Professora Clarice Cassab: porque voto Dilma Rousseff

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Reproduzo a carta da professora do curso de Geografia da Universidade Federal de Juiz de Fora expondo os motivos do seu voto em Dilma Rousseff.

É interessante observarmos como os professores das universidades federais, assim como os reitores tem nítida clareza do tratamento dado para as universidades públicas durante o governo FHC (que as sucateou) e durante o governo Lula que além de recuperá-las, criou 12 novas universidades.

Caros colegas e alunos,

Tomei a iniciativa de escrever esta carta com o objetivo de explicitar qual meu voto e quais os motivos que o justifica. Para mim está evidente a oposição entre dois projetos. Um simbolizado pela eleição da candidata Dilma e outro pelo do candidato Serra. É clara a oposição entre dois projetos de Brasil. De um lado o projeto do PT e do outro o do PSDB. Talvez por isso seja importante fazermos algumas considerações entre as experiências de governo FHC (PSDB) e Lula (PT). Farei essa comparação a partir de dados levantados em diferentes fontes.

Durante os 8 anos de governo FHC sua política foi marcada pelas privatizações. O argumento era que as privatizações permitiriam o pagamento de parte significativa da dívida interna, possibilitando, desta forma os investimentos que o Estado não conseguia mais viabilizar.

Os resultados das privatizações já são conhecidos. Lembro de apenas um – e que vai na contraposição ao argumento central em favor das privatizações. Apesar de ter ocorrido um abatimento contábil na dívida interna, o que a privatização produziu foi um aumento da dívida externa e do passivo externo do país. Isso porque, por exemplo, muitas empresas privadas pegaram empréstimos no exterior para comprarem estatais. Também porque as estatais foram vendidas para estrangeiros que remeteram (e remetem) seus lucros e dividendos para fora do Brasil. A remessa de lucros e dividendos para o exterior triplicou: de 9 bilhões de dólares, no período 1981-90, para 27,3 bilhões de dólares no período 1991-1999. Além disso, também as controladoras estrangeiras vendem no mercado interno brasileiro (em reais) mas compram dos seus fornecedores habituais no exterior (em dólares).

Vale também lembrar os inúmeros escândalos que envolveram o processo de privatização. Segundo o governo FHC, o Brasil teria de 1991 a 1998 arrecadado 85 bilhões de reais com as privatizações. Apenas a Vale (antiga Vale do Rio Doce) teve um lucro de R$ 6,635 bilhões no segundo trimestre de 2010 (conforme site oficial).

Assim, se no início do governo PSDB a dívida pública representava 38% do PIB, ao final passou para 78% e a carga tributária que era de 27% e passou para 38%. Para onde foi o dinheiro das privatizações? Certamente não foi gasto em investimentos na melhoria do salário real dos trabalhadores, na construção de habitações populares, na saúde pública ou na educação pública.

Ao término da gestão do PSDB na presidência o salário mínimo era de $70 e foram criados, em oito anos apenas 780 mil empregos. O dólar estava a R$3,26, a dívida com o FMI triplicada, os valores da reserva nacional estavam em U$ 31 bilhões e a taxa de juros Selic de 26,5 ao ano. Não houve um investimento em infra-estrutura. Apena 2 milhões de pessoas saíram da linha da pobreza. Estes são apenas alguns números.

Vejamos agora a situação das universidades públicas. Durante os anos de governo FHC não houve a criação de uma única universidade ou escola técnica. Em função de mudanças nas regras da aposentadoria houve um grande movimento de docentes se aposentando. A contrapartida do governo foi a realização de NENHUM concurso público. As universidades foram invadidas por professores substitutos mal remunerados e com baixa formação e sem desenvolverem pesquisa e/ou extensão. Universidades sem verbas caiam aos pedaços por todo o Brasil. O dinheiro para pesquisa e extensão era quase nulo e quando havia era direcionado apenas para as consideradas universidades de ponta. Não havia investimento na graduação e nem na pós. Foram 8 anos sem aumento real do salário dos professores e TAEs. Por estas razões as greves eram constantes atrasando a formação de centenas de alunos todos os anos.

Na gestão Serra no governo de São Paulo não foi muito diferente. Todas as contas do governo foram entregues a um banco privado. Todas as hidrelétricas de São Paulo foram vendidas, assim como várias estradas. Hoje o valor do pedágio em São Paulo é um dos maiores do Brasil. Serra tratou a educação na base da violência policial. Reprimiu com violência a greve dos professores estaduais e mandou a polícia invadir o campus da USP, fato que só aconteceu durante a ditadura.

