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Carlos Drummond de Andrade A Milton Campos Os romeiros sobem a ladeira cheia de espinhos, cheia de pedras, sobem a ladeira que leva a Deus e vão deixando culpas no caminho. Os sinos tocam, chamam os romeiros: Vinde lavar os vossos pecados. Já estamos puros, sino, obrigados, mas trazemos flores, prendas e rezas. No alto do morro chega a procissão. Um leproso de opa empunha o estandarte. As coxas das romeiras brincam no vento. Os homens cantam, cantam sem parar. Jesus no lenho expira magoado. Faz tanto calor, há tanta algazarra. Nos olhos do santo há sangue que escorre. Ninguém não percebe, o dia é de festa. No adro da igreja há pinga, café, imagens, fenómenos, baralhos, cigarros e um sol imenso que lambuza de ouro o pó das feridas e o pó das muletas. Meu Bom Jesus que tudo podeis, humildemente te peço uma graça. Sarai-me Senhor, e não desta lepra, do amor que eu tenho e que ninguém me tem. Senhor, meu amo, dai-me dinheiro, muito dinheiro para eu comprar aquilo que é caro mas é gostoso e na minha terra ninguém não possui. Jesus meu Deus pregado na cruz, me dá coragem pra eu matar um que me amola de dia e de noite e diz gracinhas à minha mulher. Jesus Jesus piedade de mim. Ladrão eu sou mas não sou ruim não. Por que me perseguem não posso dizer. Não quero ser preso, Jesus ó meu santo. Os romeiros pedem com os olhos, pedem com a boca, pedem com as mãos. Jesus já cansado de tanto pedido dorme sonhando com outra humanidade.