Historiadora, pedagoga, educadora, formadora, blogueira, autora de coleções didáticas e séries para a televisão.
"Nova África" mostra excelência da TV pública
Abaixo, reproduzo a leitura acurada do jornalista, cineasta e professor da UFF (Universidade Federal Fluminense) Maurício Caleiro sobre a série Nova África.Tomei a liberdade de 'roubar' seu post inteiro para cá e para o blog da História em Projetos.
Visitem o blog do Caleiro é uma viagem à parte: Cinema e outras artes
E deixo aqui meus agradecimento ao Maurício pela sensibilidade e delicadeza ao analisar o nosso trabalho, grande abraço.
Conceição Oliveira
Domingo, 20 de Setembro de 2009
"Nova África" mostra excelência da TV pública

“No segundo programa, no interior de Moçambique, encontramos a professora Diamantina embaixo de um cajueiro. Era sábado, dia de entrega de material. A cena é fabulosa, passávamos pela estrada e vimos uma roda imensa de crianças ao redor do cajueiro, protegidas do sol pela copa da árvore. Ela dá aula sozinha para 360 alunos em condições distantes da ideal - e não precisa dar um grito para ter atenção. Foi uma lição de vida para todos... Você vai se emocionar, as crianças cantaram lindamente para nós, chorei. Aliás, as crianças de Moçambique me emocionaram sempre”.Excelência técnica e imersão emocional A direção de fotografia da série (Markus Bruno) não pode ser considerada menos do que primorosa: gravações tecnicamente bem-resolvidas, mas feitas no calor da hora, no melhor estilo jornalístico, combinam-se a tomadas que evidenciam um cuidado extremo não apenas com angulações, movimentos de câmera e composições de quadro, mas em trabalhar a luz – no mais das vezes intensa e natural – de modo a realçar o universo multicolorido do continente sem folclorizá-lo. Tais imagens são trabalhadas por uma montagem que é ágil sem jamais ser neurótica e “videoclipada”, como ora em voga: respira, tem ritmo; não se furta a compor mosaicos com imagens em profusão, mas respeita a relação com o objeto retratado, não hesitando em se deter em determinada tomada por um tempo mais longo, se conveniente. E, embora a ficha técnica não elenque sound design ou montagem de som entre seus quesitos, o som é tratado com especial atenção, seja em relação à imagem, como elemento de condução da narrativa ou exercendo a função de realçar à riqueza musical da África. Trata-se de um aspecto técnico tratado com um apuro raro de se observar em produções jornalístico/documentais da TV brasileira. Desnecessário dizer que as manifestações sonoras retratadas são, literalmente, um show à parte – valorizado, no caso, pela trilha sonora e pela mixagem de Rafael Gallo. É na música e na dança, mais do que em qualquer outra arte, que a excepcional aptidão artística dos africanos se evidencializa, como manifestação de uma alegria que não sem frequência contrasta com a escassez material em volta:
“Voltei com a sensação de que se há um continente onde seus povos são sinônimo de resistência é o africano. Foi uma das experiências mais marcantes da minha vida como pessoa, estudiosa do assunto, como mulher – afirma Conceição, que promete postar em seu blog algumas histórias sobre a empreitada e “pôr no ar algumas fotos dos sorrisos mais lindos que vi na vida” (o primeiro texto já esta lá, confira).Um tema tão raras vezes visto nas telas brasileiras, tratado com tamanha sensibilidade e alto grau de excelência técnica, prova a que veio uma TV pública que foi injusta e impiedosamente combatida por certos setores da mídia e pelas penas de aluguel a seu serviço. Pois, caro(a) leitor(a), não se deixe iludir: nenhum canal comercial ousaria produzir uma série com tamanha qualidade, que se estendesse por tanto tempo e sobre um assunto sem apelo comercial para os grandes anunciantes - porém, como a própria série demonstra, essencial para uma melhor compreensão não apenas da África e dos africanos, mas, através dela, do que somos nós: é a TV pública brasileira dizendo a que veio.
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