TV Brasil lança "Nova África" contra estereótipos
[caption id="attachment_1367" align="aligncenter" width="500" caption="Meninas Macua da Ilha de Moçambique fotografadas por Conceição Oliveira "][/caption] por Thais BilenkyNesta quarta, 23, no Rio de Janeiro, a TV Brasil lança a série "Nova África", que entra na programação a partir do dia 25 de setembro, às 22h. Co-autora do projeto editorial que venceu o edital da rede pública, ao lado do jornalista Luiz Carlos Azenha, a historiadora Conceição Oliveira descreve o projeto:
- A série vai representar o continente africano sem aquele olhar folclorizado, de "continente da barbárie, o continente que não deu certo". O programa procura fugir de estereótipos.
Conceição explica que, visitando cerca de 40 países africanos, em grande parte por terra, a produção dá espaço a vozes em geral menosprezadas. "A intenção é escutar os próprios africanos de diferentes estratos sociais. Trabalhadores, mulheres, homens, escritores, políticos... Mas nós não chegamos com o discurso pronto".
A historiadora participou da captação e pré-produção dos três primeiros programas, gravados em Moçambique. Ela relata que a equipe se deparou com situações inusitadas que revelam a resistência diária da população africana.
"Um sábado de manhã, estávamos deixando a ilha de Moçambique de carro, um longo percurso. A gente demorou para ver, debaixo de um cajueiro, um monte de guris e uma professora entregando material escolar. Os meninos se assustaram, saíram correndo. Depois conhecemos a professora Diamantina. Ela dá aulas para 350 meninos, em um povoado no interior da Zambézia. A professora Diamantina faz uma diferença imensa, só tem ela", conta Conceição.
Essa história é uma das que compõem a série, que terá 26 programas, com 2 blocos de aproximadamente 13 minutos cada, em parceria com a produtora Baboon Filmes.
Outra história, continua Conceição, é a do senhor Germano. Sozinho, ele é o responsável pela produção de barcos em Quelimane, na Zambézia, nas proximidades do Rio Bons Sinais. Sem energia elétrica, com ajuda do filho, ele demora quatro meses para fabricar um barco. "São muito importantes, são os únicos que fazem na região", impressiona-se Conceição.
Para a historiadora, que produz também material didático, é muito importante trazer à luz, no Brasil, essa visão, segundo Conceição, menos viciada da África. O continente foi dominado pelo imperialismo, mas o verdadeiro agente de sua história são, inegavelmente, os próprios africanos e é isso que a série pretende evocar, diz.
A equipe de produção está agora no Congo, após ter passado pela Bélgica, justamente para compreender o Congo belga. Vão na sequência para Ruanda e Burundi.
Na África do Sul, a questão central a ser tratada é a distribuição de terras depois do apartheid. "Passados quinze anos, os negros conseguiram território?", questiona a historiadora. O segundo foco no país será a imigração. Diz Conceição que há cerca de 5 milhões de africanos de países fronteiriços vivendo na África do Sul. O desemprego está próximo a 25% da população e o resultado acaba sendo a xenofobia, lamenta.
Outras questões pululam. As línguas oficiais versus as locais compõem a identidade das populações e, para a co-autora do projeto de "Nova África", demonstram a resistência africana. Para informações complementares a equipe da série prepara um blog, em breve no ar.
Atualização: clique aqui para ir ao blog da série Nova África