O choro e o colo

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unhappy Lendo este ótimo post do blog Eu Mamãe, me lembrei do episódio que segue. Eu estava esperando o elevador enquanto tentava acalmar meu filho que, então com apenas alguns meses, chorava inconsolavelmente no meu colo. Uma moça  chegou e, vendo a minha situação, disse, solidariamente: “ai, é o fim quando a gente dá colo e mesmo assim eles continuam chorando, né?” Sinceramente grata pelo apoio, sorri apressadamente para ela e voltei a focar minha atenção no menino. Achei muito bonita a atitude dessa pessoa, de me reconfortar, de me mostrar, caso eu estivesse constrangida por estar com uma criança que chorava alto, que ela entendia e não estava incomodada. Ela foi uma fofa, para dizer o mínimo. Mas a verdade é que não concordo com o que ela disse. Aliás, não é nem que não concorde com o que ela disse; é que eu encaro isso de uma forma completamente diferente. Meu bebê chora porque está incomodado com alguma coisa e essa é a maneira dele de me mostrar isso. Eu não quero que o choro acabe, simplesmente. Eu quero que o incômodo que está causando o choro acabe. E sei que nem sempre isso é possível. E aceito isso. Esse, para mim, é o cerne da questão. Quando eu pego uma criança no colo, não é para que ela pare de chorar. É para que ela se sinta acolhida, digna de amor e amada, mesmo quando não está feliz, não está sorrindo, não está cheia dos lindos guuuus e gaaas que encantam a toda a gente. Se isso for suficiente para que ela fique menos incomodada, que bom. Mas, se não for, valeu o carinho, a atenção. Saber que ela sabe que eu estou aqui com ela para o que der e vier. O que não quer dizer que eu considere o choro agradável. Não é e é biologicamente feito para não ser, para ser algo que não dá para ignorar. Nem quer dizer que eu nunca me sinta frustrada ou irritada quando o choro se prolonga e eu sou confrontada com o fato de que não há nada que eu possa fazer, que eu não tenho poder algum sobre aquele mal-estar. É só que, quando eu dou colo, minha expectativa não é por fim ao choro. Pelo menos não diretamente ou necessariamente. E vejo que isso me ajuda a lidar com o chorar das crianças – e com o meu! E o de outras pessoas também. Porque aprendo a legitimar as lágrimas ao invés de inibi-las. Por mais difícil que seja ver alguém chorar. E é difícil. Ver uma pessoa chorando é ver as nossas próprias lágrimas no rosto de outre. Não é à toa que a empatia é algo tão mais raro do que deveria ser. Não é fácil sentir com outra pessoa algo que não se quer sentir por si só. E quando a pessoa que chora é alguém a quem amamos, então, é ainda mais difícil de tolerar. Porque ver alguém que amamos chorar é contemplar nossa própria falibilidade e impotência, nossa incapacidade de acolchoar o mundo com nosso amor. E isso não é só triste; é muito assustador. Daí que, a partir dessa minha postura ao lidar com o choro des mees filhes, ao invés de dizer “não foi nada”, ou “já passou”, aprendi a perguntar “machucou?” ou “está doendo?” e me abrir para ouvir a resposta, ainda que ela me perturbe. Ainda que ela doa em mim. A gente é educade para fazer as pessoas pararem de chorar, como se parar de chorar fosse parar de sofrer. E não é. É sofrer ainda mais, porque tem que sofrer escondido para não incomodar ninguém. Vamos romper esse ciclo. Vamos aprender a abraçar as pessoas que choram não para silenciá-las, mas para acolhê-las, validar seus sentimentos. Mesmo que eles não sejam confortáveis ou convenientes para nós.

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