O (aterrorizante) poder da liberdade

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A expressão "ativismo de sofá" geralmente é usada para designar de forma pejorativa quem se dedica a denunciar o que lhe parece incorreto ou escrever sobre o que lhe parece correto, utilizando as redes sociais, conversas de bar, um blog, um podcast, ou uma pequena faixa erguida no meio de uma marcha.
Por Francine Malessa, convidada especial. Um dos livros que mais gostei de ler enquanto me “iniciava” nas questões de gênero e produzia meu trabalho de conclusão de curso de Jornalismo foi “A anatomia da Liberdade”, de Robin Morgan (que super recomendo!). O que mais me chamou atenção na obra é quando ela questiona o nosso conhecimento sobre a liberdade, enquanto sabemos o que é escravidão. Voltada para o gênero, ela relaciona o primeiro conceito com as mulheres e o segundo com os homens. Ou seja, as definições mais bem direcionadas estão ligadas ao sexo masculino e a plena compreensão da privação de liberdade. Tive a oportunidade de empreender uma aventura solitária há pouco tempo: fui viajar. Seis dias inteiramente na minha própria companhia em um estado e cultura totalmente diferentes do que eu estou acostumada. Antes de o avião decolar, me deu uma vontade de chorar confundida com uma sensação de liberdade, de estar aberta ao mundo. Fiquei me questionando: estava tão empolgada com a ideia de liberdade, de poder me sentir no mundo? Mas, por quê? Já não sou considerada livre? Comecei a refletir novamente sobre o que Morgan aborda no livro. Ao chegar à primeira capital brasileira, Salvador, me vi totalmente sozinha, precisando providenciar meios de me locomover, escolher roteiros, cuidar da minha segurança, organizar o meu dia da melhor forma possível. Quis chorar novamente, me sentia desamparada e apavorada com toda essa liberdade e possibilidades de escolhas. Ainda, pesavam questões inerentes ao gênero, uma garota sozinha tem que tomar certos cuidados para a sua própria segurança. Aprisionei-me em alguns momentos por isso. Meus pais me educaram para voar pelo mundo, mas ao mesmo tempo, o mundo não foi desenvolvido para as minhas rotas de voo. Por quê? Por que tantas pessoas me questionaram se eu estava sozinha, expressando logo em seguida uma reação de susto e até um pouco de reprovação? Se eu fosse um homem, o tratamento seria igual? Ainda, há o fato de lidarmos com nós mesmas nestas empreitadas. Para mim, quase uma semana é, por enquanto, o tempo que consigo lidar somente com a minha companhia. Há outros aspectos envolvidos nisso, mas o principal deles é porque ainda não aprendi a lidar com a minha própria liberdade. Pois é, aquela que se intitula como uma “mulher que voa”, permanece somente no rasante (por enquanto). Não sei exatamente quando encontrarei a minha definição sobre o que é liberdade. O que entendi até o momento é que ela é assustadora e excitante. Dá vontade de chorar sim, diante o poder de ser dona da própria vida e do caminho que se quer trilhar. Talvez seja esta definição mesmo, mas prefiro manter a pergunta em aberto e entender que embora um pouco aterrorizante, ser livre nos exige muita coragem para encarar o mundo e entender quem somos neste universo.

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