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Por Francine Malessa, convidada especial.
Um dos livros que mais gostei de ler enquanto me “iniciava” nas questões de gênero e produzia meu trabalho de conclusão de curso de Jornalismo foi “A anatomia da Liberdade”, de Robin Morgan (que super recomendo!). O que mais me chamou atenção na obra é quando ela questiona o nosso conhecimento sobre a liberdade, enquanto sabemos o que é escravidão. Voltada para o gênero, ela relaciona o primeiro conceito com as mulheres e o segundo com os homens. Ou seja, as definições mais bem direcionadas estão ligadas ao sexo masculino e a plena compreensão da privação de liberdade.
Tive a oportunidade de empreender uma aventura solitária há pouco tempo: fui viajar. Seis dias inteiramente na minha própria companhia em um estado e cultura totalmente diferentes do que eu estou acostumada. Antes de o avião decolar, me deu uma vontade de chorar confundida com uma sensação de liberdade, de estar aberta ao mundo. Fiquei me questionando: estava tão empolgada com a ideia de liberdade, de poder me sentir no mundo? Mas, por quê? Já não sou considerada livre? Comecei a refletir novamente sobre o que Morgan aborda no livro.
Ao chegar à primeira capital brasileira, Salvador, me vi totalmente sozinha, precisando providenciar meios de me locomover, escolher roteiros, cuidar da minha segurança, organizar o meu dia da melhor forma possível. Quis chorar novamente, me sentia desamparada e apavorada com toda essa liberdade e possibilidades de escolhas. Ainda, pesavam questões inerentes ao gênero, uma garota sozinha tem que tomar certos cuidados para a sua própria segurança. Aprisionei-me em alguns momentos por isso.
Meus pais me educaram para voar pelo mundo, mas ao mesmo tempo, o mundo não foi desenvolvido para as minhas rotas de voo. Por quê? Por que tantas pessoas me questionaram se eu estava sozinha, expressando logo em seguida uma reação de susto e até um pouco de reprovação? Se eu fosse um homem, o tratamento seria igual?
Ainda, há o fato de lidarmos com nós mesmas nestas empreitadas. Para mim, quase uma semana é, por enquanto, o tempo que consigo lidar somente com a minha companhia. Há outros aspectos envolvidos nisso, mas o principal deles é porque ainda não aprendi a lidar com a minha própria liberdade. Pois é, aquela que se intitula como uma “mulher que voa”, permanece somente no rasante (por enquanto).
Não sei exatamente quando encontrarei a minha definição sobre o que é liberdade. O que entendi até o momento é que ela é assustadora e excitante. Dá vontade de chorar sim, diante o poder de ser dona da própria vida e do caminho que se quer trilhar. Talvez seja esta definição mesmo, mas prefiro manter a pergunta em aberto e entender que embora um pouco aterrorizante, ser livre nos exige muita coragem para encarar o mundo e entender quem somos neste universo.