O debate da Globo é o último ato da disputa eleitoral das eleições presidenciais desde 1989, quando Lula e Collor foram para o 2º turno e a emissora ajudou a decidir quem seria presidente da República numa edição picareta feita por Alberico de Souza Cruz à mando de Roberto Marinho.
Lula de fato não teve um bom desempenho naquela noite, mas a edição o tornou um candidato fraco e caricato, que teria sido humilhado por Collor.
Te podría interesar
Antes do debate, as pesquisas apontavam tendência de alta de Lula e queda de Collor. Analistas já previam a virada. O debate estancou esse movimento e o resto da história vocês já sabem.
Em 1994 e 1998 como Fernando Henrique Cardoso se negou a ir a debates, a Globo desvalorizou os encontros. Porque seu interesse era reelegê-lo.
Te podría interesar
Em 2002, Garotinho cresceu muito nos debates e por pouco não tirou Serra do 2º turno.
Enfim, não vou ficar aqui contando toda a história dos debates da Globo em eleições, mas faço este preâmbulo para dizer que eles têm importância na reta final. Cada vez menos é verdade, como tem destacado Marcos Coimbra nas suas análises na TV Fórum. Mas podem significar acréscimo ou perda importante de votos. Principalmente numa eleição que pode ou não acabar no 1º turno por pequeníssima margem.
O medo da campanha de Lula era que o ex-presidente tivesse desempenho semelhante ao debate da Band, onde ele foi mal. Não aconteceu isso. Lula foi muito melhor ontem. Principalmente no 1º bloco quando trocou vários direitos de resposta com Bolsonaro e venceu em todos.
Aliás, por ter sido derrotado nesses embates, Bolsonaro fugiu de Lula como o padre fake foge da cruz nos outros blocos. O atual presidente teve chance de fazer uma pergunta pra Lula, mas escolheu o genro do Abílio Diniz, o Felipe D´Avila, cujo grande mérito é ser genro do Abílio Diniz (a repetição é proposital).
Foi neste momento, logo depois de Bolsonaro fugir de Lula, que o ex-presidente viveu o momento mais tenso de sua participação. Padre (Pô) Kelmon escolheu Lula para sua pergunta e desrespeitou-o num nível impressionante. Ali a Globo e Bonner deveriam ter sido mais duros com o farsante e deixado claro que se ele não respeitasse as regras seria expulso do evento. Mas isso não ocorreu e Lula teve que se engalfinhar com o impostor.
A audiência não gostou, é o que apontaram as qualis. Mas ao mesmo tempo perdoou Lula, porque percebeu a armação.
Ou seja, no principal momento de risco, Lula passou ileso.
E isso não o prejudicou no resto do percurso. Lula fez perguntas para Ciro sobre cultura e questões climáticas e sobre meio ambiente para Tebet. Questões que tocam o eleitorado mais jovem, que é onde ele espera crescer pra definir o jogo no domingo.
Tebet pode ser a mais beneficiada de ontem. E isso deve levá-la a ter mais votos do que Ciro. Mas Tebet não me parece ter roubado votos de Lula. O que significa que seu crescimento não atrapalha a definição da eleição no 1º turno.
Vai ser uma apuração tensa. Prepare-se. Mas não será o debate que vai decidir o resultado final do domingo. O que vai decidir é esforço que as campanhas farão nessas últimas horas. Lula ainda fará atos na avenida Paulista, na Bahia e no Ceará. A correnteza está a seu favor e isso pode apontar uma tendência. Mas se porventura houver 2º turno, não se deve tratar o resultado como uma derrota. Em 2006, teve 2º turno e o candidato derrotado - que é o atual vice de Lula - teve menos votos do que no 1º. Ou seja, muita calma nesta hora.