Como vários leitores acompanharam brevemente aqui no blog, eu estava viajando pelo continente africano na produção do Nova África, a série de tv exibida pela TV Brasil todas as sextas-feiras às 22 horas com reprise na segunda às 20 horas. Aliás quem perdeu o programa de sexta-feira, podem assistir hoje. A equipe do Nova África esteve no Malaui para acompanhar a vida dos malauianos ao redor do lago Malaui e para acompanhar um projeto governamental de estimulo aos agricultores, fornecendo sementes e insumos agrícolas, vejam aqui: Pelos vastos campos do agrário Malaui.
Começamos nossa viagem por Lisboa para acompanhar a diáspora caboverdiana, depois seguiu para a Ilha de Santiago que percorremos de ponta a ponta e conhecemos um pouco da vida dos Rabelados, das Rabidantes, encontramos o sr. Domingos Monteiro, o 'caçador de nuvens', ouvimos o funaná e o batuko, bailamos ao som da morna e koladera tocada por Tito Paris descobrimos como a tecnologia bem utilizada aproxima os caboverdianos entre as ilhas e também aproxima aqueles que ficam no arquipélago e os que migram, além de ajudar no combate à dengue entre tantas outras descobertas.
Na Ilha do Fogo subimos o vulcão Pico do Fogo conhecemos como cooperativados fabricam um vinho cada vez mais apreciado em Cabo Verde e, finalmente, em Mindelo, capital da Ilha de São Vicente, entrevistamos Cesária Évora e Hernani Almeida, gravamos com o mestre construtor de instrumentos de cordas Aniceto, que aprendeu seu ofício com o mestre Batista, pai do músico instrumentista e também construtor de instrumentos: Bau, que participa da trilha sonora do filme Hable con Ella do espanhol Almodovar.
Seguimos para Guiné Bissau onde vimos como o caju brasileiro passou a ocupar uma boa parte do território guineense e tornou-se o principal produto de exportação do país, in natura, já que a Guiné Bissau não possui indústrias de processamento. Entrevistamos intelectuais como o escritor Abdulai Silá, empresários como Braima Camará e mulheres ativistas e empreendedoras como Macaria Barai e Dulce Baticã e muitas outras lutadoras guineenses.
Vimos uma festividade do povo Balanta, onde jovens dançam e lutam em um ritual de passagem que reafirma força e virilidade necessárias para enfrentar os desafios do mundo adulto. Visitamos as tabancas de três ilhas no belíssimo arquipélago de Bijagós, vimos o vigor da juventude caminhando lado a lado com a tradição, expressa no depoimento do régulo Augusto Fernandes e na disposição espacial da organização das construções nas tabancas.
O que me impressionou particularmente foi constatar que a crise política recente da Guiné entre militares e instituições governamentais passa ao largo do povo guineense, um povo simpático, educadíssimo que nos cumprimenta em todas as situações, que pede e gosta de ouvir 'com licença, obrigada, bom dia, boa tarde, boa noite'...
Bissau não tem energia elétrica, mas sobra energia no povo lutador que busca reconstruir o país pós-colonialismo e após as guerras recentes. A beleza natural da Guiné Bissau, assim como a simpatia de seu povo nos enche os olhos e dá pra sentir no ar que as mudanças estão em curso.