Centenários Carolina Maria de Jesus e Abdias do Nascimento

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imagem cores igualadas. jpgCarolina de Jesus e Abdias do Nascimento são casulos e esporas da letra brasileira e da diáspora africana no mundo. Brasas da literatura e das lutas do povo negro, tem muito em comum e também caminhadas bem distintas.
 
Celebraremos por todo o outubro e novembro. Confira a programação aqui no www.edicoestoro.net
 
Entre a fantasia e o realismo, o confessional e a dramaturgia, a ficção e a composição musical, como escreveram? Como foram e são lidos? Pelo texto banhado de africanidades, entre o revide e a absorção de seus movimentos, a auto-crítica e o espetáculo, a fala representativa e seus conflitos internos, como vibravam suas letras?
Como outras mãos que bailaram nossas canetas e abriram reflexões, gestos e trilhos pelos livros, Carolina e Abdias ainda são menos reconhecidos e realçados, pesquisados e admirados do que o necessário. Porém, sabemos que nas beiradas das universidades, das críticas oficiais e da mídia graúda, há teimosia e sapiência mergulhando em seus textos, suas artes e histórias, desenhando um manancial de compreensão sobre suas passagens, seus frutos e as dimensões vastas, espinhosas e coloridas de suas obras com a complexidade de viver negro.
 
Vale ressaltar que suas obras vão bem além do que é mais conhecido de cada um. Carolina tem mais potência e sentidos ainda, além do seu grande sucesso “Quarto de Despejo”. Abdias, de glorioso passo como mentor, diretor, dramaturgo e ator do Teatro Experimental do Negro e da carreira como político e senador, também traçou várias linhas como ensaísta e foi artista plástico.
 
Os dois são pilares ativos com suas férteis contradições e celebramos nesse 2014 seus centenários, ocasião para uma profunda, refinada e vigorosa consideração sobre seus estilos, temas, propostas e dúvidas. Seus horizontes se entrosam plenamente a lutas que hoje ainda latejam: os dois foram migrantes interioranos que se realizaram nas metrópoles e ganharam mundo. Em suas tintas ardem questões como a luta por moradia e creches, contra o racismo institucional, a violência da discriminação religiosa, a repressão aos pobres e o genocídio sistemático da população negra.
 
Justamente apresentados, reverenciados e questionados seus trabalhos na Biblioteca Mário de Andrade, ultrapassando limites de um mero evento, com vários encontros compondo as paisagens e giros de suas criações, espraiamos encontros também para outros espaços de luta, ocupações e terreiros, trançando e fortalecendo argumentos e vivências.