De Baku, Azerbaijão -- Um artigo da revista eletrônica NPJ Climate Action, ligado à Nature,fez um raio X sobre o real estado de coisas do financiamento do combate à emergência climática -- para além das promessas falsas de "sustentabilidade" que se ouve nas propagandas de TV.
De acordo com os autores Andreas Sieber e Iskander Erzini Vernoit, só 15% dos investimentos em energia limpa foram feitos no Sul Global em 2022, excluindo a China.
Te podría interesar
Isso aponta para um fosso cada vez maior na qualidade de vida do cidadão de Berlim ou São Paulo, Paris ou Nova Delhi.
Deveria ser o contrário
Pelo Acordo de Paris, de 2015, os países ricos deveriam pagar a conta da transição energética, reduzindo as emissões de maneira global e os impactos das mudanças climáticas nas populações mais pobres.
Porém, segundo os autores, o Sul Global pagará cerca de U$ 400 bilhões em juros de empréstimos em 2024, dinheiro que flui justamente na direção contrária, de acordo com o Fórum Econômico Mundial.
A organização Debt Justice calcula que os níveis de dívida no Sul Global aumentaram 120% entre 2008 e 2021, de modo que os países de rendimento mais baixo gastam cinco vezes mais no pagamento da dívida do que na resposta aos impactos climáticos. Por outro lado, a organização Tax Justice Network calcula que, como resultado da evasão [para refúgios fiscais], os países não pertencentes à OCDE perdem cerca de 100 bilhões de dólares em impostos por ano.
Como explícito no livro Poços Envenenados, de Nicholas Shaxson, depois de passar por refúgios fiscais de segunda linha, a dinheirama que foge do Sul Global para escapar de impostos acaba no sistema financeiro da City de Londres e de Wall Street, em Nova York, turbinando as economias locais.
Siga o dinheiro
O estudo estima que os países ricos deveriam subsidiar a adaptação, mitigação e transição energética no Sul Global ao ritmo de U$ 1 a 1,5 trilhão de dólares por ano, para evitar futuras consequências com as quais teriam prejuízos muito maiores, uma vez que a crise climática não tem fronteiras.
Os autores explicam que com a taxação de 10% das famílias mais ricas do Norte Global, que são responsáveis hoje por 45% de todas as emissões de gases de efeito estufa, seria possível levantar de U$ 200 a 500 bilhões por ano.
Porém, é uma proposta difícil de concretizar, com o "globalismo" da ONU claramente na defensiva e a extrema-direita vencendo eleições com plataformas ultranacionalistas, que rejeitam soluções coletivas.
Cada um por si
O cada um por si ficou explícito na COP 29, sem a presença de delegações de altíssimo escalão dos Estados Unidos, França, Alemanha e União Europeia.
A conferência "estourou" o tempo sem um acordo, que deve sair, mas muito abaixo do que se desejava, nesta que foi batizada a "COP do financiamento".
Juan Carlos Monterrey Gómez, representante do Panamá, foi porta-voz do desânimo com a ideia de que os países ricos farão uma promessa muito abaixo da esperada:
O que precisamos é de pelo menos U$ 5 trilhões de dólares por ano, mas o que pedimos é apenas U$1,3 tri. Isso representa 1% do PIB global. Isso não deveria ser demais quando se fala em salvar o planeta em que todos vivemos. Temos contas na casa dos bilhões para pagar depois das secas e das inundações. O que diabos farão US$ 250 bilhões? Isso não nos colocará no caminho de 1,5°C. Mais como 3 graus [de aumento da temperatura].
1,5% de aumento de temperatura em relação ao período pré-industrial foi o fixado por cientistas como o limite a partir do qual a intensidade das tempestades vai disparar, um um desarranjo generalizado no clima.
Neste contexto do impasse em Baku, fica difícil exigir que países com o Azerbaijão, o Brasil e a Bolívia fixem um prazo para eliminar completamente sua produção de petróleo e gás.
Por isso, não muito longe de onde os negociadores estão reunidos na cidade, as bombas que sugam a terra continuam funcionando 24 horas por dia, para extrair petróleo e pagar as contas do país.