O esquema mafioso do Rio de Janeiro, vide o cidadão acima de qualquer suspeita, Deputado Álvaro Lins do PMDB, remete à Colômbia, onde atualmente mais de 30 parlamentares, a maior parte ligada ao esquema de sustentação do Presidente Álvaro Uribe, estão sob investigação. Lins teve apoios da bandidagem das milícias, que votou em peso no Governador Sérgio Cabral. Fizeram campanha juntos e prometeram mundos e fundos aos eleitores. Uribe e seus correligionários tiveram o apoio, não escondido, do Departamento de Estado norte-americano.
Cabral e o seu secretário de Segurança, Mariano Beltrame, o tal que disse que um tiro em Copacabana é distinto de outro no morro do Alemão, nunca esconderam o seu entusiasmo pelo esquema colombiano de repressão. Todos estes cidadãos acima de qualquer suspeita têm espaços garantidos nos mais diversos espaços midiáticos.
O Rio de Janeiro com seus políticos gênero Álvaro Lins, Marcelo Itagiba, Sérgio Cabral, Paulo Melo, Piciani, Garotinho etc está cada vez mais parecido com a Colômbia. E para completar a tendência, a ausência do Estado nas áreas carentes resultou no aparecimento de grupos paramilitares - aqui chamados de milícias e lá na Colômbia paramilitares mesmo - que seqüestraram e torturam, em 14 de maio, uma repórter, um fotógrafo e um motorista de O Dia que circulavam na favela Batan, em Realengo.
O fato, claro, teve ampla repercussão, da mesma forma como na Colômbia em várias ocorrências semelhantes envolvendo paramilitares facínoras. As torturas sofridas pela equipe de O Dia remetem a algumas questões que não estão sendo aprofundados. Primeiro: como surgiu a pauta para realizar a reportagem? A repórter e o fotógrafo foram obrigados a cumpri-la ou a fizeram por iniciativa própria, voluntariamente? A chefia de redação alega que o objetivo do trabalho era o de cumprir uma “missão” em favor da sociedade. Em nenhum momento foram questionados se a pauta tinha outros objetivos, como, por exemplo, a necessidade do jornal de correr atrás do Ibope e com isso conseguir lucro fácil. Na verdade, quem trata a notícia como mercadoria está mais preocupado em vender jornal ou conseguir audiência do que propriamente servir a coletividade.
O caso das milícias remete ao de Tim Lopes, ocorrido há seis anos. Na ocasião, a TV Globo apresentou argumentos, não questionados pela mídia, segundo as quais o repórter foi à favela Cruzeiro para “cumprir uma missão em favor da coletividade local”. Não se questionou também se a pauta para o retorno ao local onde Tim tinha estado poucos meses antes foi por vontade própria do repórter ou imposição da chefia de reportagem. Prevaleceu apenas a versão da TV Globo, em vigor até hoje, ou seja, a de que Tim Lopes estava lá atendendo a um pedido da comunidade. Moradores de comunidades carentes, que por motivos óbvios preferem não se identificar, garantem que jamais apelariam à TV Globo para resolver os seus pepinos.
Nestes últimos seis anos, a situação na área de segurança no Rio se deteriorou visivelmente. Hoje, Cabral e Beltrame justificam diariamente a criminalização da pobreza, que vem sendo praticada e que passa pelos chamados “autos de resistência”. Policiais entram de sola nas áreas carentes da cidade e todos os mortos nas ações são catalogados como traficantes ou resistentes à ordem de prisão. Inocentes têm sido vítimas e tudo fica por isso mesmo. Quando representantes destas comunidades protestam aparecem as autoridades para dizer que “por detrás das manifestações estão os traficantes” e assim sucessivamente.
Não é à toa que a ONU está considerando o Rio uma cidade onde os direitos humanos são desrespeitados, segundo o relator Philip Alston. Aí o secretário de Segurança, de forma xenófoba e fascista, se volta contra o “estrangeiro” Alston. Mas nada de responder as críticas apresentadas por ele.
A mídia conservadora, a mesma que expõe os seus trabalhadores (jornalistas) a fazerem matéria em áreas de risco sem as mínimas condições de segurança, apóia em gênero, número de grau a política de criminalização.
Nesta linha, recentemente o jornal O Globo publicou uma pesquisa, com chamada de primeira página, mostrando que as comunidades pobres apoiavam o caveirão, o blindado utilizado pela polícia para combater a criminalidade. Fizeram uma leitura incorreta com peso maior dos índices das áreas que não conheciam o caveirão. O mesmo peso não foi dado na leitura da pesquisa em áreas que conhecem os malefícios do caveirão. Resultado: distorção, apresentada com o maior estardalhaço. Depois foram convocados os “cientistas políticos” para analisar a “novidade”. Se a leitura da pesquisa fosse outra, o resultado seria também outro, bem mais próximo da realidade. Venderam um peixe furado e a verdade acabou sendo a de O Globo.
Publicada originalmente em Direto da Redação: 09/06/2008 |