Na quinta-feira, 40 mortos muçulmanos num atentado em Beirute. Atentado assumido pelo mesmo Estado Islâmico. Já a comoção mundial e as campanhas televisivas... Nem um milímetro. Por quê?
Lamento todos os mortos. Todos. Os das famílias parisienses e das cearenses, das palestinas e das guaranis nas beiras das estradas de soja. As das famílias de Mariana e as dos povos mineiros e capixabas nos próximos anos de terra arrasada (pela gula empresarial).
Há exatamente um ano o governo francês admitiu ceder armas pesadas aos grupos que tentam derrubar o legítimo governo sírio. Agora promete "reação sem piedade". A quem? Aos seus aliados de ontem ou aos inimigos declarados de amanhã?
No cotidiano a suspeita será a de procedência árabe. Na escola, na estrada, na fila. E os governos de lá e de cá tramam funerais. Por vezes previstos até aos seus próprios 'cidadãos', se isso garantir lucro e ódio que banquem votos e o pânico de cada dia.
Aprendi uma diferença entre drama e tragédia: na primeira a personagem luta e há esperança de vitória até o fim. Já na tragédia está fadada à derrota, as forças contrárias estão carimbadas em seu destino.
Por que chamam de tragédia os ocorridos nesta semana? Se tudo estava desenhado por mãos de gente, sujas de ouro e pesadas de controles remotos e livros religiosos que são pretexto pra cegueira do Poder?
Quem diz combater o terrorismo é quem o patrocina, mano meu.
Seja nas quebradas de Fortaleza ou de São Paulo, seja nas gargantas secas do interior de Minas Gerais ou nas cifras dos anunciantes dos telejornais.
Manipulam nossos afetos e seguem aplicando seus planos tramados em gráficos e estatísticas. Indústria bélica cresce e cresce, alcançou seu ápice histórico. As feiras de "equipamento de defesa" são pleno sucesso pro mundo executivo. Das viaturas rondando favelas até os radares nos desertos pra catar imigrantes pela nuca, tudo se negocia. Até os intervalos comerciais e as pautas dos telejornais.
Lamento todos os mortos. Paz e compreensão habite o coração dos familiares.
Nós seremos família humana?
(Foto: Foto: Elizabeth Koechlin Bertrand/ Fotos Públicas)