Professora Eva Blay é uma feminista histórica, era suplemente de FHC e assumiu o Senado quando ele se tornou ministro do governo Itamar Franco.
Nesta entrevista à Mônica Bergamo ela conta como foi tratada quando apresentou o seu projeto para legalização do aborto no Brasil.
Chama a atenção em seu depoimento a solidariedade de Benedita da Silva (PT). Independente de sua ideologia partidária, Benedita da Silva socorreu Eva Blay das agressões. Entretanto, hoje, Eva Blay não faz a critica à campanha insidiosa de seu partido que permite até que panfletos da TFP sejam distribuídos em reunião de cúpula tucana. Pelo visto a professora Eva Blay não será capaz de exercer a solidariedade de gênero em relação à candidata Dilma Rousseff. E isto é deveras preocupante.
Para Eva Blay, Lula não conseguiu transferir votos, segundo ela 'emplacar' Dilma Rousseff. Como Dilma Rousseff não 'emplacou' se conseguiu 47 milhões de votos? Esta é uma questão que Mônica não fez e Eva Blay não precisou responder.
Entrevista a Eva Blay (PSDB) "DIZIAM QUE EU ERA REPRESENTANTE DO DIABO"
Por Mônica Bergamo, na Folha de S.Paulo
Eva Blay (PSDB-SP), suplente de Fernando Henrique Cardoso que assumiu o Senado em 1993, quando ele virou ministro do governo Itamar Franco, apresentou um projeto para legalizar a prática do aborto no Brasil. Ela relembra que quase foi agredida por grupos religiosos "extremamente violentos" e diz não acreditar que a discussão tenha tirado votos do PT na reta final do primeiro turno eleitoral.
Folha - A senhora apresentou um projeto para legalizar o aborto e ele foi arquivado. Como vê o assunto voltar ao centro dos debates no Brasil?
Eva Blay - Está havendo uma confusão muito grande. Este é um problema da sociedade civil, que tem múltiplas posições a respeito da questão. E infelizmente determinadas igrejas ficam pressionando por uma questão que é de saúde pública. Como foram as pressões na época do seu projeto?
Convidei pessoas das mais diferentes posições para um debate: cientistas, políticos, várias igrejas. Em Brasília existe um movimento católico carismático que é extremamente violento. Eles invadiram o Senado gritando e carregando cartazes que me agrediam muito fortemente. Diziam que eu era representante do diabo, fizeram insinuações sobre a minha posição como judia. Fizeram uma missa em pleno corredor. E alguns funcionários -isso foi gravíssimo- do Senado que tinham posição contrária ao projeto gritavam e tentavam me agredir. Quem me salvou foi a [senadora] Benedita da Silva [PT-RJ]. Como?
A Benedita tinha ido lá para dar um depoimento terrível. Ela é contra, por suas convicções [Benedita é evangélica]. Mas disse que fez um aborto [quando jovem] porque não queria colocar no mundo mais uma criança para morrer de fome. Todo mundo chorou. Quando [os manifestantes] começaram a me cercar, a Benedita chamou a segurança. Minha filha, que estava lá assistindo, gritava: "Mãe, não responde, não responde!". Ela ficou apavorada. A igreja interdita o debate?
Eu não sei se é a Igreja Católica como um todo ou se é uma facção. Pela minha experiência, eu acho que é pior com esse grupo carismático. Mas nós vivemos numa República. Eu tenho a referência do judaísmo, que não proíbe o aborto, principalmente quando se trata da saúde da mulher.
Uma coisa é a descriminalização. A outra é "vamos fazer aborto livre". Olha, o poder da igreja é muito grande no Brasil. Até na Itália, que é um país católico, foi feito um plebiscito e o aborto hoje é legal.
O aborto tirou votos da candidata do PT?
Eu não acredito. Acho que foi só um argumento para enganar, sabe? Eles [partidários da candidatura de Dilma Rousseff] têm que explicar porque a Marina [Silva] subiu, né? E por que o Lula não conseguiu emplacar.