Todo leitor do Maria Frô sabe que Carlos Latuff é meu amigo pessoal e um artista que eu admiro muito. Quando ele soube que seria agraciado com a Medalha Chico Mendes de Resistência e compartilhou comigo esta boa nova, eu a dividi com vocês aqui.
Dia 3 recebi do meu querido amigo o belo depoimento que transcrevo abaixo. Nele, Latuff relata suas sensações durante a cerimônia de entrega do prêmio Medalha Chico Mendes de Resistência que ocorreu no dia 01/04/2009. Como sempre, Latuff emociona-nos com seu desprendimento e generosidade.
As fotos que resolvi reproduzir para ilustrar a postagem são de 2000, ano em que foi preso por fazer a sua arte de protesto e o cartum é um dos mais recentes, retirado de seu site oficial.
[caption id="attachment_762" align="aligncenter" width="473" caption="Latuff desenha a professora Geisa, morta no sequestro do ônibus 174, Jardim Botânico, RJ- RJ, 2000."][/caption]Foi a primeira vez que participei da cerimônia de entrega da Medalha Chico Mendes de Resistência, que em todos os anos desde 1988 vem homenageando aqueles que tiveram atuação destacada na defesa dos direitos humanos. O evento durou pouco mais de três horas, e eu fui o último a receber a condecoração. Me puseram sentado ao lado do cônsul cubano no Brasil, Bladimir Martinez Ruiz, o que muito me honrou.
A espera me serviu como um duro aprendizado, onde pude presenciar o testemunho de sofrimento e coragem daqueles que enfrentaram não só a ditadura militar no passado como também a violência policial nos dias de hoje, como no caso de Inah Meireles de Souza, mãe de Jesse Jane, militante presa e torturada nos anos 70, e Marcia de Oliveira Silva Jacintho, cujo filho, Hanry Silva, foi assassinado pela polícia em 2002.
Quando chegou a minha vez de receber a Medalha, tive grande dificuldade em expressar o que sentia, apesar de não ter sido a primeira vez que falava diante de uma platéia. Todos aqueles depoimentos me machucaram bastante. Chorei, sofri. Diante dos presentes, humildemente reconheci que meus 20 anos de carreira e minha pequena militância artística não valem um botão de camisa daquelas mulheres. Confesso que diante de tanta gente que sacrificou a saúde, a sanidade e a vida na luta contra o fascismo de ontem e de hoje, me sinto pequeno e mesmo indigno de receber tamanha honraria. Agradeço, realmente comovido, a escolha de meu nome para receber esta tão importante comenda, e espero sinceramente que meu trabalho possa estar a altura destas mães, estejam elas na favela carioca ou num campo de refugiados palestino. Espero honrar seus nomes através de meu traço. Carlos Latuff 3 de abril de 2009
[caption id="" align="aligncenter" width="500" caption="Os principais jornais do país noticiaram a prisão do cartunista por protestar contra a 'banda podre' da polícia militar do Rio de Janeiro. Av. Presidente Vargas, RJ, RJ- 2000"][/caption]