Nos últimos dias li na minha time line do twitter muita, mas muita bobagem mesmo sobre o PNDH III: políticos de oposição, incluindo tucanos, demos, e cidadãos anti-petistas roxos, todos dizendo que o Plano Nacional de Direitos humanos recém apresentado era autoritário, que não foi discutido de modo democrático; foi imposto; que vai transformar o país em uma nação comunista; que Lula quer dar o golpe branco; que é inconstitucional etc etc etc. Enfim, a cada linha que lia eu me espantava mais com a falta de conhecimento dos 'opinadores' de última hora, a maioria reproduzindo a bobageira de Cantanhêde, Tio Rei e seus miquinhos amestrados.
Li o excelente post do Raphael Neves que se abateu com a truculência do debate, assim como o @dcalazans. Li alguns outros artigos sobre a tal da 'crise militar', a chiadeira da igreja, dos ruralistas, dos donos dos meios de comunicação.
Eu sei que a imprensa tem interesses excusos, que sua prática nos últimos tempos é de criar uma crise por dia, mas me pergunto chegariam tão baixo? Afinal, até os minerais sabem que desde o governo FHC, por meio do professor Sérgio Pinheiro Pinheiro que foi secretário de Direitos Humanos naquele governo e hoje atua como relator da ONU e é um dos brasileiros mais respeitados e conhecidos no exterior na área de direitos humanos, a sociedade civil pressiona para que possamos enfim discutir a tortura impetrada pelo Estado nos duros anos de chumbo e nosso país avança em ao menos buscar cumprir o que acordamos com todos os tratados e declarações internacionais na área de DH.
Acompanhei os debates ocorridos aqui em São Paulo durante todo o ano de 2009, que se iniciaram com o famigerado editorial da Folha sobre a "ditabranda' e se desdobram em inúmeros eventos ocorridos na Universidade de São Paulo e outros espaços. E embora o governador Serra em 2000 tenha, numa frase infeliz, relativizado o que não se pode relativizar "Direitos Humanos para humanos direitos", em 2009 foi o próprio governo do estado de SP que coordenou os debates regionais sobre a preparação para a Conferência Nacional dos DH.
Como aponta o professor Paulo Sérgio Pinheiro em entrevista ao Roldão hoje no Estadão: 'Uma das tarefas da Comissão da Verdade proposta seria requisitar os arquivos das Forças Armadas. "Isso deve ser feito, não para julgar ninguém, porque nenhuma Comissão da Verdade faz isso, mas sim reconstituir o passado", diz o cientista político Paulo Sérgio Pinheiro, relator da ONU. "Essa conversa de revanchismo é coisa de saudosistas da ditadura."
Qual o interesse então dos senadores e deputados do Demo como Demóstenes que fala em 'cubanização do Brasil' ou o Deputado Ronaldo Caiado que chegou a chamar o presidente da República de 'idiota' que quer dar o golpe branco e de simpatizantes do PSDB e aliados em dar coro à furia daqueles que na imprensa pretendem blindar torturadores, já que até os minerais sabem (licença, Mino Carta de novo) que tal programa não tem poder de lei? Seria falta de leitura, problemas com letramento ou má fé?
PS. Sim, Alon, escrevi este comentário introdutório com o fígado, neste caso, dá para fazer diferente?
Abaixo reproduzo duas matérias, uma de hoje publicada em Época e uma de agosto de 2009, antes, portanto de mais uma 'crise' oportunista em torno de uma discussão que é central para que nós possamos efetivamente viver uma democracia plena.
Da Revista Época: “Lula não inventou isso”
O repórter Roldão Arruda publica na edição de hoje no Estado de S. Paulo uma entrevista com Paulo Sérgio Pinheiro, que atua desde 1995 como relator da Organização das Nações Unidas (ONU) na área de direitos humanos. Figura importante no governo de Fernando Henrique Cardoso, Paulo Sérgio Pinheiro tem muito a dizer sobre o debate provocado pelo Programa Nacional de Direitos Humanos assinado por Lula no final do ano passado. Para quem imagina que o fim do mundo começou naquele dia, o professor esclarece: “Não foi o presidente Lula quem inventou isso. “Essa é a terceira edição do programa. Os dois anteriores, lançados em 1996 e em 2002, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, tinham a mesma abrangência do programa que está sendo debatido agora. E tanto Lula quanto Fernando Henrique acertaram, porque direitos humanos não abarcam apenas direitos civis e políticos, como se imagina. Eles abrangem também questões como a fome, o racismo, gênero, distribuição de renda, salário, acesso à cultura, proteção das crianças contra a violência e muitas outras coisas.” Roldão conta que em função de seu trabalho no governo de Fernando Henrique Cardoso o professor foi convidado pelo ministro Paulo Vannuchi para ajudar na revisão do texto da terceira edição, lançada em dezembro. “Tudo foi feito de maneira séria e democrática. A conferência nacional de direitos humanos, realizada em dezembro de 2008 e de onde saíram as diretrizes do programa, foi precedida de conferências estaduais por todo o País. Os debates foram abertos e sem cartas marcadas. Em São Paulo a conferência foi organizada pelo governo de José Serra, com o secretário de Justiça, Luiz Antonio Guimarães Marrey”. “Mais tarde foram redigidas quase uma dúzia de minutas, para novas discussões. Todos os ministérios discutiram e concordaram, com exceção de Nelson Jobim. "
E uma entrevista com Paulo Sérgio Pinheiro sobre a Comissão da Verdade de agosto de 2009:
Tortura ainda é praticada no Brasil, diz cientista político
Para especialista, isso ocorre porque ainda não houve ruptura com a ditadura militar