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Ser criança é ser gente pequena num mundo pensado e feito para gente grande.
Ser criança é ser uma pessoa fraca num mundo em que impera a lei do mais forte. Democracia só existe entre adultes, da porta para fora de casa.
Ser criança é não ter controle sobre nada, nem mesmo seu próprio corpo. À maioria das crianças não é dado sequer o direito de escolher o quanto ou quando comer, ou o que vestir.
Ser criança é ter que respeitar mesmo não sendo respeitade. Que pessoa adulta, por exemplo, receberia o tratamento que recebe uma criança quando comete algum erro?
Ser criança é as pessoas implicarem com você o tempo todo sob o pretexto de te educar.
Ser criança é ter seus sentimentos constantemente relevados ou ridicularizados, ou ainda feridos por esporte, porque é “tão bonitinho” quando você fica triste, com raiva, etc.
Ser criança é não te levarem a sério mesmo em assuntos em que você sabe mais do que quem fala com você.
Ser criança é seu comportamento natural ser transformado numa patologia para que as pessoas possam sedar você a fim de que sua convivência seja mais cômoda para elas.
Ser criança é ter necessidades suas – de atenção, de brincadeira, de movimento livre, de vocalização e verbalização – tratadas como capricho e postas em segundo plano.
Ser criança é ter que ouvir que não gostam de você, ou mesmo te odeiam, sem nem te conhecer, e isso não ser considerado ofensivo.
Ser criança é estar completamente à mercê de quem cuida de você. É não ter como fugir e depender de e amar quem te atormenta. E as pessoas não te socorrerem porque ninguém quer “se meter”.
Ser criança é se transformar num saco de pancadas emocional ou físico num estalar de dedos, é ser uma tela em branco em que se projetam os desejos mais sórdidos e os medos mais terríveis dos adultos. Ser vítima de violência e te culparem pela violência que você sofreu.
Ser criança é ser frágil, vulnerável e sem voz.