oráculo, ela 'advinha' o que pensam 'petralhas'', 'esquerdistas', esses intelectuais 'inimigos da pátria', da 'liberdade' e dos 'homens de bem' e amigos de pretos, indígenas, gays etc.
Ao abrir Veja você pode ter certeza que está diante de uma peça de ficção de muito mau gosto. Vendidas como se fossem jornalismo, você lerá matérias cujo teor é composto pelos maiores absurdos que as pessoas jamais disseram. Você encontrará também factóides inventados nas redações-laboratórios daqueles que perderam de vez a dignidade e o compromisso com o jornalismo para compactuarem com a cartilha neocon. Os que têm algum compromisso com a verdade e se posicionam contra este achincalhe do jornalismo feito pela grande mídia, mesmo que seja fora das redações, são sumariamente demitidos.
São clássicas as ações detratoras de Veja até mesmo entre intelectuais respeitadíssimos mundo afora. Quem não se lembra da cruzada de Veja contra o ensino público, que escolheu como alvo Paulo Freire? (Para recordar leia aqui, aqui, aqui e aqui).
Agora a cruzada de Veja se volta contra as lutas dos povos indígenas e quilombolas pela demarcação de suas terras. Volta-se contra direitos socioambientais reconhecidos na Constituição Brasileira. Veja também sofre de um grave problema de letramento, deve ser resultado da má-formação nas escolas públicas de São Paulo, a descobrir. O fato é que para sua cruzada Veja não vê problema algum de ignorar até mesmo a Carta Magna brasileira.
A Veja pós- Mino Carta nunca escondeu o lado que defende. A revista foi a favor dos fabricantes de armas, está sempre a favor dos ruralistas e contra os sem terra, abomina a política de ações afirmativas e faz campanha acirrada contra a implementação de cotas sociorraciais nas universidades. Na luta dos povos indígenas da Raposa Serra do Sol, Veja apoiou seis arrozeiros contra cerca de 20 mil indígenas que já tinham seus direitos reconhecidos desde a época de FHC!
Veja é contra o ensino de sociologia e filosofia nas escolas públicas ou privadas e usa e abusa de seus meios para atingir seus fins.
Veja se espanta, se horroriza e se indigna até mesmo diante do fato de a maioria do povo brasileiro (formado por mulheres, negras e trabalhadaras) poder decidir a eleição. Por que Veja agiria diferente agora?
Por isso Veja despediu sumariamente um de seus editores, o jornalista Felipe Milanez da National Geographic. Despediu-o por se manifestar contra o conservadorismo excludente defendido por Veja. É simples assim. Veja e seus neocons só defendem a liberdade de expressão para detratar os seus inimigos de classe, ideologia, projetos políticos, sem jamais possibilitar o debate de idéias.
Assim, não me causa nenhum surpresa o ocorrido. Não rezou a cartilha neocon? Rua! Bilhete azul! Afinal, o front de detratores tem de manter uníssono o seu discurso.
PS1: Para quem ainda não entendeu a quem Veja serve sugiro a leitura no Observatório do Direito à Comunicação, da entrevista da historiadora Carla Luciana Silva, autora do livro “Veja: o indispensável partido neoliberal (1989-2002). O livro já está em minha lista de compras.
PS2: Hoje, estudantes da Antropologia e Sociologia organizam um debate na Universidade de São Paulo, prédio da Ciências Sociais, sala 102 às 18 hs com a presença das professoras Marta Amoroso e Dominique Gallois. No debate discutirão a postura da Revista Veja na edição 2163, ano 43, nº 18 de 05/05/2010 sobre a Antropologia e os desafios da profissão de cientista social. Minha sugestão a eles é que convençam seus pais e vizinhos a cancelarem assinaturas deste panfleto neocon, que boicotem as empresas que ainda anunciam neste panfleto neocon. Sem recursos de publicidade e sem assinantes ficará difícil manter o jornalismo defendido pelo Instituto Millenium.
Jornalista é demitido da National Geographic por criticar Veja no Twitter Por Eduardo Neco/Redação Portal IMPRENSA Publicado em: 11/05/2010 19:40O jornalista Felipe Milanez, editor da revista National Geographic Brasil, licenciada pela editora Abril, foi demitido nesta terça-feira (11) por ter criticado via Twitter a maior publicação da casa, a revista Veja.
Milanez, na National desde outubro de 2008, publicou, em seu perfil no microblog, comentários a respeito da reportagem "A farsa da nação indígena", veiculada na última edição da revista. "Veja vomita mais ranso racista x indios, agora na Bolivia. Como pode ser tão escrota depois desse seculo de holocausto? (sic)", escreveu em post no último domingo (9).
Em mensagem no mesmo dia, Milanez complementou dizendo que ignorava a Veja, mas "racismo" da publicação fez com que se manifestasse. "Eu costumava ignorar a idiota Veja. Mas esse racismo recente tem me feito sentir mal. É como verem um filme da Guerra torcendo pros nazistas (sic)".
Em entrevista ao Portal IMPRENSA, Milanez admitiu que fez observações contundentes sobre a publicação, mas que foi surpreendido pela demissão. "Fui bem duro, fiz comentários duros, mas como pessoa; não como jornalista. Fiquei pessoalmente ofendido [com a reportagem]. Mas estou chateado por ter saído assim. Algumas frases no Twitter acabaram com uma porrada de projetos", lamentou o ex-editor.
A decisão de demitir o jornalista, segundo ele, teria vindo diretamente de setores da Editora Abril ligados à revista Veja e repassada aos responsáveis pela National Geographic. "Não sei quem decidiu e como", disse.
O redator-chefe da National, Matthew Shirts, confirmou à reportagem que Milanez foi demitido pelos comentários no Twitter. "Foi demitido por comentário do Twitter com críticas pesadas à revista. A Editora Abril paga o salário dele e tomou a decisão", disse.
Ao ser questionado se concordava com a demissão do jornalista, Shirts declarou que "fez o que tinha que fazer exercendo a função".
*Colaborou Ana Ignacio/Da Redação