Dilma versus Serra, o que está em jogo nestas eleições?
Por: Arnóbio Rocha em seu Blog
Este jogo de projetos alternativos volta ao mundo depois de 19 anos de massacre e pensamento único, a Direita tinha seu projeto e era incontestável, hoje ela não tem projeto, apenas administra (mal e porcamente) a crise gigantesca, mas ainda não achou um novo cabedal político e ideológico a ancorar.
À esquerda na sua longa crise letargia ainda não forjou um novo paradigma na luta contra o capital, aqueles (trotskistas) que achavam que a revolução se abria não conseguiu encontrar seus “novos/velhos Soviets” nem a Direita achará seu “Estado de Bem estar Social”.
A questão é complexa para os dois lados, buscar teoria já testada é necessário, porém mundo não é o mesmo de 1917 e nem anos pós-guerra. Este é desafio da Direita e o nosso da Esquerda: entender o mundo parece secundário, mas ambos (direita e esquerda) dão respostas com receituário velho para novas doenças. Agora empatamos o jogo, estamos sem armas e certezas absolutas.
Claro que a situação é melhor já não sofremos o massacre político-ideológico destes últimos 20 anos, mas também não nos conforta saber que fomos incapazes de repensar nossos conceitos, nem o velho Marx conseguimos entender. Neste tempo todo não termos feito nada de concreto, alternativo, apenas resistir é muito pouco.
O Brasil e o neoliberalismo
Limitarei a falar sobre o período Lula, pois é mais que evidente que Collor/Itamar e mais ainda FHC abraçaram felizes o Neoliberalismo sem menor divergência com suas diretrizes.
Nenhum projeto político ficou imune a lógica Neoliberal, o do PT de Lula se adaptou a este mundo, mas por uma condição particular de extrema miséria e às doses cavalares do receituário neoliberal aplicados aqui, já se começava a gestar iniciativas tímidas de tentativas de fazer algo diferente à política dominante.
Dois fatores, para mim foram fundamentais:
1) Diminuição da dependência americana, busca de novos parceiros comerciais;
2) Rompimento com a política de privatizações, que preservou o Banco do Brasil a CEF e a Petrobras;
Mesmo sob críticas ferozes Lula buscou desde 2003 remar lentamente contra a maré, fez uma excelente política externa coordenada por Celso Amorim, aproximando da China, da África e uma aliança estratégica com a Europa, em particular com a França.
Impulsionou o G20 grupo que passou a ter voz ativa na OMC e fazer frente às demandas dos países centrais de maior exploração dos recursos destas nações e imposição de seus interesses de privatização e invasão de seus produtos.
A segunda política, a de parar as privatizações salvou um pouco do patrimônio público e deu margem de manobra para impulsionar uma política de desenvolvimento incentivado pelo Estado.
A Petrobrás que quase fora privatizada por US$ 3 bilhões em 1999, em janeiro 2003 tinha seu patrimônio em US$ 20 Bilhões, em janeiro de 2010 ela vale US$ 200 Bilhões e movimenta cerca de 10% do PIB, sendo hoje a quarta maior petroleira do mundo. Os ganhos do Pré-Sal podem definitivamente tirar o Brasil da miséria endêmica.
Cenário atual
Direita americana, mais radical é a religiosa, tratam Obama como Bolchevique, podem acreditar, está cada dia mais xenófoba e alguns estados aprovam leis mais restritivas aos imigrantes. Na França Sarkhozi que já estigmatizara os mulçumanos, agora quer deportar em massa os ciganos. Espanha, mesmo governada pelo PSOE, restringe os direitos dos estrangeiros, pois há um desemprego em massa.
No Brasil a esquerda brasileira (PT) ocupou um espectro mais amplo, tomou o centro do PSDB, sobrou apenas a Direita mais raivosa, fundamentalista a eles. Este deslocamento de forças e projetos, ainda não se deu por completo no imaginário popular, PT ainda é identificado como esquerda raivosa, muitos “absorveram” Lula, mas é fato que ainda temem o PT, isto é reforçado por um discurso extremamente preconceituoso de Serra, que afaga a Direita.
Mobilidade do PT rumo ao centro, independe de Lula, foi à realidade que o empurrou ao centro, para ter maior interlocução com outras forças que fazem o jogo político no Brasil, tirando do PSDB a hegemonia na sociedade.
Entender o que está em jogo é mais importante das tarefas de cada militante e explicar pacientemente a cada um, as questões subjacentes aos grandes debates é que novas e velhas demandas aparecem ou reaparecem com força, mas não podemos nos agarrar a este debate menor e esquecer a luta principal.
Questões como aborto, liberdade de culto, de expressão são temas que cortam a sociedade, mas não podem ser o mote de qualquer resposta global às demandas mais prementes do Brasil.
Defender este legado de Lula e contrapô-lo ao que foi o Governo FHC que tem em Serra seu representante, ainda que piorado, pois incorpora um discurso que se aproxima ao fascismo, é fundamental neste momento.
Arnóbio Rocha: O que está em jogo nestas eleições
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