Acusam o governo Lula de corrupção. Vejamos. Durante o governo PSDB estes foram alguns dos escândalos. 1 - Conivência com a corrupção; 2 - O escândalo do Sivam; 3 - A farra do Proer; 4 - Caixa-dois de campanhas; 5 - Propina na privatização; 6 - A emenda da reeleição ; 7 - Grampos telefônicos; 8 - TRT paulista; 9 - Os ralos do DNER; 10 - O "caladão"; 11 - Desvalorização do real; 12 - O caso Marka/FonteCindam; 13 - Base de Alcântara; 14 - Biopirataria oficila; 15 - O fiasco dos 500 anos; 16 - Eduardo Jorge, um personagem suspeito ; 17 - Drible na reforma tributária ; 18 - Rombo transamazônico na Sudam ; 19 - Os desvios na Sudene ; 20 - Calote no Fundef ; 21 - Abuso de MPs ; 22 - Acidentes na Petrobras ; 23 - Apoio a Fujimori ; 24 - Desmatamento na Amazônia ; 25 – Os computadores do FUST ; 26 - Arapongagem ; 27 - O esquema do FAT ; 28 - Mudanças na CLT ; 29 - Obras irregulares ; 30 - Explosão da dívida pública ; 31 - Avanço da dengue ; 32 – Verbas do BNDES ; 33 - Crescimento pífio do PIB ; 34 – Renúncias no Senado ; 35 - Racionamento de energia ; 36 - Assalto ao bolso do consumidor ; 37 – Explosão da violência ; 38 – A falácia da Reforma agrária ; 39 - Subserviência internacional ; 40 – Renda em queda e desemprego em alta ; 41 - Relações perigosas ; 42 – Violação aos direitos humanos ; 43 – Correção da tabela do IR ; 44 – Intervenção na Previ ; 45 – Barbeiragens do Banco Central (Para lembrar: http://www.consciencia.net/brasil/03/cardoso.html).

A resposta da polícia federal? Apenas 80 prisões durante todos os 8 anos de FHC.

Vejamos agora alguns dados do governo Lula. Quitou a dívida externa e a dívida com o FMI. Em sua gestão o salário mínimo passou para $210. Foram criados 13 milhões de empregos. A taxa de desemprego caiu de 12,2% para 7,4% e 23 milhões de pessoas saíram da linha da miséria. A diminuição das desigualdades não se deu apenas pelo Bolsa Família (que senadores e deputados do PSDB constantemente em plenário chamam de bolsa esmola) mas também por programas como Pronaf e Luz para Todos. Também com o aumento do salário mínimo e geração milhões de empregos.

Lula investiu R$524 bilhões em infra-estrutura. 7.200.000 pessoas no campo foram beneficiadas com energia elétrica (durante o governo FHC foram 2.700 pessoas). Foram construídas 4,5 bilhões de habitações populares (no governo FHC, 1,7 bilhões). O presidente “ignorante” implantou 214 Institutos Federais Tecnológicos, 10 novas universidades e 45 extensões universitárias. Muitas fora das regiões dinâmicas do país. Ampliou os incentivos à pesquisa e à extensão. Aumentou o número de vagas nas universidades ampliando seu acesso.

Críticas a política do PT e ao governo Lula devem ser feitas. E torço para que tenhamos capacidade de organização e mobilização para que possamos fazê-las e com isso pressionarmos o governo na direção da resolução de muitas das suas contradições. É evidente para mim que são muitas e que ele ainda está longe de meus ideais. Mas dentre todas as críticas que posso fazer não cabe a que diz que Serra e Dilma, PT e PSDB são as mesmas coisas. Existe uma NÍTIDA, diferença entre eles. Diferença evidenciada ainda mais quando comparamos os 8 anos de FHC aos 8 anos de Lula.

É por isso que diante da atual disputa presidencial me pergunto: qual governo quero? Que projeto de Brasil que me apresentam é aquele no qual devo votar.

Creio que só posso respondê-las quando pondero que meu voto não pode ser pensando apenas individualmente (seja pelos meus interesses individuais sejam pelas minhas utopias políticas – utopias desejáveis e realizáveis, eu creio). Só posso respondê-las quando eu as trago para a conjuntura, o tempo presente. Quando analiso o mapa das eleições do primeiro turno e vejo que Serra ganhou nos estados onde reina a oligarquia da soja e da pecuária. Só posso respondê-las quando assumo abertamente que não sou partidária da política do “quanto melhor pior”. Só posso respondê-las quando me faço outra pergunta: Na atual disputa presidencial o que se coloca como melhor ao trabalhador?

Para mim é clara a resposta e diante dela não é possível não me posicionar. EU VOTO 13! EU VOTO DILMA ROUSSEFF.

*Clarice Cassab, Profa. do curso de Geografia da UFJF