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Por Allan da Rosa
A pele da palavra. Vento no ouvido é tato.
Letra é saliva. Sílaba é hálito.
Leitura é labirinto e luta.
Letra muleca, caneta escuta.
Letra é treta. É escambo.
Letra é ceia. Incendiando a teia
É madrugada bordando a voz da sereia.
É a voltagem do diário, é vício de eternidade.
Canário no armário, derrame e saudade.
Linha de sal, linha de pipa, caderno umbilical.
Letra revela e rebela, letra é solidão na cela.
É oração e vela. O parto e a seqüela.
Xicrinha de festa. Vassoura em terra acesa.
Letra é chave, é guia, é defesa.
Letra livre, papel continue sendo árvore
Frutificando partitura e miragem.
Pela voz equilibrada entre os dedos
Mapeando de azul a sulfite
Que bailem nossos lindos olhos vermelhos.
Mas letra amarelou, burlou contrato
Exilou, pôs pra correr do mato
Sentou cassetete, sustentou desacato
Argumentiras pros tiros dos tiras.
Tribunais. Vereditos. Visitas.
Letra é teta, por onde mamou vampiro
Leite de caneta, sangue analfabeto.
Veneno e fedô no papiro.
Letra é feira, é fieira.
É fronteira entre a roda e o rádio,
O caderno e a fogueira.
Letra é erro, é nervo, é fervo.
É desenho do sonho. Letra é senha, é sina.
É sotaque, é ataque, é atabaque.
Grávida gráfica. Tá dançando
E tu pensando nela estática.
Letra é treta, letra é trauma, letra é trama.
Letra aflita, a menina que grita
O livro te frita, em amor não acredita.
Letra é feitiço, é talagada, é maçã.
Letra é treta, letra é lã
Cachecol dentro da garganta, malabares cordas vocais.
Letra abismou
Asa quebrada no penhasco
Homicídios em gotas
Medo, ziquizira, asco.
Letra é tóca, ritmo e união da maloca
Letra é tôca, querosene e chama na estopa.
Letra é mensagem pelo couro. Ginga de Besouro.
Estopim e estouro. Giro no desaforo.
Agasalho da idéia, casa da sensação.
Letra é corte e é cortesia, é tacho de ilusão.
Vitamina do chão, arroz e feijão.
Letra é treta, letra é teto, letra é tinta, letra é afeto.