Sexta-feira, 25 de setembro, às 22 hs estréia na TV Brasil a série Nova África
por: Conceição Oliveira
Compreender a África é sumamente um exercício crítico. Uma das suas metas aponta para o desvendamento de realidades encobertas por mitos, ficções e imagens fantasiosas. Indiscutivelmente, ainda que existam visões estereotipadas cultivadas contra outros povos e regiões, a África, mais do que qualquer outro continente, terminou encoberta por um véu de preconceitos que ainda hoje marcam a percepção da sua realidade. (Maurício Waldman, 2006)
Na minha África moçambicana a esperança nos olhos dos pequeninos: crianças de Beira, província de Sofala, Moçambique, voltando da escola, junho de 2009.
Desde a graduação, estimulada e sob orientação da professora Maria Odila e depois da professora Siívia Lara, professor Bob Slenes, professor Sidney Chalhoub, professora Clementina Cunha e, mais recentemente, professor Carlos Serrano, professora Anita Morais, professora Rejane Vecchia a importância dos negros na história de nosso território, assim como a história do continente africano despertaram e ainda muito me interessam.
Ao longo desses mais de 20 anos, às reflexões acadêmicas somaram-se o ativismo na luta contra o racismo e na luta pela inclusão plena à cidadania da população negra brasileira. Por meio do trabalho de formação dos professores, do trabalho de pesquisa e escrita das coleções didáticas de história, por meio dos blogs sempre focando a educação pautada na igualdade étnico-racial e, principalmente para que a 10639/03 se torne realidade em nossas academias e na Educação Básica.
Por isso, foi com imenso prazer e, ao mesmo tempo, ciente do enorme desafio que nos cabia que aceitei o convite do meu amigo, mas antes de tudo, do jornalista sério e responsável que é Luiz Carlos Azenha, para compor esta pequena equipe, formada pela produtora Baboon Filmes, para disputar o Edital da TV Brasil (leia-o aqui e aqui veja a apresentação da equipe no site do Vi o mundo).
Meninas Macua da Ilha de Moçambique fazem graça, chamam a atenção e posam para as minhas lentes. Deixei a ilha chorando. Um misto de emoção, saudades, encantamento e solidariedade invadiu-me.
Não é um trabalho fácil desconstruir inúmeros estereótipos sobre o continente africano reafirmados ao longo de séculos e vencer os inúmeros silêncios aos quais os próprios africanos foram submetidos. Nossa tarefa será dar conta em 26 programas de 26 minutos cada, divididos em dois blocos, de alguns aspectos que nos foram revelados durante as viagens.
Nova África é acima de tudo uma série jornalística que dá voz e vez aos africanos para que eles próprios falem de seus problemas e soluções. Tocaremos em feridas, problemas de diferentes ordens serão tratados ao longo da série, mas sem perdermos a perspectiva de que os africanos são sujeitos da história, não formam um bloco único e homogêneo nem em termos étnico-culturais, nem políticos, nem econômicos.
Acredito que ao conhecer um pouco mais sobre os diferentes países que visitamos e ainda iremos visitar, o público brasileiro também se impressionará com a enorme capacidade de resistência dos povos africanos.
Na ilha de Moçambique eu, a jovem Maconde Ana com suas irmãs menores e a repórter da série Nova África, Aline Midlej.
Aos ver os programas da série vocês conhecerão diferentes atores sociais deste continente: homens e mulheres trabalhadores, ativistas, artistas plásticos, políticos, escritores, cantores etc.
Em minha opinião, temos muito a aprender com a professora Diamantina que vive no Alto Ligonha, na província da Zambézia, Moçambique. Ela dá aulas, em salas rurais com teto de palha e bancos de madeira quase na altura do chão e, muitas vezes, debaixo do cajueiro para 360 alunos! Ela consegue ensiná-los com uma doçura que nos comove.
Alunos da professora Diamantina, Alto Ligonha, Zambézia, Moçambique, junho 2009.
Temos muito a aprender com a adolescente Belquiça, uma garota Macua da Ilha de Moçambique, que além de ótima aluna, neta carinhosa, dedica parte de seu tempo a tocar um projeto de rádio comunitária e educativa falando dos principais problemas que afetam a população da Ilha.
Seu Germano de Quelimane, cidade nascida em um dos braços do delta do rio Zambeze, por onde passou Vasco da Gama a caminho para as Índias, lembra-me a famosa frase de Euclides da Cunha, mas revisitada: “O africano é antes de tudo um forte”. É preciso ser portador de uma resistência hercúlea para tocar a vida em um país que foi sangrado por séculos por um colonialismo predador, depois achacado por 16 anos de guerra civil violenta e ainda assim tocar a vida, fazendo a diferença.
Nesta nova série eu espero que você aprenda o tanto que aprendi ao visitar e conhecer de perto homens e mulheres como eu e você, crianças e adolescentes como nossos filhos e alunos que, na “África Contemporânea, independentemente da frágil legitimidade de muitos Estados africanos, das suas subvalorizadas economias formais e dos seus simulacros de autoridade institucional, agarram-se à vida e à esperança, ignorando prognósticos negativos e sobrevivendo à margem de instituições, organismos e poderes que procuram acorrentá-los.” (Serrano, 2007:35)
Beleza teu nome é infância. Crianças Macua da Ilha de Moçambique, indo para a escola, junho 2009.
Espero que a série Nova África consiga despertar em você a vontade de ler, estudar e conhecer mais sobre este continente que nos é tão próximo, mas ao mesmo tempo tão desconhecido. Lembrando ainda o cuidado que devemos tomar neste esforço de conhecimento/reconhecimento do continente africano, como nos alerta o professor angolano Carlos Serrano: “para além de mero ato de vontade, a desconstrução das imagens negativas do continente faz-se com estudo, conhecimento e compreensão atentos à sua personalidade histórica, geográfica e cultural específica. (Serrano, idem, ibidem)
Assista o clip do programa de abertura da série e aqui conheça a equipe que faz a Nova África.
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Veja a chamada da TV-Brasil para a série: [youtube=http://www.youtube.com/watch?v=Ukar_L8Ukmw]