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Por Allan da Rosa
A revista mexicana "Desinformémonos" me pediu um texto sobre o grande Mumia Abu-Jamal, que completou 60 anos de idade, muitos resistindo ao vivo no corredor da morte, como sabemos
Fiz o "Teima". Taí a letra. Fiz o "Teima". Taí a letra. Aqui em português e no link traduzido pro espanhol, no site da revista.
TEIMA
E tu é pescado com ferros na garganta e nem mais importa tanto aos que meteram a unha grande dentro das tuas costelas que se faça muita justificativa. Basta o mínimo já repetido em alguma outra cartilha da morte, o mínimo pra garantir um carimbo capenga que sirva pra segurar o cadeado. E não tem sola nos caminhos do mundão. Não tem horizonte. Não tem criança na manhã.
E tem um vapor de inferno frio se crescendo feito algodão de veneno, cínico e certeiro e burocrático, chegando mais perto e mais perto, agendado pra tu ceder logo esse avental e as mantas e os custos federais de tua cela pra outro mano que tem unhas, lembranças de infância, raiva congelada no terror escorrendo pelas orelhas e hora também pra deixar a carne desse mundo onde pisa e mastiga a humanidade bizarra. Com respingos de doce azul no bueiro do sempre, desde os dinossauros.
E tu percebe isso com os dentes, enquanto dribla o juiz e adia o badalar seco do sino da morte.
Um bocado de gente pagando seus impostos se coçando porque da tocaia pra forca você não fica logo dependurado, calado de vez. Mas tu permanece ardendo. Gente esgoelando no auditório antes dos comerciais porque não tomba logo um negro a menos que assombra a paúra racista, a nóia oficial que mastiga dura a colher junto com a sopa. Tu na cartilha e na reza do amém apenas mais um bípede que demoniza os olhos arregalados dos coronéis ou passa numa breve nota pelo jornal dos que mastigam seus cereais babando indiferença. Mas tu um bípede que se afirma homem e, golada após golada, demonstra o gênio e desboca, murcha e rasga o script que te escreveram.
Que contrato nenhum assina o destino. E essa aula, tua imagem em nossos quintais, nossas portas e nossos livros, fica.
E a gana firma um porquê, prumo encontrado, revide estudado. Afinado um jeito de sobreviver e fertilizar. Ansiedade e medo já macerados, já picotados? Será?
Pingada essa raiva e alastrado um temporal pra aqui no meu peito de quebradas áfricas, pra cabeça em riste que não se depena, pra chama que incendeia e que mesmo fria tostaria os assassinos covardes escudados.
A chama dessa esperança, desse comichão que bebe de tuas mãos e tuas palavras.
Gracias, Mumia."