E da caminhada das mulheres lésbicas e bissexuais, você lembra?

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A expressão "ativismo de sofá" geralmente é usada para designar de forma pejorativa quem se dedica a denunciar o que lhe parece incorreto ou escrever sobre o que lhe parece correto, utilizando as redes sociais, conversas de bar, um blog, um podcast, ou uma pequena faixa erguida no meio de uma marcha.
Por Kel Campos Anualmente, no domingo que sucede o feriado de Corpus Christi, a cidade de São Paulo é tomada pelas cores do Arco-íris. O motivo? Uma das mais importantes do mundo, a Parada LGBT está em sua 21ª edição e hoje movimenta milhões de pessoas. E milhões em dinheiro. Acontece, porém, que mesmo que a Parada tenha deixado de receber a nomenclatura "Orgulho Gay" no ano de 2008, o novo nome ainda não inclui em igualdade de pautas todos os grupos que compõem a sigla LGBT. Foi assim que surgiu, há quinze anos e com pautas especificamente femininas, a Caminhada de Lésbicas e Bissexuais de São Paulo. No sábado que antecede a Parada LGBT, elas tomam as ruas para lembrar que as mulheres que se relacionam com mulheres fazem parte da sigla, apesar da invisibilidade que sofrem em todos os meios, e destacar que a violência motivada pelo preconceito com orientações sexuais diferentes da hétero atinge as mulheres de forma específica. Lésbicas e bis estão sujeitas, por exemplo, a serem objetificadas, terem suas relações fetichizadas e sofrerem estupros corretivos. Neste ano, o eixo central focou em falar da violência lesbofóbica com recortes de classe e raça: "Luanas e Katianes. Quantas mais? Resistiremos!".  O ponto alto da caminhada, ao menos para mim, foi a intervenção do "Levante Mulher" nos lembrando o motivo de Luana ter sido exterminada. Ela era pobre. Ela era negra. Ela era periférica. Ela era sapatão. Assim como a Caminhada, ela tem cor, ela tem classe e ela tem uma orientação sexual invisibilizada. Somos lésbicas, somos bissexuais. Nós existimos. E nos cansamos de servir de robustecimento de estatística para movimento G pleitear suas pautas capitalistas, enquanto segue ignorando nossas especifidades. É possível que você, leitor, nunca tenha ouvido falar sobre esse ato político. E isso se explica de modo muito simples: enquanto todos os olhos e cifras se voltam para o "orgulho gay", as mulheres não heterossexuais são invisibilizadas em suas reivindicações. Um ato que tem 15 anos de história não pode ser considerado novo ou experimental, apesar de muitos ainda o encararem dessa forma. O apagamento das lésbicas e bissexuais, sempre lembrado em manifestações e textos ativistas, expõe sua dimensão quando observamos a ausência de notinhas sobre o evento nas mídias e as migalhas de informações sobre a sua história. Não é difícil traçar um paralelo da visibilidade a conta-gotas com a limitação dos direitos das mulheres. Enquanto a Parada LGBT traz a expectativa da circulação de cifras em torno de 100 milhões nesse ano e teve investimento de 1,5 milhão de reais da Prefeitura de São Paulo, a Caminhada Lésbica e Bi segue sem incentivos do governo ou patrocinadores. E não o faz por mera resistência. Neste ano, nem mesmo carro de som havia, reforçando a curiosidade do casal de gays que me questionou, com um tom efusivo, se era uma comemoração "pré-parada". Não é pré-parada, é resistência e busca por respeito e visibilidade, inclusive nos meios LGBT's. Neste ano de 2017, já na minha quarta participação, fui acompanhada de um casal de moças que, coincidentemente, estão há 15 anos casadas. Mesmo indo anualmente à parada, elas não conheciam a caminhada lésbica e me confidenciaram, no retorno para casa, que se sentiram representadas por uma pauta só nossa e que no ano que vem estarão de volta. Estaremos. Será a 16ª. E esperamos você por lá, mídia e sociedade. Leia também: Higui: atacada por ser lésbica, presa por defender-se

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