Fraude na merenda escolar: Kassab na mira do Ministério Público

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É uma pena que a gente não possa só falar de beleza (aqui e aqui), pois a barbárie que impera nas escolas da prefeitura municipal de São Paulo, sob a gestão Kassab, precisa ser denunciada.

Destaco dois textos: a análise crítica do Eduardo Guimarães sobre a cobertura serrista da Folha tucana e os dados novos que o Rodrigo Vianna traz sobre a questão da terceirização da merenda escolar.

PROMOTOR INVESTIGA GESTÃO KASSAB: FRAUDE NA COMIDA DAS CRIANÇAS?
Por Rodrigo Vianna em seu Blog: O Escrevinhador

sexta-feira, 06 de fevereiro de 2009 às 16:05

A denúncia de fraude, envolvendo a merenda escolar em São Paulo, é de embrulhar o estômago.

Aliás, as duas são de embrulhar o estômago: a fraude e a merenda em si, - a julgar pelas imagens mostradas pelo “Jornal da Record”. As cenas mostram que, na maior cidade do país, gasta-se muito para oferecer refeições de baixa qualidade.

E por que se gasta muito?

Isso é o mais surpreendente nessa história. Prestem atenção, por favor, leitores, porque aqui temos um caso quase inacreditável.


Essas crianças comem a merenda de Kassab?

Em 2007, a própria Prefeitura de São Paulo contratou a FIPE (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), para que fizesse uma avaliação técnica do programa de merenda. Uma das questões estudadas: a Prefeitura deveria, ou não, terceirizar todo o serviço de merenda?

A resposta da FIPE, em abril de 2007, foi: não! Se toda merenda de São Paulo fosse terceirizada, o programa custaria 71% a mais!

Na página 3 do relatório entregue à Prefeitura, a FIPE afirma, com todas as letras: "o Programa de Merenda Escolar da Prefeitura do Município de São Paulo deve ampliar a Merenda Direta em detrimento da Terceirizada." (grifo meu, RV)

Uma das economistas da FIPE disse ao Ministério Público que recebeu da Prefeitura "recomendações" para que o relatório fosse alterado. Hum...

Advinhem o que a Prefeitura de Kassab fez? Em maio de 2007, desconsiderou o relatório da FIPE, chamou licitação e ampliou a terceirização: ou seja, aumentou o número de escolas atendidas por fornecedores particulares.

O que aconteceu, então?

As investigações conduzidas até aqui pelo correto promotor Silvio Marques (o mesmo que investigou Maluf e Pitta) mostram que pode ter havido um grande acerto entre as empresas fornecedoras.

Há gravações. Nojentas. Os empresários, reunidos num hotel em frente à Prefeitura, combinam o preço. Dão risada, brincam com a comida das crianças.

E mais: pelo menos 3 funcionários da Prefeitura – diretamente envolvidos com a licitação da merenda – foram trabalhar depois nas empresas que fornecem merenda. Simples assim!

Tudo foi mostrado, em primeira mão, pelo “Jornal da Record”, em reportagens de Vinicius Costa - com produção de Luiz Malavolta e Paulo T, e edição de Rogério Olmo.

A “Folha” [neste link] e o “Estadão” [neste link] também estão acompanhando o caso.

A “TV Globo”, ao que parece, não se interessou muito pela denúncia. Por que, hem?

Outra pergunta: a fraude teria começado logo depois que Kassab assumiu definitivamente a Prefeitura, no lugar de Serra; o atual governador teria deixado alguma ordem, indicando que a terceirização deveria ocorrer de qualquer jeito? Era um acerto prévio? Por que a Prefeitura gastou quase um milhão para ouvir a opinião da FIPE, e depois desconsiderou o relatório?

Vejam, não estou acusando. Estou apenas testando hipóteses, seguindo o que faz uma conhecida escola jornalística do Jardim Botânico, no Rio (eles só testam hipóteses no plano federal, mas eu vou utilizar o método na esfera municipal).

Ah, mas isso pode acontecer, né? Fraudes ocorrem o tempo todo, e o Prefeito não pode controlar tudo, certo?

Ora, como defender essa tese, diante do estudo preliminar da FIPE, que apontava os riscos da terceirização? Quem deu ordem para desconsiderá-lo?

O caso deixou o promotor Sílvio Marques boquiaberto. Mas, se conheço bem o doutor Sílvio, ele não é de ficar de boca aberta muito tempo. Já está investigando.

Kassab e seu parceiro Serra não terão sossego nesse caso. A “Merenda de Serra/Kassab” pode se transformar no equivalente da “Máfia dos Fiscais” de Pitta/Maluf.

A diferença é que, dessa vez, os prejudicados diretos seriam milhares de crianças. É de virar o estômago.

Em tempo: Kassab diz que não sabia de nada, e que vai colaborar com o Ministério Público nas investigações.

Ah, bom!

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Eduardo Guimarães: "Cobertura da merenda de Kassab, dá nojo!"

Carta enviada por Eduardo Guimarães, do blog Cidadania.com, a Carlos Eduardo Lins e Silva, ombudsman do jornal Folha de S. Paulo. O motivo é a cobertura desta sexta-feira, dia 6, sobre a denúncia de corrupção na merenda escolar do governo Kassab.

Caro Carlos Eduardo,
Escrevo a você porque é inaceitável o que a Folha fez hoje, e preciso desabafar.

Quero que você saiba do nojo, do asco, dos engulhos que senti ao ver a reportagem sobre a corrupção na gestão Kassab nessa questão da merenda escolar.

Quem quiser saber por que uma eventual vitória de José Serra na eleição presidencial de 2010 faria o Brasil regredir décadas, basta ver como foi dada pela Folha, por exemplo, a notícia sobre esse caso de corrupção na prefeitura paulistana.

A Folha esbofeteou seus leitores - ainda que muitos não saibam disso - com a manchete cifrada "Chefe da merenda na capital migrou para fornecedora". Que diabo de manchete é essa? Manchetes deveriam dizer mais usando menos palavras, não o contrário.

Quem assistiu a tal reportagem da Record na noite de quinta-feira sabe que é o governo Kassab, não um assessor qualquer, que está sendo investigado pelo MP. Contudo, a reportagem da Folha tentou passar a idéia de que a prefeitura é que está investigando.

Se escândalo dessa gravidade fosse em algum governo petista, seria manchete principal de primeira página e citaria o nome do titular daquele governo e seu partido, e deixaria bem claro que o governo é que estaria sendo investigado. E além de expor o governo, ainda inventaria agravantes.

Imaginem um país governado por partidos e por um presidente que a grande imprensa inteira trataria de blindar contra qualquer denúncia. A corrupção se tornaria endêmica, o país afundaria em corrupção como afundou na época de FHC enquanto a imprensa se omitia criminosamente.

Sinto muito, Carlos Eduardo. A minha atuação nesta área não é para fazer amigos e sim para defender meu país de gente como Kassab e Serra, de partidos como o DEM e o PSDB, de jornais como a Folha.

Depois eles têm coragem de vir falar de mensalão etc. Cínicos! Eu tenho nojo do que estão fazendo. Nojo!!