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Por Thaís Campolina
No dia 29 de agosto de 1996, há 21 anos atrás, ocorreu o 1º seminário nacional de lésbicas (SENALE) e, a partir dessa data, o dia 29 de agosto se tornou o dia nacional da visibilidade lésbica. Uma data que é um marco de memória, resistência e luta para as mulheres lésbicas e também mulheres bissexuais.
A luta contra a lesbofobia é também uma luta contra a invisibilidade. Ivone Pita, bacharel em letras, ativista lésbica e estudante de jornalismo, afirma que visibilidade é fundamental. Para ela, somente o que tem visibilidade é posto em pauta, vence silêncios, quebra barreiras. "É através da visibilidade que nós lésbicas vamos nos fazendo presentes. E assim vamos dizendo a outras tantas mulheres que podem viver o amor sem medo. Nos fortalecemos como grupo. Fortalecemos nossas vozes. Rompemos o silenciamento. Exigimos que registrem a violência que sofremos. Que nomeiem. Como os casos de estupro. O descaso e agressões nos consultórios médicos. Por isso é tão importante a representatividade em diferentes espaços. Precisamos ser vistas e ouvidas."
Luana Caroline Nogueira, 26 anos, negra e lésbica, formada em Comunicação Institucional pela UFPR considera que é extremamente necessário colocar o tema visibilidade lésbica em evidência se queremos acabar com o preconceito. "Não dá para lutar pelos nossos direitos se não temos voz! Precisamos desse assunto em destaque para mostrarmos que sim nós existimos e que não somos invisíveis! Como iremos mudar as estatísticas de estupros corretivos e tantas outras agressões sem colocar a lesbofobia em pauta? Nós não somos apenas números, somos pessoas! Somos mulheres que amam outras mulheres e que não deveriam ser hostilizadas por causa disso."
Jéssica Ipólito, criadora do site Gorda&Sapatão, organizou uma agenda de celebrações da data e reuniu eventos de diversos lugares do país numa lista. Na conversa que tive com ela, ela comentou sobre a efervescência de encontros, cine debates, atos, rodas de conversa sobre heterossexualidade compulsória, maternidade lésbica, resistência, lesbianidade negra e outros assuntos relacionados.
A ativista também destacou sobre como essas mobilizações dão ânimo para ela e disse que considera que elas estão mais frequentes porque as lésbicas estão se vendo, se reconhecendo, se procurando mais e encontrando diversas formas de acolher umas às outras e de resistir e enfrentar uma sociedade preconceituosa. Ela também falou sobre as movimentações que ocorreram em Salvador, do evento "Ocupação Sapatão" e ressaltou a importância da ocupação do espaço público e das lésbicas se organizarem em torno de suas próprias demandas.
Num mundo heteronormativo e misógino, o apagamento da sexualidade lésbica é uma constante que se apresenta em diversas formas, como a fetichização/objetificação e a negligência nos direitos reprodutivos e sexuais do grupo. Numa data como essa, é essencial que a voz das mulheres lésbicas seja colocada num amplificador para que todos ouçam suas pautas, preocupações e enxerguem a existência delas. Só assim, histórias como a de Luana, lésbica, negra e periférica que morreu após ser espancada por três PM's e das diversas vítimas de estupro corretivo não serão negligenciadas.
Leia também:
"Mulher: sujeita de si de sua sexualidade" - Texto de 2013 com relatos de mulheres bissexuais.
"E da caminhada das lésbicas e bissexuais, você lembra?" - Texto de 2017
"Higui: atacada por ser lésbica, presa por defender-se" - Texto de 2017
"Representatividade importa" - Texto de 2013