The lead is cast
19/3/2009, Haaretz, Telavive, Editorial
A "Operação Chumbo Derretido" terminou há dois meses num show de arrogância dos políticos israelenses: o Hamás teria sofrido acachapante derrota que poria fim aos foguetes; e, caso continuasse a contrabandear armas para Gaza, toda a comunidade internacional, de Washington ao Cairo, acorreria unida contra o Hamás.
O preço pago pela população de Gaza – centenas de civis, além de centenas de combatentes armados do Hamás e de outros grupos de resistência – foi apresentado como resultado infeliz, mas necessário, dos métodos de combate indispensáveis para proteger os soldados do exército de Israel.
Agora, quando cresce o desapontamento, à medida que se dissipam o que se supôs que fossem resultados daquela operação, uma segunda onda de provas começa a crescer entre os soldados que combateram, que viram o que de fato houve e que começam a falar, muitos em tom de confissão.
Amos Harel dá noticia no Haaretz hoje e amanhã sobre discussão que aconteceu há um mês entre os formandos do programa de preparação para o serviço militar em Oranim, e que participaram dos ataques a Gaza como soldados e como auxiliares de campo.
É versão moderna de "O Sétimo Dia", livro publicado depois da Guerra dos Seis Dias, que chamou a atenção para os tormentos de uma geração em busca da própria alma e que lutou uma justa guerra de defesa, mas que, ao longo da luta, viu-se arrastada para a prática de atos que contradizem todos os valores morais dos quais se orgulhavam. Os netos daqueles soldados da Guerra dos Seis Dias mostram hoje, com seu testemunho, que a situação é hoje ainda mais preocupante do que em 1967.
Os soldados narram assassinatos de civis inocentes, destruição sem qualquer objetivo estratégico, expulsão de famílias arrancadas de dentro de suas casas ocupadas como postos temporários de abrigo de soldados, sem qualquer consideração pela vida humana e tendência à brutalidade mais cega. O comportamento escandaloso não é resultado de qualquer política do alto comando. É resultado de completa desconexão entre os comandantes de brigada e os altos oficiais, versus os soldados das companhias, brigada e batalhões, nas casas em que os soldados esperavam para voltar ao combate depois que o Hamás retirou-se das áreas urbanas. Naquelas circunstâncias, sem inimigo à vista, os soldados israelenses fizeram guerra contra as famílias que encontravam nas casas.
Investigações internas do exército de Israel – excepcionalmente lentas – não são suficientes. As forças armadas de Israel estão absorvendo doses cada vez maiores do extremismo religioso fanatizado do rabinato militar.
É indispensável promover investigação independente, para que esse mal seja arrancado de dentro do exército israelense, antes de que o exército e toda a sociedade de Israel sejam arruinados.
(Ver também: IDF in Gaza: Killing civilians, vandalism, and lax rules of engagement)