Entrevista de Edson Santos, o novo ministro da SEPPIR

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Nesta manhã o portal da uol entrevistou o novo ministro da SEPPIR, parece que Edson não vai aceitar a agenda do PIG, foi firme nas respostas que interessam, reconheceu o trabalho de Matilde, ressaltou a agenda da secretaria (quilombolas, educação, saúde) e deu o seu recado, pondo limites às provocações do repórter.

Assista o vídeo e leia a entrevista reproduzida a seguir.



20/02/2008 - 09h00
Novo ministro da Igualdade Racial afirma que vai usar cartão corporativo

Da Redação
Em Brasília

O novo ministro da Igualdade Racial, Edson Santos, toma posse nesta quarta-feira (20) em um momento delicado, após a antiga ministra Matilde Ribeiro se demitir, envolvida no escândalo dos cartões corporativos.Entretanto, a situação não abala o ministro que, em entrevista ao UOL News, afirmou ter grande admiração por Matilde e disse que vai continuar usando os cartões corporativos.


UOL News - Ministro, o senhor toma posse esta semana. Quais são os planos à frente do novo cargo?

Edson Santos - Já existe todo um planejamento de trabalho na Secretaria de Promoção da Igualdade Racial. Nossa pretensão é dar continuidade a estes programas e eu daria até uma certa ênfase à questão da agenda social quilombola que eu considero fundamental para resgatar a dignidade da população quilombola no Brasil.


UOL News - Qual será o foco deste trabalho?

Edson Santos - A agenda envolve uma série de medidas e vários ministérios, como o da Saúde e da Educação. Efetivamente, a agenda visa oferecer condições dignas de vida para a população quilombola e a possibilidade de ascensão e inserção nas atividades econômicas no Brasil.

UOL News - O senhor toma posse no lugar da ex-ministra Matilde Ribeiro em um momento complicado e delicado em relação ao uso dos cartões corporativos. Como é que o senhor vê esta crise toda?

Edson Santos - Primeiro eu acho que a ministra é uma pessoa idônea. Eu tenho por ela um grande respeito e admiração. Mas, reconhecido por ela, o erro cometido foi o uso do cartão no Free Shop, que acabou assumindo uma dimensão que inviabilizou sua presença à frente do ministério. E quanto à questão do cartão corporativo em si, eu acho que isso está sendo objeto de tratamento pelo governo e pelo Congresso Nacional que está por instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar e propor medidas que normatizem o uso do cartão administrativo.

UOL News - Durante a entrevista coletiva que a ministra pediu demissão, ela alegou haver falta de estrutura na Secretaria e por isso gastou R$ 171 mil, principalmente em aluguel de carros e diária de hotéis. O senhor vai tomar posse tendo de resolver esta situação. A Secretaria tem estrutura para pagar estes gastos ou o senhor vai continuar usando o cartão corporativo? O que será feito?

Edson Santos - Independentemente de estrutura, a administração pública usa o cartão corporativo. A Presidência da República usa o cartão corporativo. Então, acho que a questão da estrutura não explica totalmente o uso do cartão corporativo, porque é um instrumento para resolver as excepcionalidades da administração pública no seu cotidiano. Eu acho que a partir de uma normatização, temos garantida uma transparência. Hoje, o acesso que a mídia e a sociedade têm sobre o uso dos cartões é devido à transparência exposta pelo governo. Esse é um ponto interessante da gente tratar. Quanto à estrutura na Secretaria, somos um órgão novo, e precisamos discutir com o governo e o presidente Lula uma estruturação que atenda as necessidades da Secretaria para que ela cumpra seus objetivos.

UOL News - Que tipo de estrutura precisa ser melhorada na Secretaria?

Edson Santos - Quando se fala em estrutura, se fala em pessoal qualificado para atender as diversas demandas e isso exige do governo uma alocação de recursos que nos permita fazer este tipo de contratação.

UOL News - Durante a coletiva da ex-ministra que ela pediu demissão, ela deu a entender que havia um certo preconceito por estar no cargo e ser negra. Como o senhor viu isso? O Brasil ainda é um país racista?

Edson Santos - Eu não assisti [a entrevista] então eu não vou emitir juízo de valor sobre a entrevista da ministra. Eu creio que ela tratou os temas como um todo, então fica difícil eu opinar sobre uma intervenção tão pontual. Agora, o Brasil é um país que tem uma Constituição que condena os atos de discriminação e racismo. A Constituição fixa como crime inafiançável e imprescritível e a lei que deriva da Constituição estabelece a punição para casos de racismo no Brasil. Então o país, no seu arcabouço jurídico, não é racista. Agora, existe racismo no Brasil, tanto que existe uma lei que visa coibir estes atos de racismo.

UOL News - A ex-ministra transpareceu uma certa mágoa e outros dois ministros, que ainda estão no cargo, o da Pesca e o do Esporte também tiveram problemas em relação ao uso dos cartões corporativos e nenhum dos dois entregou o cargo. O senhor também acha que seria um gesto nobre da parte deles ter feito isto?

Edson Santos - Eu não vivi a situação e por isso eu prefiro não opinar sobre o assunto até porque tiveram tratamentos diferenciados.

UOL News - Mas no caso da ex-ministra, a demissão foi justificada?

Edson Santos - O ato de demissão foi provocado por ela que se sentiu desconfortável diante a repercussão que o caso teve junto à mídia e à sociedade. Eu prefiro não julgar.

UOL News - Como o senhor vê as críticas em relação às políticas de cotas?

Edson Santos - Isto não é inédito no Brasil. Já houve cotas no Brasil, nas universidades rurais para filhos de agricultores, pessoas ligadas ao campo. Já houve a experiência e, no meu entender, com êxitos. Basta ver que a situação de modernidade da agricultura no país é fruto de quadros preparados que atuam nesta área. Muitos usufruíram de cotas. Então, do ponto de vista da sociedade houve um ganho. Agora, há desigualdade racial no Brasil, basta ver que a pirâmide social vai escurecendo à medida que tem a sua base alargada. É preciso que o Estado cumpra com a função de ser um instrumento de redução de desigualdades. Se existe desigualdade racial, o Estado tem de trabalhar para compensar as desigualdades. Enquanto tratarmos os desiguais como iguais, tudo será mantido. E cotas é um instrumento de redução das desigualdades.

UOL News - Este vai ser um desafio no novo cargo?

Edson Santos - É um desafio da sociedade brasileira. Espero enquanto representante do governo nesta área de promoção da igualdade racial sensibilizar amplos segmentos da sociedade brasileira para este debate e que a gente chegue a uma solução mediana em que todos ganhem neste processo.