Em 1972, o empresário Michael Oliver, lituano naturalizado americano e sobrevivente do Holocausto, tentou transformar um recife submerso no sul do Pacífico em um novo país. Com apoio financeiro de investidores ricos, ele contratou uma empresa para despejar areia sobre os recifes de Minerva, entre Tonga e Fiji, e ali construiu uma pequena base de concreto. Hasteou uma bandeira e declarou a criação da “República de Minerva”, uma micronação privada, sem impostos, sem intervenção estatal e regida apenas pela lógica do livre mercado.
O projeto fazia parte de um movimento maior de “saída libertária” que ganhou força nos Estados Unidos nas décadas de 1960 e 70, em resposta às transformações sociais e políticas da época. Inspirados por autores como Ayn Rand, Milton Friedman e Robert Nozick, empresários, engenheiros e entusiastas buscaram criar comunidades autônomas fora do território americano. Alguns tentaram construir ilhas artificiais, outros lançaram jangadas no mar ou compraram terras remotas no Caribe. A proposta comum era escapar do que consideravam a ameaça de um Estado cada vez mais intervencionista.
Te podría interesar
LEIA TAMBÉM: O que é anarcocapitalismo?
Michael Oliver publicou em 1968 o livro Uma Nova Constituição para um Novo País, que propunha um modelo de Estado mínimo, com funções limitadas à defesa, à segurança e à garantia de contratos. Com base nessa visão, criou a Ocean Life Research Foundation e iniciou as obras em Minerva, planejando instalar ali um centro financeiro offshore e atrair cerca de 30 mil colonos, selecionados por critérios como autossuficiência econômica e valores compatíveis com o projeto. Coletivistas, niilistas e criminosos seriam vetados, mesmo que tivessem recursos.
Te podría interesar
O plano foi interrompido meses depois. O rei de Tonga, Taufaahau Tupou IV, reagiu à construção ao saber do projeto. Embora os recifes de Minerva estivessem fora das águas territoriais de Tonga, o local possuía importância histórica e simbólica para os tonganeses. Em 1962, um navio de Tonga naufragou ali e os sobreviventes ficaram três meses isolados no recife até serem resgatados, episódio que marcou profundamente a memória nacional.
LEIA TAMBÉM: Liberalismo não é igual à Democracia - Por Emir Sader
Em resposta, o monarca organizou uma expedição oficial, incluindo uma banda marcial e um grupo de prisioneiros libertados, para remover a bandeira de Minerva e instalar estruturas fixas nos recifes. Em junho de 1972, Tonga formalizou a anexação do território, com o apoio de países vizinhos como Fiji, Nauru, Samoa Ocidental e Ilhas Cook, que se manifestaram contrários à criação de enclaves privados no Pacífico.
O episódio da República de Minerva tornou-se um símbolo do confronto entre projetos individualistas de ocupação e os vínculos históricos, culturais e políticos das populações insulares do Pacífico com seu território marítimo. Para Michael Oliver e seus apoiadores, Minerva era um espaço inexplorado, livre para a criação de um novo país. Para Tonga, era parte de sua história e soberania.